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Tombo do petróleo golpeia usinas

10 de Março de 2020

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As empresas que atuam no segmento sucroalcooleiro e tem ações negociadas na B3 perderam ontem R$ 6,5 bilhões em valor de mercado na bolsa diante do “crash” do petróleo e das incertezas sobre os rumos da guerra por participação de mercado declarada pela Arábia Saudita. A queda dos preços do petróleo tende a baratear a gasolina no mercado doméstico e tirar competitividade do etanol nos postos.

A Cosan, que tem 50% de participação na Raízen, maior produtora de etanol do Brasil, viu suas ações recuarem 9,17% e, com isso, seu valor de mercado diminuir em R$ 2,5 bilhões. As perdas foram amortecidas por novos investimentos anunciados pela companhia em energia e gás, durante evento pela manhã.

No caso do Grupo São Martinho, a baixa dos papéis chegou a 32,36%, e o valor de mercado da empresa encolheu em R$ 3,1 bilhões. Já as ações da Biosev, controlada pela Louis Dreyfus Company (LDC), registraram queda de 20,29%, e a perda de valor ficou em R$ 858 milhões no dia. Ainda assim, os papéis da Biosev são os únicos de empresas de agronegócios a acumularem alta na bolsa este ano.

Embora traders e executivos de usinas concordem que ainda seja cedo para estimar o nível de pressão da queda do petróleo sobre os preços internos da gasolina - e, consequentemente, na competitividade do etanol nas bombas -, é certo que o consumo do biocombustível tende a ser prejudicado em algum grau. Além da queda do petróleo, que pode voltar a atrair os motoristas para o consumo de gasolina, o mercado também pode eventualmente sofrer com a pressão do coronavírus na atividade, afetando a demanda do ciclo Otto.

A incerteza levou as usinas e distribuidoras a paralisarem ontem as vendas de etanol, à espera dos próximos movimentos da Petrobras. Embora exista apreensão quanto ao tamanho do corte de preços que a estatal realizará na gasolina A (pura, vendida às distribuidoras), executivos de usinas avaliam que há outros fatores que podem “filtrar” uma transmissão total desse corte, como a posição das distribuidoras e dos governos. “Tem a questão fiscal, do orçamento dos governos”, afirmou Mario Lorencatto, presidente da Usina Coruripe.

Além disso, o mercado consumidor ainda não sentiu o efeito das reduções feitas desde o início do ano. Enquanto a Petrobras já baixou a gasolina A em 12,2% em 2020 (ou R$ 0,2357 o litro), o preço médio da gasolina C (com etanol anidro, vendida nos postos) caiu 0,6%, ou R$ 0,027 o litro. Se absorver todos cortes já feitos, a gasolina C ainda teria que cair ao menos R$ 0,05 por litro, diz Bruno Lima, da consultoria INTL FCStone.

O etanol já vinha perdendo competitividade. Na semana encerrada no dia 7, o litro do etanol só ficou abaixo de 70% do preço da gasolina (patamar de paridade entre os dois combustíveis) em Mato Grosso, diferentemente dos últimos meses, em que registrava vantagem em São Paulo e em Minas, segundo a ANP.

A situação dos grupos sucroalcooleiros não deverá ser tão dramática dada a estratégia que muitos adotaram de fixar os preços do açúcar para a safra 2020/21 e até mesmo para 2021/22, aproveitando as recentes desvalorizações cambial e alta da commodity em Nova York. Até 29 de fevereiro, 78% do açúcar a ser embarcado na próxima safra estava (15,3 milhões de toneladas) com preço médio fixado em R$ 1.313 a tonelada (acima do custo médio de produção), segundo a Archer Consulting.

Com boa parte das vendas de açúcar contratadas e diante do derretimento do petróleo, a tendência é que a próxima safra seja ainda mais açucareira do que o esperado. Em coletiva da Cosan, o executivo Ricardo Mussa, vice-presidente da Raízen - e que assumirá como CEO em 1º de abril -, avaliou que o Brasil poderá elevar a oferta de açúcar em até 6 milhões de toneladas, após ter reduzido o volume em 10 milhões de toneladas nas últimas duas safras.

Apesar do açúcar ter pegado carona ontem do debacle dos ativos globais, com os contratos para maio aprofundando perdas desde o início do mês que já somam 8,7%, ou 120 pontos, a remuneração esperada para esse papel na data de vencimento, considerando a atual curva do dólar, indica uma vantagem de R$ 0,10 por litro acima dos preços esperados para o etanol hidratado também em maio, segundo a INTL FCStone.

 

Fonte: Valor Econômico -10/03

 

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