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Tensão comercial volta a afetar preços de mercados emergentes

24 de Maio de 2019

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A perspectiva de uma disputa comercial mais prolongada entre Estados Unidos e China voltou a cobrar pedágio de ativos de risco em todo o mundo, resultando em perdas quase generalizadas na classe de emergentes. No Brasil, o tombo só não foi maior porque o cenário político está mais calmo agora e limitou a busca por proteção.

O dólar comercial fechou em alta de 0,18%, aos R$ 4,0475. A desvalorização do real foi mais modesta que a de outras divisas emergentes e ligadas à commodities. O rublo russo e o rand sul-africano tiveram baixa próxima de 0,60%, enquanto o peso colombiano perdeu 0,83%.

Na renda variável, o Ibovespa fechou em queda de 0,45%, aos 93.937 pontos. Se medido em dólares, o índice brasileiro caiu 1,18%. Já a bolsa da África do Sul perdeu 2,21% e a da Rússia cedeu 1,34%, também considerando a variação da divisa americana.

A nova rodada de perdas nos mercados veio com a percepção de que um acordo comercial entre Estados Unidos e China ainda deve exigir bastante tempo de negociação. A preocupação com os efeitos nocivos da disputa sobre a atividade global derrubou o preço do petróleo - o WTI registrou queda de 5,71%, aos US$ 57,91 por barril.

Todo esse contexto lá de fora atingiu em cheio as ações da Petrobras, que teve seus papéis preferenciais entre os mais negociados no mercado à vista, com recuo de 1,71% no fechamento, aos R$ 25,84. Petrobras ON cedeu 1,74%, a R$ 28,27. "Além de um cenário de aversão ao risco, aqui a Petrobras foi diretamente afetada por essa desvalorização do petróleo, o que fez suas ações caírem o dia todo", diz o analista de investimento Pedro Galdi, da Mirae Asset. "Não houve espaço para melhora."

 Além das questões envolvendo Estados Unidos e China, a possibilidade de renúncia da premiê do Reino Unido, Theresa May, que luta para se manter no cargo após o conturbado processo de desligamento da União Europeia, também entrou no radar. Acredita-se que, caso ela deixe o cargo, um novo líder queira uma separação mais decisiva, aumentando as chances de conflito com os demais países do bloco.

"Vimos uma contaminação generalizada por conta de todo esse cenário global especialmente complicado. Isso deixa o investidor inseguro em qualquer parte do mundo", afirma Galdi.

O motivo para alguma resistência dos ativos brasileiros, entretanto, veio da distensão do cenário em Brasília. Após dias de atrito com o governo, parlamentares destravaram a lista de Medidas Provisórias (MPs) que corriam o risco de caducar, entre elas a do setor aéreo e a da reforma administrativa.

O alívio com a política permitiu que o mercado de renda fixa voltasse o foco para a discussão sobre possíveis cortes de juros no Brasil. "Existe muita discussão sobre a atividade fraca pesando sobre as próximas decisões do Copom", afirma Matheus Gallina, operador da Quantitas. "O mercado sabe que a condição necessária para que se tenha queda de juros é o andamento da reforma da Previdência e isso parece que está acontecendo."

Nesse ambiente, as taxas dos contratos de DI tiveram queda em todos os vencimentos. O juro do DI para janeiro de 2020 encerrou o pregão regular em 6,385%, de 6,405% no ajuste anterior, e a taxa do DI para janeiro de 2025 desceu a 8,57%, de 8,60%.

Vale dizer, entretanto, que o avanço da pauta no Congresso não correu sem recados ao governo. Ao concluírem a votação da MP 870, que reorganizou a Esplanada dos Ministérios, os deputados mantiveram as 22 pastas propostas pelo Executivo, mas oficializaram a transferência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para o guarda-chuva da Economia. A medida contraria os interesses do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

De acordo com Carlos Pedroso, economista sênior do MUFG, o patamar de R$ 4,10 no qual o dólar começou a semana se mostrava muito elevado e de alto risco para investidores que mantêm posições compradas em moeda estrangeira. "O investidor usou essas notícias mais positivas para desmontar posições", diz. Esse ajuste, no entanto, tem limites, continua Pedroso. "Não vejo força o suficiente para que esse movimento faça o câmbio cair abaixo de R$ 4,00. Devemos trabalhar com esse patamar até termos mais clareza sobre o desfecho da proposta da Previdência na comissão especial."

Relator da reforma na comissão, o deputado Samuel Moreira (PSDB-RJ) pretende apresentar o parecer até 15 de junho. O tucano tem reiterado que pretende manter o impacto fiscal da proposta em torno de R$ 1 trilhão.

"O mercado está vivendo o dia a dia, com atenção concentrada na dinâmica da cena política, tentando avaliar quais são as vitórias significativas para o governo", diz Fernando Barroso, diretor da CM Capital Markets. Para ele, o Ibovespa passou por uma recomposição de preços, depois de operar abaixo de 90 mil pontos, mas agora pede novos avanços em Brasília para retomar a tendência de alta. "Agora, o mercado deve dar uma parada e ver agenda de curto prazo", diz.

Valor Econômico - 24/05/2019

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