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Tanque cheio, consciência limpa

22 de Janeiro de 2020

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O mineiro abraçou de vez o etanol. A mudança de comportamento do consumidor, que tem perdido o preconceito e optado cada vez mais por esse combustível, pode ser medida em números. Só em outubro de 2019, foram consumidos 295,4 milhões de litros de etanol hidratado em Minas, o maior volume mensal registrado no estado, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Em 2018, o produto registrou recorde de produção dos últimos 20 anos. Apesar de fazer bem ao meio ambiente, o que tem puxado o aumento no consumo é, sobretudo, financeiro.

“Houve uma política inteligente por parte do governo que possibilitou, ao longo dos últimos anos, uma inserção dos biocombustíveis no dia a dia dos mineiros. A redução do ICMS foi fundamental: em 2010, era de 25% e, desde abril de 2015, está na casa dos 16%. Atualmente, Minas tem a segunda menor alíquota do Brasil, perdendo apenas para São Paulo, que é de 12%”, explica Mário Campos, presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig). Segundo ele, o investimento em infraestrutura e o pujante mercado interno também foram fundamentais para a guinada.

“De 2003 para cá, foram construídas mais de 20 usinas. Hoje são 34 e mais duas estão para serem reativadas. Também reunimos a segunda maior frota de carros do país. Para atender essas pessoas, nada melhor que produzirmos o combustível dentro do estado”, analisa.

Transformar a cana-de-açúcar em energia elétrica e combustível parece ser realmente a vocação mineira. “Hoje, estamos atrás apenas de São Paulo, o maior produtor de etanol do Brasil, e de Goiás. A região do Triângulo Mineiro, que concentra a maior parte de nossa produção, é uma espécie de prolongamento de Ribeirão Preto e redondezas. Temos ambiente muito propício ao crescimento do segmento nessa região”, acredita Campos.

A descentralização do mercado produtor, aliás, é outro ponto de destaque. “Produzimos principalmente no interior do Brasil, atrelados ao agronegócio. Para o etanol, temos a cana-de-açúcar como principal matéria-prima (95%). No caso do biodiesel, mais de 90% é produzido a partir de soja, sendo também possível produzir a partir de sebo bovino e resíduos de animais. Podemos dizer que há uma aliança entre o que chamamos de agricultura alimentar e agricultura energética”, diz.

Outro ponto é a geração de emprego. “Apesar de haver muita tecnologia envolvida, somos um segmento muito empregador. Operações agrícolas, de plantio e colheita, distribuição, logística e venda geram oportunidades de trabalho, principalmente no interior”, aponta Campos.

O etanol também teve papel preponderante na reação à crise econômica. “Em dezembro deste ano, chegamos ao 19º mês em que o etanol se mostra mais competitivo que a gasolina. Se fizermos uma conta, ao optar pelo etanol hidratado, o mineiro já economizou cerca de R$ 1 bilhão nesse período”, analisa.

Além dos números animadores, parte do otimismo que contagia o setor se deve à aprovação da nova Política Nacional de Biocombustíveis, batizada de RenovaBio, que entrou efetivamente em vigor em 24 de dezembro. Instituída pela Lei 13.576/2017, a norma tem como principal objetivo ampliar a participação dos biocombustíveis na matriz de transportes nacional. “O Brasil, ao contrário de outros países, pode explorar os biocombustíveis e diminuir carbono. É uma oportunidade de ser protagonista e contribuir para a redução dos poluentes”, espera Mário Campos. “Nosso grande desafio agora é provar para os brasileiros e para o mundo que biocombustíveis e eletrificação de motores não são caminhos excludentes”, afirma.

Quem também tem se preocupado com esse movimento são as montadoras. É o caso da Fiat Chrysler Automobiles (FCA), que comemorou os 40 anos do primeiro carro movido a etanol no mundo em 2019. Agora, a FCA está se preparando para mais um avanço tecnológico: a construção de um novo motor turbo de alta eficiência, movido a etanol. “O objetivo é reduzir o gap de consumo do etanol em relação à gasolina, que é de 30% atualmente, para obter um motor de alta eficiência energética e baixo impacto ambiental”, explica Aldo Marangoni, diretor de powertrain da FCA para a América Latina.

A Nissan também anunciou, em outubro, no Salão do Automóvel de Tóquio, o protótipo Ariya, primeiro SUV elétrico da marca, que em breve chegará ao mercado. Também anunciou o estudo de uma tecnologia que pode transformar etanol em hidrogênio. Já a Toyota revelou que está preparando a segunda geração do Mirai, carro movido a hidrogênio que chegou ao mercado em 2014. Por fim, a BMW divulgou em setembro o iHydrogen Next, um plano da montadora alemã de criar carros movidos a hidrogênio.

 

Fonte: Revista Viver Brasil – Janeiro/2020

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