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Usinas paradas respondem por 13% da capacidade de moagem

19 de Setembro de 2018

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Cresceu de forma significativa no país o número de usinas que está sem produzir uma gota sequer de etanol nem um grama de açúcar. Segundo levantamento da consultoria RPA feito a pedido do Valor, estão atualmente de portas fechadas 93 plantas, que juntas têm capacidade instalada de moagem de 98,9 milhões de toneladas de cana por safra. Há um ano atrás, foram identificadas 76 usinas fora de operação.

O número atual representa 21% das 443 unidades instaladas no país. Em termos de capacidade instalada de processamento de cana, as usinas paradas representam 13% - em relatório divulgado em maio, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) informa que, conforme o Ministério da Agricultura, a capacidade total chega a 744 milhões de toneladas. São Paulo, que abriga o maior polo sucroalcooleiro do país, é também onde está o maior número de usinas paradas - são 36. Alagoas e Minas Gerais empatam em segundo lugar nesse ranking, com nove unidades cada.

O aumento da ociosidade do parque sucroalcooleiro do país decorre sobretudo da falta de investimentos nos canaviais do Centro-Sul, segundo Ricardo Pinto Arruda, sócio da RPA. Quando não há aportes para a troca de pés de cana, as plantas envelhecem, tornam-se cada vez menos produtivas e a atividade industrial fica mais cara. A ponto de muitas empresas optarem por desativar suas caldeiras e arrendar áreas agrícolas ou fecharem contratos de fornecimento de cana para usinas próximas.

Foi o que aconteceu neste ano com uma usina do Grupo Furlan em Santa Bárbara D'Oeste, no interior paulista. Em vez de moer 1 milhão de toneladas de cana de suas lavouras na própria planta, a companhia vendeu seus canaviais para usinas vizinhas da Raízen Energia e da São Martinho.

Em muitos casos, uma usina parada não significa necessariamente que sua controladora está em más condições financeiras. Tanto que a maior parte das unidades de portas fechadas não está nem em recuperação judicial, nem falida - são 46 unidades, segundo a RPA, que juntas têm capacidade para moer 49,75 milhões de toneladas por safra, ou metade de toda a capacidade instalada que está em operar. Entre os exemplos mais notórios estão duas usinas da Raízen no interior paulista - em Araraquara e no município de Dois Córregos.

 Outro exemplo é a Usina Costa Bioenergia, que pertence ao grupo Santa Terezinha e está situada em Umuarama, no Paraná. A companhia suspendeu as atividades da planta no início deste ano e remanejou a cana disponível na região para outra de suas usinas, situada em Ivaté (PR).

Ainda conforme a RPA, há 25 usinas paradas que são de grupos em recuperação judicial, que juntas têm capacidade para processar até 24,9 milhões de toneladas de cana por safra. Nessa lista está a Usina Revati, em Brejo Alegre, no interior paulista. A unidade pertence à Renuka do Brasil, que preferiu manter em operação apenas a Madhu, localizada em Promissão, também em São Paulo, enquanto espera o encaminhamento do leilão da Revati. Outra que não ligou as caldeiras em 2018/19 é a Usina Campestre, de Penápolis (SP). A planta é da Clealco, que pediu proteção contra os credores este ano.

A lista de usinas de empresas falidas que estão sem operar é um pouco menor. São 22 unidades paradas, com capacidade total para processar até 24,2 milhões de toneladas de cana por temporada. Nesse rol, a debacle mais recente é a da Alta Paulista, em Junqueirópolis (SP), pertencente ao Grupo Silveira Barros.

Para analistas e executivos do segmento, a reativação dessa parcela do parque sucroalcooleiro do país que está ocioso enfrenta obstáculos. Para retomar a moagem em uma usina, é preciso ter cana suficiente para operá-la, o que depende de investimentos nas lavouras - que demoram até um ano e meio para começar a fazer efeito. E, em meio a uma safra com a atual, marcada por preços de açúcar que mal oferecem margem aos produtores, a tendência é que um aumento dos investimentos no campo fique mais para frente.

E nem todas as usinas paradas voltarão a operar. Para Arruda, da RPA, cerca de 49% da capacidade hoje inutilizada não deverá ser retomada. "São usinas que estão sendo desmontadas ou abandonadas há muito tempo, ou têm escala pequena, e a cana do entorno já foi absorvida por usinas maiores da região", disse.

Valor Econômico - 19/09/2018

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