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Surpresa eleitoral em Minas Gerais gera otimismo com Cemig e Copasa

09 de Outubro de 2018

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A mudança do governo de Minas Gerais, com a derrota do atual governador, Fernando Pimentel (PT), sinalizou ao mercado a possibilidade de privatização das estatais Cemig e Copasa.

Segundo investidores e analistas ouvido pelo Valor, a venda das duas empresas ajudaria a destravar valor aos acionistas, uma vez que os novos donos poderiam cortar gastos, aumentar eficiência e investir na melhoria das operações, sem as amarras normais às estatais, que sofrem com a burocracia para tomar decisões cotidianas, como contratações e reduções de custos.

Ontem, as ações das duas empresas reagiram positivamente. Os papéis preferenciais da Cemig fecharam com alta de 17,80%, a R$ 10,19. Na máxima do dia, chegaram a alta de 24,86%, a R$ 10,80, maior valor em três anos. As ordinárias fecharam com ganho de 19,12%, a R$ 9,53. Já as ações ordinárias da Copasa subiram 15,56% ontem, a R$ 51,25, atingindo o maior valor ajustado desde sua abertura de capital, em 2006.

A Copasa tem 100% de direito a tag along (venda conjunta), enquanto as ações ordinárias da Cemig tem 80% de direito a tag along. As preferenciais da elétrica mineira não têm venda conjunta.

A expectativa de privatização ganhou força com a configuração do segundo turno da eleição do governo de Minas Gerais, com disputa entre Romeu Zema (Novo) e Antonio Anastasia (PSDB). Vencedor do primeiro turno, com 42,73% dos votos, Zema já declarou ter intenção de privatizar a Cemig e a Copasa caso eleito. Anastasia, que obteve 29,06% dos votos, não declarou a intenção de vender o controle da elétrica mineira, mas defende uma gestão independente da companhia, sem intervenção do governo estadual.

Para o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da UFRJ, professor Nivalde de Castro, a derrota de Pimentel no primeiro turno indica mudança de gestão e até possibilidade de privatização da Cemig, devido ao quadro financeiro atual da empresa, com dívidas elevadas de curto prazo e retração de mercado. "O processo de saída do Estado do setor elétrico brasileiro vai se intensificar com o novo perfil liberal do Congresso e das vitórias estaduais", disse ele.

O resultado da eleição em Minas Gerais é muito bom para a Cemig, "mas também não tem mágica", disse o estrategista-chefe da Eleven Financial Research, Adeodato Volpi Netto, em transmissão pela internet no domingo à noite. Na ocasião, ele lembrou que há muito o que fazer na empresa, especialmente em relação à controlada Light. Ainda assim, "há espaço para uma 'estinlingada'", disse.

"Num mundo ideal, há tanta coisa para melhorar nas estatais. Custo, alavancagem, regulação", disse um analista sob condição de anonimato, citando motivos para a valorização das ações.

Para o Bradesco BBI, além das estatais mineiras, as paulistas Cesp e Sabesp também saem ganhando com o resultado do primeiro turno. Ainda que os governos de Minas Gerais e São Paulo ainda não tenham sido definidos, os cenários de segundo turno já são suficientes para descartar uma intervenção política, de acordo com os analistas Francisco Navarrete, Bruno Arruda e Victor Oliveira.

O desafio para que a privatização das duas companhias mineiras saia é a necessidade de uma mudança na constituição de Minas Gerais. Para os analistas do BBI, contundo, os problemas financeiros do Estado são tão grandes que há uma chance "razoável" de que os políticos locais apoiem um evento do governo de Zema nesse sentido.

Na mesma linha, o Itaú BBA destacou que as ações da Cemig e Copasa podem ter ganhos consideráveis em um cenário de privatização, mas a empresa de saneamento sai na frente em termos de potencial de valorização. Na avaliação dos analistas Pedro Manfredini e Gustavo Miele, em relatório distribuído a clientes, as ações preferenciais da Cemig podem chegar a R$ 12,50 ou até R$ 14,50 nesse cenário, avalia o Itaú BBA, com potencial de alta de 45% a 70% ante o preço de fechamento de sexta-feira passada. No caso da Copasa, o potencial de alta é maior, de 70% a 140%, podendo chegar a R$ 75 ou até R$ 105 por ação.

"Acreditamos que a maior parte do potencial de alta está nos negócios de distribuição, por meio de um processo de cortes severos de custos e de desembolsos de investimentos. Nesse sentido, a Copasa é uma empresa pura de distribuição de saneamento, negociada a um múltiplo EV/RAB [valor de mercado em relação à base de ativos regulatórios] de 0,7 vez, enquanto poderia facilmente ser negociada entre 1,2 vez e 1,5 vez, se privatizada", escreveram.

Mesmo se a privatização das companhias não acontecer, a mudança no governo de Minas Gerais tem potencial de destravar valor das duas estatais. Os analistas João Pimentel e Filipe Andrade, do BTG Pactual, apontaram que as duas empresas podem passar a contar com administrações mais voltadas para uma visão de mercado, com foco em cortes de custos.

O banco foi o único a alterar o preço-alvo da Cemig, que passou de R$ 9,50 para R$ 10, com recomendação de compra. A Copasa teve reiterada a recomendação de compra e o preço-alvo de R$ 50,50.

O programa de venda de ativos da Cemig também pode finalmente deslanchar com uma nova administração, segundo a avaliação do Goldman Sachs. Em relatório, os analistas Bruno Pascon, Victor Hugo Menezes e Julia Borges reavaliaram o potencial de ganho que a estatal elétrica pode ter com desinvestimentos, e chegaram ao valor presente de R$ 3,20 por ação. O preço-alvo, contudo, foi mantido em R$ 9,00.

Valor Econômico – 09/10/18

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