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Usinas de cana-de-açúcar voltam a investir na lavoura

10 de Maio de 2017

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Depois de reduzir o replantio e manutenção dos canaviais nas últimas safras, investindo em torno de R$ 5 bilhões por ciclo – metade do valor considerado ideal –, as usinas ensaiam neste ano retomar com maior força os investimentos na lavoura. Na expectativa do diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antônio de Pádua Rodrigues, a área de canaviais sob reforma deverá experimentar um incremento em torno de 30% na safra 2017/2018, superando a marca de 1 milhão de hectares.

Em grandes números, o replantio e manutenção da lavoura demandará das usinas um investimento pouco acima de R$ 7,0 bilhões, aproximando-se dos níveis considerados ideais para sustentar a estabilidade dos canaviais e preservar a sua produtividade.

"O setor teria que investir em torno de R$ 10 bilhões para fazer a reforma de aproximadamente 1,5 milhão de hectares por ciclo e ter canaviais bem equilibrados, que permitam cinco colheitas sem que a produtividade média sofra impactos mais severos" acrescenta Pádua.

A melhora nos preços do açúcar e do etanol contribuiu para construir um novo equilíbrio econômico-financeiro para as indústrias do setor, o que explica a recuperação relativa agora em curso.

O preço médio do etanol voltou a ser remunerador, as cotações do açúcar voltaram a subir diante do déficit na oferta global e a queda do dólar contribuiu para estancar o endividamento das indústrias, na avaliação de Pádua, estimulando as usinas a recuperar as áreas de lavoura, o que implica, além do investimento no campo em si, a compra de tratores, implementos e outras máquinas. Mantida a tendência e um ambiente menos hostil aos negócios do setor, Pádua estima que em três ou quatro safras será possível colher pelo menos 60 milhões de toneladas de cana a mais na mesma área plantada atualmente, próxima a 10,0 milhões de hectares na região Centro-Sul.

Para comparação, isso significaria ampliar a colheita para qualquer coisa próxima a 660 milhões de toneladas naquela região, em um avanço de 10% frente a quase 600 milhões de toneladas esperadas pela Unica para a safra 2016/2017, encerrada oficialmente no dia 31 de março deste ano.

Ainda à espera de dados finais para o ciclo recém-concluído, Pádua estimava uma produção total, incluindo o Norte e Nordeste, de aproximadamente 650 milhões de toneladas de cana, cerca de 2% menor do que as 666,8 milhões colhidas em 2015/2016 em todo o País.

"A produção deve ter retornado aos níveis de 2013/2014", diz Pádua. Naquela safra, as usinas processaram 652,96 milhões de toneladas, segundo dados da Unica. As estimativas antecipadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam uma produção de cana de 657,2 milhões de toneladas no ciclo 2016/2017, projetando uma colheita de 647,6 milhões de toneladas para a safra 2017/2018, num recuo de 1,5%.

A produção total de etanol, ainda de acordo com o diretor da Unica, deve atingir 27,8 bilhões de litros, embutindo retração em tomo de 8% na comparação com os 30,2 bilhões de litros produzidos na safra anterior, num recorde na série histórica da entidade. "A safra 2016/2017 foi mais açucareira" anota ele. Nas contas de Bruno Cestaro, gerente para a área de trading do grupo Delta Energia, em torno de 46% da cana foram destinados à produção de açúcar diante de 40% no ciclo 2015/2016.

Sua projeção sugere que 47% da cana a ser colhida no ciclo 2017/2018 deverá ter como destino a produção de açúcar, diante dos preços mais atraentes do produto no mercado internacional.

Segundo análise do BTG Pactual, nas safras 2015/2016 e 2016/2017, que se encerra em setembro no Hemisfério Norte, são esperados déficits de 7,565 milhões e de 6,489 milhões de toneladas, correspondendo a 3,7% do consumo global de açúcar, o que deverá sustentar os preços médios por libra peso ao redor de 20 centavos de dólar, em torno de 51,5% mais elevados do que os valores médios observados em 2014/2015.

Diante do aumento no consumo da gasolina C e da redução nas vendas de etanol hidratado, prossegue Cestaro, as usinas vêm alterando o mix de produção, abrindo maior espaço para o anidro. A participação do hidratado na produção total de etanol, diz ele, recuou de 62% na safra 2015/2016 para 59% na seguinte e tende a cair até 55% em 2017/2018, com a fatia do anidro avançando de 38% para 41 % e daí até 45%.

Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), as vendas da gasolina C, que recebe o anidro em sua composição, aumentaram 4,6% no ano passado, evoluindo de 41,1 bilhões para 43,0 bilhões de litros, enquanto o consumo de hidratado encolheu 18,3%, de pouco menos do que 17,9 bilhões para quase 14,6 bilhões de litros.

 No primeiro bimestre deste ano, a tendência ainda se mantinha, com alta de 7,1% nas vendas da gasolina C, para 7,27 bilhões de litros, e baixa de 25,7% para o hidratado, saindo de 2,35 bilhões para 1,75 bilhão de litros no acumulado entre janeiro e fevereiro de 2016 e deste ano.

(Fonte: Revista Safra (1) – 09/05)

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