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Usinas reforçam estoques de etanol atentas à demanda

12 de Novembro de 2018

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Diante de um mercado de etanol extremamente aquecido desde o início do ano, as usinas reforçaram seus estoques no fim do último trimestre com a expectativa de que a demanda continue em alta na entressafra — que promete ser mais longa do que a última — e de preços mais remuneradores.

Nacionalmente, o volume de etanol (hidratado, que compete com a gasolina, e anidro, misturado ao combustível fóssil) estocado nas usinas do país no fim do segundo trimestre da safra 2018/19, em 30 de setembro, era 28,7% maior que um ano antes, com 10,955 bilhões de litros, segundo o Ministério da Agricultura. E as empresas de capital aberto foram ainda mais agressivas.

A Raízen Energia, joint venture entre Cosan e Shell e que operou nesta safra em 24 usinas, encerrou o último trimestre com 79,4% mais etanol que um ano antes, com 1,3 bilhão de litros. O Grupo São Martinho, com quatro usinas, começou o terceiro trimestre com 610,6 milhões de litros de etanol estocados, 34,8% de alta. Com nove usinas em atividade, sendo que uma foi vendida no meio do trimestre, a Biosev elevou seus estoques em 33,4%, para 459 milhões de litros.

O aumento dos estoques é resultado da decisão das companhias de maximizar a produção de etanol nesta temporada — já que o biocombustível foi mais remunerador que o açúcar — e da estratégia de carregar o produto para aproveitar os preços da entressafra, sazonalmente mais elevados.

A três empresas planejam vender esses volumes de maneira escalonada no terceiro e quarto trimestres da safra. “Temos perspectiva de preços melhores do que no primeiro e no segundo trimestre, o que corrobora nossa estratégia de vender nos próximos meses”, disse Philippe Casale, gerente de relações com investidores da Cosan em teleconferência com analistas.

Mas mudanças recentes no mercado de gasolina levantaram incertezas entre investidores e analistas quanto ao acerto dessa estratégia. Desde outubro, a Petrobras tem reduzido o preço da gasolina, refletindo o tombo do petróleo e o recente refluxo do dólar após as eleições no Brasil. Em outubro, o preço da gasolina A (nas refinarias) caiu 15,96%, e neste mês já cedeu mais 0,84%.

Essa pressão ainda não é vista com preocupação pelas usinas. “[O preço da gasolina]” sempre dá um teto para o etanol, então essa queda pode sim ter algum impacto no curto prazo, mas está em linha com nossa estratégia porque a demanda por etanol continua muito forte”, afirmou Casale. Em seu balanço, a Cosan estimou que preço médio do etanol (anidro e hidratado) em seus estoques seja de R$ 1.443 por metro cúbico, 9,7% acima do preço médio de um ano atrás.

A São Martinho também está otimista. A empresa avalia que o preço do etanol precisa subir 5% no segundo semestre desta safra em relação ao mesmo período do ciclo passado para resultar em um preço médio de venda na temporada de R$ 1,85 o litro, 7% acima do valor médio da safra 2017/18. “Não é um número agressivo, dada a dinâmica de preços de petróleo de lá para cá”, disse Felipe Vicchiato, diretor financeiro da São Martinho, a analistas.

Ele ressaltou que o etanol hidratado segue competitivo ante a gasolina e que há espaço para alta do preço do biocombustível mesmo que o fóssil não suba igualmente. “O preço está em 63% [da gasolina] nos principais mercados consumidores”, disse Vicchiato, indicando que a diferença poderia se aproximar dos 70% (patamar em que o etanol perde a vantagem competitiva), sem afetar a demanda.

O encerramento precoce da produção desta safra também pode ajudar a sustentar os preços, disse Juan José Blanchard, CEO da Biosev, ao Valor. “Não estamos percebendo que os preços [do etanol] deveriam cair muito mais. Muitas usinas fecharam a safra cedo como consequência de uma safra mais curta em decorrência da seca”, observou.

Valor Econômico - 11/11/18

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