29 de Abril de 2020
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Passadas duas semanas após o segmento sucroalcooleiro formalizar ao governo federal o pedido de três medidas de socorro às usinas, a iniciativa com mais chances de se concretizar é a criação de uma linha de financiamento para estocar etanol. Já as demandas que preveem mudanças em tributos encontram resistência no Ministério da Economia, conforme apurou o Valor.
De qualquer forma, a criação da linha de crédito é considerada muito importante pelas empresas da área. Em "live" promovida nesta segunda-feira pelo Valor, Luis Henrique Guimarães, presidente da Cosan --- que em parceria com a Shell controla a Raízen, que atua no segmento na distribuição de combustíveis e é também a maior empresa sucroalcooleira do país ---, afirmou que a medida poderá equilibrar melhor o mercado ante a atual forte retração da demanda.
Para o executivo, deslocar 6 bilhões de litros de etanol para serem vendidos posteriormente, a preços melhores, "já equilibra o mercado neste início de safra". As conversas para a construção dessa linha já chegaram no BNDES e no Banco do Brasil, e a ideia é também envolver bancos privados nas operações.
Dentre os bancos privados, já houve contatos com o Bradesco, apurou o Valor. Até o momento, porém, a possibilidade de participação da concessão de crédito para financiar estoques de etanol ainda não foi apresentada à maior parte das instituições privadas que atende o segmento, segundo fontes.
No BNDES, o pedido das usinas entra em uma fila de reivindicações setoriais que tem na frente outros setores da economia mais afetados que o sucroalcooleiro, como aviação e automotivo, este um dos que mais empregam no país. Mas o segmento sucroalcooleiro está com endividamento elevado e quase 100 usinas em recuperação judicial.
Uma fonte afirmou que muitas empresas de açúcar e etanol já correram em abril para garantir operações de crédito para financiar estocagem de biocombustível e ter capital de giro, o que colaborou para desembolsos recorde ao agronegócio em ao menos um dos bancos. Em outros dois bancos, porém, a demanda tem sido prioritariamente para o alongamento de financiamentos já existentes, com pouco crédito novo sendo liberado.
Entre fontes do mercado, a percepção é que essa nova linha para estocagem só terá efeito se de fato chegar às usinas em maior dificuldade financeira, que são justamente as que tendem a vender com pressa para gerar caixa, distorcendo os preços enquanto outra parte das empresas, mais capitalizada, consegue segurar as vendas. O problema é que é esse grupo de usinas em dificuldade tem sido barrado nas análises de crédito dos bancos.
Outro receio é com a demora das operações. Na última vez em que uma linha com esse propósito esteve disponível no BNDES, a concessão efetiva dos recursos demorou até seis meses para chegar ao tomador, um prazo que, agora, esvaziaria o objetivo de enxugar a oferta imediata, segundo uma fonte.
Já as mudanças na área tributária pedidas pelo segmento para garantir a competitividade do etanol ante a gasolina não têm encontrado eco no Ministério da Economia.
Embora uma postergação do pagamento de PIS e Cofins sobre o etanol e um aumento da Cide sobre a gasolina contem com apoio do Ministério da Agricultura e dependam de um decreto presidencial, a Economia costuma dar o aval às medidas. E, segundo interlocutores, a Pasta não parece disposta a apoiá-las.
Ao Valor, o Ministério da Economia informou que "não comenta medidas em análise ou que ainda não são públicas" e que "o grupo de monitoramento da crise relacionada à covid-19 está analisando alternativas para reduzir os impactos da pandemia para o setor produtivo e para o setor público em suas diversas esferas, com o objetivo de preservar especialmente a população mais vulnerável".
Na "Live do Valor" desta segunda-feira, o presidente da Cosan disse que o aumento da Cide sobre a gasolina seria uma medida "temporária" para preservar a competitividade do etanol, "dado o atraso no RenovaBio" --- política que incentiva os biocombustíveis por suas vantagens ambientais.
O sistema da B3 de registro de negociações de Créditos de Descarbonização (CBios) --- que poderão compensar o efeito da queda da gasolina nas vendas de etanol --- começou a operar nesta segunda-feira. Mas as metas de compras de CBios (criados no âmbito do RenovaBio) pelas distribuidoras serão revisadas e submetidas à consulta pública, confirmou na semana passada o Ministério de Minas e Energia (MME). Colaborou Rafael Walendorff, de Brasília)
Fonte: Valor – 27/04
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