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Vinhaça: Novas tecnologias reduzem emissões de metano

09 de Agosto de 2017

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A adoção de novas tecnologias de transporte e armazenamento de vinhaça (principal resíduo da produção de etanol) pelas usinas tem contribuído para diminuir as emissões de gases de efeito estufa pela produção do biocombustível.

A constatação é de um estudo realizado por pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) e da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), em colaboração com colegas do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE).

Os resultados do estudo, realizado com apoio da FAPESP, foram publicados na revista Atmospheric Environment.

“O setor de produção de etanol tem adotado novas tecnologias para o transporte e armazenamento de vinhaça, o que têm contribuído para a redução das emissões de metano [principal gás de efeito estufa produzido pelo resíduo]”, disse Bruna Gonçalves de Oliveira, pós-doutoranda no Instituto Agronômico (IAC) com Bolsa da FAPESP e primeira autora do estudo, à Agência FAPESP.

Os pesquisadores quantificaram as emissões de metano pelos dois principais sistemas de armazenamento e transporte de vinhaça utilizados pelas usinas hoje: o tradicional, composto por canais abertos (valas) revestidos e não revestidos, e um método mais novo, formado por tanques e tubos fechados.

As análises dos dados comparativos indicaram que as emissões pelo sistema de tanques e tubos fechados foram 620 vezes menores do que pelo método de canais abertos.

“Essa diferença se deve às características que o sistema de armazenamento e transporte composto por tanques e tubulações apresenta. Transportar a vinhaça de um tanque para o outro por tubulações com elevada pressão pode oxigenar o produto, modificando as condições de anaerobiose [ausência de oxigênio] favoráveis à produção de metano”, explicou Oliveira.

Evolução dos sistemas

De acordo com a pesquisadora, que realizou doutorado no Cena-USP também com Bolsa da FAPESP, para produzir um litro de etanol de cana-de-açúcar são gerados, em média, 13 litros de vinhaça – um líquido originado da destilação fracionada do caldo da cana para obter o biocombustível.

A fim de reduzir os impactos ambientais causados pelo resíduo, que contém altas concentrações de matéria orgânica, potássio e sulfatos, a indústria do etanol no Brasil decidiu há aproximadamente 30 anos que a solução mais barata e simples seria descartar a vinhaça e aplicá-la diretamente em plantações de cana-de-açúcar, como fertilizante.

Para armazenar e transportar a vinhaça até as plantações, as usinas utilizaram inicialmente um sistema composto por canais abertos, revestidos ou não por uma manta plástica ou concreto, por meio dos quais o resíduo é transportado por gravidade e bombeamento até as plantações de cana.

Contudo, a quantidade de gases de efeito estufa, como o metano, emitido pela vinhaça nesse sistema de armazenamento e transporte não tinha sido quantificada e não é contabilizada nos inventários de gases de efeito estufa gerados na produção de etanol, ponderou Oliveira.

“Os balanços de gases de efeito estufa gerados na produção do etanol só levam em consideração as emissões na aplicação da vinhaça no campo”, afirmou.

A fim de obter essa estimativa, durante seu mestrado, realizado sob orientação de Brigitte Josefine Feigl, pesquisadora do Cena-USP e coordenadora do projeto, Oliveira quantificou as emissões de metano da vinhaça a partir do momento em que o resíduo saía de uma usina e era transportado para o campo por meio de um canal aberto com 40 quilômetros de extensão, cuja maior parte não tinha revestimento; apenas um pequeno trecho era revestido por cimento.

As análises indicaram que 98% das emissões totais de gases, como o metano, ocorriam durante o armazenamento e transporte da vinhaça por esse sistema de canais abertos.

“As emissões de nitrogênio durante a aplicação da vinhaça no campo, que são contabilizadas nos inventários, contribuíram com menos de 2% do total das emissões”, ponderou Oliveira.

(Fonte: Agência Fapesp - 09/08/17)

 

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