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Volks quer dominar carros elétricos com nova plataforma

01 de Fevereiro de 2019

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Sempre que um novo carro elétrico é anunciado, alguém pergunta se ele é capaz de “matar a Tesla”, já que a pioneira do Vale do Silício continua a ser a empresa a derrotar, em preço, estilo e poder das baterias.

A Volkswagen vem trabalhando em seu projeto para matar a Tesla desde o final de 2015. Mas o que ela propõe não é um carro elétrico, e sim o chassi ou plataforma subjacente conhecido como MEB, que servirá como base para a produção de 50 modelos diferentes, em 2025, promete a montadora alemã.

Alguns investidores e analistas acreditam que o chassi da Volkswagen, que será usado para a maioria de seus veículos elétricos, pode oferecer uma vantagem vital à companhia na nova era dos carros acionados por baterias.

“Essa plataforma é o coração e a alma de tudo que a Volkswagen está fazendo quanto ao futuro dos carros de passageiros”, disse Johannes Buchman, gerente da FEV Consulting, consultoria do ramo de automóveis.

“Não é só um princípio de design ou uma base para seus novos carros. O projeto tem impacto em toda a organização, em sua cadeia de suprimento e na qualidade industrial de seus produtos –afeta praticamente tudo.”

De todos os grupos automobilísticos tradicionais, a Volks está fazendo a aposta mais ousada, ao investir € 30 bilhões (R$ 126 bilhões) em carros elétricos só nos próximos cinco anos.

O foco do investimento é o MEB, um “chassi tipo skate” projetado exclusivamente para veículos elétricos, em lugar de ser uma plataforma para motor a combustão adaptada de forma a acomodar baterias.

É um projeto decisivo para fazer da Volkswagen a maior fabricante mundial de carros elétricos e repetir seu sucesso no mercado de motores a combustão, no qual há quatro anos consecutivos a montadora vem liderando as vendas de veículos no mercado mundial.

A Volkswagen fabricou mais de 50 milhões de carros, de 2012 para cá, usando a plataforma MQB para veículos com motor a combustão, distribuídos por suas 12 marcas, entre as quais Audi, ?koda e Seat.

As ambições para sua plataforma elétrica são ainda maiores, no entanto. A Volks espera que o novo chassi se torne o padrão setorial, da mesma forma que o VHS se tornou o padrão para as fitas de vídeo, de acordo com duas pessoas informadas sobre o plano.

A companhia está envolvida em negociações para fornecer o chassi a várias montadoras. Uma delas é a Ford, que confirmou a informação ao anunciar sua aliança mundial com a Volks no Salão de Detroit.

Por enquanto, essa parceria está centrada nos veículos comerciais leves. Mas analistas do banco Barclays dizem que é “evidente” e que haveria “benefícios substanciais” se a parceria fosse estendida para a construção de carros elétricos pela Ford usando o chassi da Volkswagen.

Isso poderia representar uma jogada inédita, já que, até esta década, as montadoras buscavam se distanciar de seus rivais ao desenvolver conjuntos motopropulsores próprios, abarcando o motor, transmissão e eixo de transmissão de um veículo.

Mas, na era emergente dos carros elétricos e conectados à internet, as baterias devem se tornar genéricas —como são nos celulares—, e o motorista provavelmente se interessará mais pela eletrônica e pelos recursos de informação e entretenimento do carro do que por sua potência.

“Se você não tiver de gastar tanto dinheiro na arquitetura [o chassi], pode redirecionar seus esforços para a eletrônica, para a experiência do usuário e para os sistemas autônomos”, disse Chris Borroni-Bird, ex-executivo da General Motors e da Waymo.

Borroni-Bird leva o crédito pela invenção do “chassi tipo skate”, no começo dos anos 2000. Foi isso que permitiu que a Tesla, a pioneira californiana dos carros elétricos, instalasse em seus carros baterias grandes com peso de até 600 quilos e oferecendo alcance de até 500 quilômetros.

Para a Volkswagen, o risco de arriscar tanto em uma aposta é muito grande. Se o carro elétrico não dominar o mercado, a Volkswagen terá de arcar com bilhões de euros em prejuízo. Se a empresa cometer um erro que precise ser consertado, o número de carros envolvidos no recall poderia ser imenso.

Licenciar o chassi elétrico a outras montadoras representa uma nova maneira de mitigar os riscos. Se a Volkswagen tiver sucesso nisso, o impacto poderia ser imenso.

Uma pessoa informada sobre o plano disse que a Volks dominaria o mercado de manutenção pós-venda, pois suas concessionárias controlariam as vendas de autopeças e serviços, caso o chassi elétrico se torne a referência do setor.

Além disso, o chassi elétrico estará acoplado a uma unidade de controle eletrônico que conecta o carro à Automotive Cloud, plataforma de computação em nuvem criada pela Volkswagen em parceria com a Microsoft, que permite que carros “conversem” uns com os outros.

Folha de S.Paulo - 01/02/2019

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