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Tereos reduz custo e se adapta ao novo perfil de consumo de açúcar

26 de Março de 2019

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Há dois anos navegando em meio a preços historicamente baixos do açúcar, o grupo francês Tereos, que alcançou a segunda posição no ranking global de produção da commodity na safra passada (2017/18), com 5,3 milhões de toneladas, deu início no ciclo atual (2018/19) a mudanças tanto em sua estrutura produtiva como na comercialização. Com a estratégia em curso, a empresa, com forte presença no Brasil, quer obter uma redução de custos de € 200 milhões até 2022 e busca se ajustar à nova geografia de consumo do adoçante.

O objetivo dos investimentos que estão sendo feitos para isso, de valor não revelado, é garantir a competitividade das operações em um momento em que "a queda dos preços [do açúcar] demanda esse tipo de esforço", afirmou Alexis Duval, CEO global da Tereos, ao Valor. Para financiar os aportes, a Tereos, que faturou € 5 bilhões na safra 2017/18, continua estudando a possibilidade de abrir capital, já apresentada em assembleia de acionistas em 2018. Um estudo sobre um IPO segue em andamento e sua conclusão deverá ser apresentada aos acionistas na próxima assembleia, em junho.

Um dos pontos centrais do plano prevê o ingresso da estrutura produtiva da companhia - hoje composta de 49 fábricas espalhadas por 13 países - na quarta revolução industrial ("indústria 4.0"), que deverá responder por 15% da meta de redução de custos. A digitalização da estrutura produtiva se somará a outras mudanças que já vem sendo adotadas. Uma delas é a implantação de sensores nas usinas para captar informações, que posteriormente poderão ser analisadas para melhorar o desempenho industrial. Outra é o uso de inteligência artificial capaz de complementar informações posteriormente interpretadas por equipes especializadas para auxiliar trabalhadores do chão de fábrica. Segundo Duval, os aportes em digitalização já realizados garantem economias da ordem de R$ 100 milhões a R$ 150 milhões anuais.

Embora de DNA francês, a Tereos elegeu o Brasil para abrigar seu polo global de inovação. O país hoje representa cerca de 20% da receita global da companhia, pouco atrás dos 26% de participação da França. As novas tecnologias serão testadas em uma das oito plantas da companhia no país e depois serão "exportadas" às demais unidades no mundo. Mudanças na área agrícola também estão em curso para elevar a produtividade. No Brasil, a companhia francesa ambiciona alcançar uma produtividade de 100 toneladas de cana colhidas por hectare, ante uma média nacional inferior a 80 toneladas por hectare.

Além de reduzir custos e melhorar a produtividade, a aposta na digitalização também visa a aperfeiçoar a qualidade de produtos e processos - nesse sentido, Duval destaca a economia de água, por exemplo. Mas os ajustes da Tereos em sua organização não são apenas "da porta para dentro". A companhia também está engendrando esforços para se adaptar às transformações da demanda por açúcar, que tem diferentes perfis em cada região do globo.

"De modo geral, o consumo de açúcar no mundo está caindo. Isso tem duas consequências: temos que saber como atender ao novo perfil de demanda dos consumidores em mercado tradicionais e como vender para os mercados que estão crescendo. Por isso, a exportação deve ser mais importante do que no passado", explicou. Em 2018, a Tereos abriu escritórios comerciais no Vietnã e na África do Sul, um ano depois de ter inaugurado representações no Quênia e na Índia. Neste ano, a ordem é continuar a expandir rede comercial com foco na Ásia e na África, que são as regiões onde o consumo tende a continuar em expansão.

A participação da Tereos na comercialização global de açúcar ainda é pequena, se comparado ao tamanho da empresa no mundo da produção. Na safra passada, a recém-criada Tereos Commodities, braço de trading da companhia, comercializou 1,5 milhão de toneladas de açúcar, ou apenas 2,5% do comércio global. Com o início da parceria com a operadora ferroviária VLI no Brasil, a empresa espera aumentar sua fatia no mercado internacional de açúcar bruto "no médio prazo", disse Duval.

Já nos mercados mais desenvolvidos, como a Europa, onde os consumidores estão buscando substitutos naturais para o açúcar, o plano da Tereos não é virar as costas, mas buscar atender ao novo perfil da demanda. "Antes, a escolha por produtos naturais era só uma questão de custo para os consumidores. Mas em três a quatro anos, as coisas mudaram", afirmou o executivo.

Mesmo em mercados emergentes o grupo quer se aproximar dos consumidores para atender à demandas específicas. Atualmente, a Tereos conta com laboratórios no mundo nos quais realiza testes de novas receitas e produtos em conjunto com as indústrias de alimentos que atende. São três laboratórios, um na Europa e dois na Ásia. E, conforme Duval, "provavelmente em 2020" a companhia abrirá seu quarto laboratório, no Brasil.

O executivo acredita que os baixos preços de açúcar não serão eternos, mas avalia que é preciso mais de um ano com déficit de oferta para justificar investimentos em capacidade produtiva. Sua principal expectativa para o mercado, agora, é com o RenovaBio no Brasil, que pode dar direcionamento não apenas ao mercado de etanol no país, mas também ao de açúcar, observou.

Valor Econômico - 26/03/2019

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