05 de Outubro de 2017
Notícias
Ferrenhas defensoras da taxação das importações de etanol neste ano, as usinas do Nordeste e do Norte esperam agora colher como fruto dessa pressão uma melhor remuneração pela produção do biocombustível, que deverá crescer nesta temporada 2017/18 também impulsionada pela expectativa de uma rápida implementação do RenovaBio.
Algumas usinas do Rio Grande do Norte e da Paraíba começaram suas operações já em setembro, mas é nesta semana que as unidades de Pernambuco e Alagoas, que respondem por 66% da produção das duas regiões, estão começando a ligar as máquinas.
Desde que a Câmara de Comércio Exterior (Camex) acatou a proposta de isentar de imposto de importação apenas uma cota de 150 milhões de litros por trimestre, taxando o excedente em 20%, as usinas passaram a trabalhar com um cenário mais previsível para o mercado, diz Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar de Pernambuco, principal entidade do segmento nas regiões Norte e Nordeste.
O estabelecimento da cota, afirma, garantiu um limite para a oferta de etanol importado, o que impedirá que a região seja surpreendida com navios encostando no litoral com cargas e mais cargas do biocombustível a preços bem mais competitivos que os da produção local, como aconteceu ao longo da safra 2016/17.
Antes do estabelecimento da cota, as usinas da região temiam uma repetição da prática neste novo ciclo.
Agora, o Sindaçúcar/PE estima que as usinas das duas regiões produzirão nesta safra 1,8 bilhão de litros de etanol, ante 1,6 bilhão de litros na safra passada – um aumento de 12,5%.
Afora a taxação, Cunha projeta essa alta também motivado pelo RenovaBio, que promete assegurar ainda mais previsibilidade para a participação do etanol na matriz energética brasileira. O programa, entretanto, ainda está parado na Casa Civil.
A maré mais "alcooleira" no Norte e Nordeste acompanha a recente tendência no Centro-Sul, onde as usinas passaram a ver mais vantagem em produzir etanol depois que o governo alterou as alíquotas de PIS/Cofins, o que melhorou a competitividade do biocombustível nos postos.
Se as usinas do Norte e do Nordeste mantiverem a aposta no etanol, poderão até se beneficiar de uma possível alta dos preços nos próximos meses, quando as unidades do Centro-Sul – que já têm um perfil mais alcooleiro – estarão em entressafra, observa João Paulo Botelho, analista da consultoria INTL FCStone.
Além desses fatores, o etanol também tem a vantagem para as usinas de oferecer mais liquidez que o açúcar – ponto importante para aquelas que estão com uma situação de caixa mais apertado.
É certo, porém, que a nova dinâmica do mercado de combustíveis, da qual o etanol vem se beneficiando, não será o único fator para garantir esse avanço de produção. A própria safra de cana, que no ciclo passado foi fortemente afetada pela falta de chuvas, também deverá crescer. O Sindaçúcar/PE calcula uma moagem de 44 milhões de toneladas, 4,7% a mais que o total processado na última temporada.
O desenvolvimento das lavouras nos últimos meses ocorreu sob poucas adversidades climáticas, e as previsões de tempo firme durante o dia e chuvas noturnas indicam condições ideais para que a cana alcance rapidamente o ponto de utilização industrial.
Apesar da perspectiva de recuperação, o volume ainda deverá ser muito inferior ao observado em anos recentes, quando a moagem na região chegou a 61 milhões de toneladas.
Da mesma forma, o volume de etanol esperado para esta safra ainda está distante do potencial, avalia Cunha. Para ele, as duas regiões poderão produzir 2,3 bilhões de litros de etanol na temporada 2019/20 se o mercado continuar favorável. A produção já foi melhor no passado: chegou a 2,28 bilhões de litros em 2014/15.
Além disso, por mais alcooleira que seja a produção do Norte e do Nordeste, o volume ainda muito aquém do que se produz no Centro-Sul, que deve encerrar esta safra com volume de 24 bilhões e 25 bilhões de litros, segundo as principais projeções do mercado.
Essa tendência mais alcooleira deverá limitar a fabricação regional de açúcar, embora com diferença pouco relevante ante a safra passada. A estimativa do Sindaçúcar é que a produção seja reduzida em 3,2%, para aproximadamente 3 milhões de toneladas.
(Fonte: Valor Econômico – 05/10/17)
Veja também
24 de Abril de 2024
Evento do MBCB destaca potencial da descarbonização da matriz energética brasileiraNotícias
24 de Abril de 2024
WD Agroindustrial promove intercâmbio cultural em aldeia indígena para celebrar o dia dos povos origináriosNotícias
24 de Abril de 2024
Raízen encerra safra 2023/24 com moagem recorde de 84,2 milhões de toneladasNotícias