22 de Novembro de 2019
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A Usina Coruripe concluiu a venda de certificados de recebíveis do agronegócio (CRA). A empresa conseguiu demanda para captar R$ 710 milhões, ante os R$ 800 milhões inicialmente pretendidos. A demanda por esse tipo de papel costuma ser concentrada pela pessoa física, uma vez que ele oferece a este investidor isenção de Imposto de Renda (IR). Mas no caso da Coruripe, houve adesão relevante à oferta de fundos de investimento: 66 fundos compraram os papéis. Outras ofertas públicas de CRA neste ano atraíram só um ou dois.
A oferta da Coruripe saiu com duas séries, uma sênior, que possui prioridade para efeitos de amortização e resgate perante a outra, chamada subordinada.
A subordinada foi a que atraiu os fundos. Ela saiu com R$ 229 milhões e foi praticamente dividida meio a meio entre 63 fundos, que ficaram com R$ 107,5 milhões; e 164 investidores profissionais pessoas física, que compraram R$ 104,5 milhões dos papéis. Essa série pagava CDI mais 9% ao ano e atraiu esses investidores mais sofisticados ou dedicados ao setor do agronegócio, por conta da taxa elevada e pelas garantias, consideradas também interessantes para a operação. Os papéis são garantidos por contratos de cogeração de energia e créditos do Instituto de Açúcar e Álcool (IAA). Empresas do setor foram à Justiça em ações indenizatórias contra a União por conta de perdas apuradas com o tabelamento de preços do IAA na década de 1980. No caso do processo da Coruripe, o crédito ainda não virou precatório. O Valor apurou que havia demanda para mais CRAs nessa classe, mas como seria muito custoso para a empresa, a opção foi não aumentar.
A outra série, sênior, alcançou R$ 480, 6 milhões e 4.356 investidores pessoa física qualificados deram conta de 73% da oferta, com R$ 350 milhões. A taxa dessa classe ficou em CDI mais 3%. O restante foi concentrado em pessoas jurídicas; três fundos de investimento e mais R$ 84,6 milhões ficaram com a XP Investimentos, que foi a coordenadora da operação e havia dado uma garantia firme de colocação de R$ 500 milhões. No final da colocação, a XP acabou ficando com R$ 100 milhões de CRAs - também comprou R$ 15 milhões na série subordinada e deverá vender os papéis no mercado. Procurada, a XP não deu entrevista.
Mario Lorencatto, presidente da Coruripe, diz que a participação da XP não deve ser considerada como o exercício da garantia firme. Ele comemorou o resultado da operação e diz que viajou o Brasil para explicar a oferta a investidores e atrair recursos.
“Foi um trabalho intenso, especialmente nos últimos dois meses. Mas o resultado foi muito positivo diante da piora recente do mercado de crédito, que fez com que algumas usinas inclusive tivessem dificuldades em concluir as operações”, afirma.
O dinheiro do CRA foi relevante para melhorar as condições de liquidez de curto prazo da Coruripe. Os recursos, diz o executivo, melhoram a estrutura de capital da empresa e alongar o perfil da dívida - o CRA tem prazo de seis anos. A distribuição dos papéis foi continuada, ficou aberta por seis meses na plataforma da XP e, à medida que os certificados iam sendo vendidos, os recursos entravam no caixa da usina.
A expectativa da empresa é que após a captação, a agência de avaliação de risco Standard & Poor’s revise sua nota. O rating de crédito de emissor de longo prazo na escala global da Coruipe é “B-”, com perspectiva negativa. Lorencatto diz que o problema maior de crédito da Coruripe era a concentração de curto prazo, agora atenuada, uma vez que a relação dívida líquida e Ebitda está em 2,75 vezes. A Coruripe avalia financiamentos de longo prazo com BNB e BNDES.
Fonte: Valor Econômico - 22/11/2019
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