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Raízen vai estocar etanol para vender com melhor preço na entressafra

14 de Maio de 2020

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“Começamos a safra muito bem posicionado financeiramente. Com bastante caixa, já prevendo uma condição mais complexa. Como somos uma empresa integrada, temos bastante capacidade de armazenagem e não estamos mudando os nossos planos”, disse o presidente da Raízen, Ricardo Mussa, durante live promovida pelo Jornal Valor Econômico, nesta segunda-feira (11).

Mussa ressaltou que o problema é a volatilidade existente no momento. “Tem a dificuldade de se tomar qualquer ação muito drástica de um lado ou do outro, pois a volatilidade está muito grande. Acho importante ter flexibilidade, gestão de risco na medida correta, caixa e capacidade de armazenagem para poder passar por este momento’, ponderou.

O executivo citou a retração no consumo dos combustíveis na companhia, contando que a queda ficou mais focada no ciclo Otto, e chegou a 70%, mas se estabilizou, com pequena melhora nas últimas semanas, registrando volumes de queda de 50% na gasolina e etanol. No diesel, a redução foi bem menor, já que o setor continuou operando, com queda de 20%.

Mussa afirmou ainda que, como nos outros anos, a empresa irá reduzir as vendas de etanol neste período de safra e vender mais na entressafra quando os preços, geralmente, são melhores. “A Raízen já vinha nos últimos anos fazendo uma boa gestão de risco, então conseguimos travar o nosso etanol com o que chamamos de proxy hedge da gasolina. Então, somos menos afetados neste momento e a estratégia continua nesta safra. Vamos vender o mínimo possível na safra, que é o período onde se tem preços piores e levar o etanol para a entressafra”, esclareceu.

Sobre combustíveis, o presidente da Raízen disse ainda que o Brasil não precisa importar gasolina neste momento, pois o país se tornou auto suficiente pela queda da demanda, portanto a Petrobras tem condições de atender o mercado. “Obviamente, se os preços internacionais se mostrarem muito mais competitivo, temos flexibilidade para importar mais. É preciso manter sempre uma opcionalidade na mão, mas acredito que o nível de importação vai reduzir bastante como já vem reduzindo”, disse.

Renováveis e questões climáticas deverão ganhar força

Mussa destacou ainda que os renováveis deverão ganhar destaque no pós-crise. “A pegada de renováveis e questões climáticas deverão ganhar força daqui para frente, pois essa crise é diferente das demais, as pessoas estão mais preocupadas com a saúde e o etanol tem um papel muito importante e é imbatível neste sentido. Estamos muito otimistas com o mercado pós-crise de renováveis e em particular do etanol”, afirmou.

RenovaBio

“O RenovaBio é um programa espetacular. Se o programa já estivesse atuando na sua plenitude este ano, não estaríamos tendo discussão sobre a CIDE, porque o mercado ia se auto-regular. Na prática o RenovaBio vê a diferença que é a externalidade de um produto com baixa emissão frente a outro produto de maior emissão, você ajusta o mercado e ele se auto-regularia, não precisaria de intervenção e nem ajuda de Governo”, afirmou.

Segundo ele, a prioridade do RenovaBio este ano é se estabelecer e funcionar e nos próximos anos, oferecer o benefício dessa auto gestão. “É um programa de longo prazo que é muito bom e a prioridade é o proteger para que ele continue”, lembrou.

Ajuda do Governo

A posição firme do Governo em não atender o pleito do setor sucroenergético com relação a implantação de medidas torna a vida do segmento mais complexa, principalmente neste período de safra, pondera o executivo. “Têm muitas empresas que não vão conseguir, por falta de capacidade de armazenagem ou por parte de capacidade financeira, fazer como nós, ou seja, vender menos no período da safra e mais na entressafra”, disse.

Empresa investiu pesado na renovação dos seus canaviais nos últimos anos

O presidente da Raízen disse ainda que a falta de investimentos no setor vai prejudicar bons negócios no futuro. “É preciso manter uma visão de longo prazo. Tem pouca capacidade ocupacional sendo colocada no mercado há mais de cinco anos e o mercado de açúcar no mundo continua crescendo, isso está criando uma situação onde o choque virá por falta de oferta mais para frente”, advertiu.

Uma outra situação apontada por ele é que o preço baixo do açúcar devido ao excesso de produção do adoçante vai afetar mais os principais competidores da commoditie que o Brasil, visto que a moeda nacional desvalorizou mais e o país ganhou competitividade frente a Índia e Tailândia. “Isso torna o nosso negócio melhor porque deve tirar mais produção desses países do que do Brasil”, afirmou.” Além disso, a crise não está mudando estruturalmente o consumo do adoçante, portanto, deverá faltar açúcar no médio e longo prazo”, aponta.

Ciclo alto do açúcar

De olho na volta do bom ciclo do açúcar, a Raízen fez um grande investimento nos últimos anos em renovação do canavial e a companhia espera colher os frutos dessa renovação este ano. “Estamos mantendo os investimentos, não teve nada que mudasse nosso planejamento. Nossa visão continua otimista, para o mercado de renovável. Achamos que no longo prazo, o açúcar brasileiro ganhou competitividade em relação a outros países, e isso não deveria se perder”, disse.

Raízen ainda tem capacidade industrial ociosa

Mas nem todas as empresas terão condição de atravessar este período e chegar até o momento de ciclo alto do açúcar. “É um setor que já vinha muito debilitado e a crise deverá acelerar algum processo de redução, até de fechamento de algumas usinas no Centro-Sul principalmente”, acredita.

Embora muitas oportunidades surjam, não é interesse da companhia investir em aquisições. “Por dever de ofício olhamos as oportunidades, principalmente aquelas que fazem sentido operacional, que estão muito próximas a uma usina nossa, como já ocorreu nos últimos anos. Mas a prioridade do grupo não é essa, e sim a de melhorar a nossa produtividade, encher as nossas usinas, para depois pensar nisso”, argumentou.

Segundo Mussa, a empresa ainda tem muito a ganhar com a recuperação de produtividade do canavial e usar toda a sua capacidade industrial, que ainda está ociosa.

Carro elétrico

Sobre os carros elétricos, o executivo disse que são muito caros e que não é algo relevante no curto e médio prazo para o Brasil, pois não há infraestrutura para eletrificar toda a frota existente. A aposta da companhia é que o etanol seja usado como combustível dessa transição energética.

Etanol de milho: companhia só quer parcerias neste sentido

Ao ser questionado sobre investimentos para a produção de etanol de milho, Mussa respondeu que é um mercado que tem um risco diferente e só constataram vantagens na comercialização de distribuição. “Nosso foco foi se aproximar das usinas de etanol de milho e com a nossa infraestrutura, com a nossa logística e comercialização, fazer parcerias neste sentido. Agregamos mais valor no trade, na logística”, disse.

Cenário pós-pandemia

Sobre a retomada, ele ponderou que ainda há poucos parâmetros no mundo, como a economia da China que teve uma recuperação rápida. “Trabalhamos com um retorno mais lento, mais realista e o cenário não deverá ser como o anterior”, finalizou.

 

Fonte: Jornal Cana - 13/05 



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