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Qatar anuncia saída da Opep, critica Arábia Saudita e focará em gás

04 de Dezembro de 2018

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O Qatar planeja deixar a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) no ano que vem, por conta da deterioração em seu relacionamento com os países árabes vizinhos, pondo fim a seis décadas de participação no cartel que dita os preços do petróleo.

O ministro do petróleo do emirado disse a repórteres na segunda-feira que a decisão de deixar a organização que congrega grandes exportadores de petróleo surgiu depois que o Qatar revisou as maneiras pelas quais poderia ganhar um papel internacional mais importante, enquanto muda o foco de sua economia para o gás natural.

A decisão aconteceu em meio a uma deterioração na situação política entre o Qatar e seus vizinhos. Quatro países árabes - Arábia Saudita, Bahrein, Egito e Emirados Árabes Unidos (EAU) - impuseram um embargo comercial e de viagens contra o Qatar em junho do ano passado, acusando o emirado de apoiar o terrorismo.

No entanto, Saad al-Kaabi, o ministro do petróleo qatariano, insistiu em que a decisão de deixar a Opep, da qual o emirado é parte desde 1961, não estava vinculada ao boicote político e econômico.

O Qatar é o maior exportador mundial de gás natural liquefeito, mas um dos menores produtores de petróleo da organização, de acordo com o relatório de outubro do departamento de pesquisa da Opep sobre o mercado do petróleo. Kaabi disse que seu país planejava elevar sua produção de gás natural liquefeito de 77 milhões para 110 milhões de toneladas anuais.

O preço do petróleo disparou na segunda-feira, depois que os Estados Unidos e a China concordaram quanto a uma trégua de 90 dias em sua guerra comercial, tendo chegado a acordo durante a reunião do Grupo dos 20 países mais ricos (G20) na Argentina, no último final de semana, quanto a não impor novas tarifas comerciais.

O petróleo cru padrão Brent subiu em 3,88%, para US$ 61,77, no final da manhã em Londres, enquanto o contrato do West Texas Intermediate, o principal referencial do petróleo dos Estados Unidos, subia em 4%para US$ 52,97.

A decisão do Qatar surge em um momento no qual países que não integram a Opep, como a Rússia, se tornaram mais influentes na determinação da política petroleira, ao lado da Arábia Saudita, o maior produtor do cartel e para todos os efeitos seu líder.

Kaabi disse que o impacto do Qatar sobre a política de produção da Opep era pequeno, o que segundo ele influenciou a decisão do emirado quanto a deixar a organização; ele afirmou que o emirado continuaria a seguir os acordos coordenados entre os produtores mundiais quanto à extração de petróleo.

Ainda assim, coube ao seu predecessor no ministério desempenhar um papel crucial na obtenção de um acordo entre os países produtores de dentro e de fora da organização, em 2016, para cortes coordenados de produção que ajudaram a pôr fim a anos de desvalorização.

Kaabi disse que o Qatar participaria da reunião de ministros do petróleo da Opep que acontece esta semana em Viena, para ditar a política petroleira a ser seguida em 2019, em um momento de queda nos preços do petróleo cru que levou a cotação por barril abaixo dos US$ 60 na semana passada, ante mais de US$ 86 no mês anterior.

"O Qatar trabalhou diligentemente nos últimos anos a fim de desenvolver uma estratégia futura baseada em crescimento e expansão, tanto em suas atividades no país quanto no exterior", disse Kaabi. "Realizar nossa ambiciosa estratégia de crescimento vai requerer esforços concentrados, dedicação e o compromisso firme de manter e reforçar a posição do Qatar como maior produtor mundial de gás natural liquefeito".

A decisão do Qatar de deixar o cartel petroleiro não terá "grandes" consequências para a Opep, dada a produção petroleira limitada de Doha, disse Robin Mills, presidente-executivo da consultoria Qamar Energy.

A Arábia Saudita e seu principal aliado, os Emirados Árabes Unidos, os dois principais membros da Opep, lideraram o embargo contra o Qatar, mas outros países, entre os quais o Irã, arquirrival de ambos, continuam a fazer parte da organização.

"Surpreende que o Qatar esteja abandonando seu lugar à mesa. Seria melhor estar lá do que não", disse Mills. "Presumivelmente isso está ligado à disputa política, mas diversos países membros da Opep não têm participação na disputa".

E a participação na Opep tampouco impedia que o Qatar acelerasse sua produção de gás natural liquefeito, disse Mills.

O Qatar está tentando compensar o efeito do bloqueio por meio de um investimento de US$ 200 bilhões em infraestrutura e da abertura de novas rotas comerciais. Também redirecionou US$ 50 bilhões de seu fundo nacional de investimento à proteção do setor bancário e à manutenção de uma taxa de câmbio estável.

Arábia Saudita, Bahrein, Egito e os Emirados Árabes Unidos acusam Doha, que sempre foi considerada como desalinhada com as posições políticas da região, de financiar e apoiar o terrorismo. O Qatar, que abriga a maior base militar dos Estados Unidos no Oriente Médio, negou repetidamente essas acusações, e a disputa está em impasse desde que surgiu.

Kaabi, antigo presidente da estatal Qatar Petroleum, foi nomeado ministro da energia em uma reforma ministerial realizada no começo de novembro.

Folha de São Paulo - 03/12/2018

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