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Produtores americanos de etanol preocupados com a política Trump

25 de Janeiro de 2017

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(Foto:Steven Vaughn /Agricultural Research Service via Wikimedia Commons)

 

Apesar das promessas de campanha do presidente Donald Trump, de apoio aos produtores americanos de etanol, o setor, que produz 24 bilhões de etanol a partir do milho, está com um déficit de aliados no novo governo. Os nomeados por Trump para comandar as três agências mais envolvidas com o setor têm um histórico de críticas ao mandato para o biocombustível do país ou são oriundos de Estados com influentes interesses opostos à política.

"Há uma preocupação no Meio-Oeste, pois nenhum nome escolhido para o gabinete tem um histórico comprovadamente favorável aos combustíveis renováveis e por não haver nenhuma representação do Meio-Oeste no gabinete", disse a Iowa Renewable Fuels Association, associação que reúne os produtores de combustíveis renováveis.

Essa é uma grande mudança em relação ao governo Obama, quando por oito anos o ex-governador de Iowa, Tom Vilsack, atuou como secretário de Agricultura, defendendo zelosamente a lei, assinada pelo ex-presidente George W Bush, que exige que as refinarias adicionem biocombustível ao diesel e à gasolina.

Em contraste, alguns dos nomeados por Trump para o gabinete mostraram-se abertamente hostis à lei em vigor há 12 anos. Por exemplo, o procurador-geral de Oklahoma, Scott Pruitt, escolhido pelo presidente para comandar a Agência de Proteção Ambiental (EPA), que fiscaliza o cumprimento das exigências, declarou-as "impraticáveis". Em 2013, ele apresentou um memorando com contrapartes do Alabama e da Virgínia em apoio a um processo da indústria petrolífera contestando a aprovação, pela EPA, de uma mistura de 15% de etanol à gasolina.

No mesmo ano, implorou à agência federal para que "corrija esse programa falho". Pruitt exibiu um tom diferente em sua audiência de confirmação [para o cargo] em 18 de janeiro, quando legisladores de Estados produtores de milho o pressionaram a apoiar a norma que determina o consumo de combustíveis renováveis. Embora tenham obtido de Pruitt a promessa de honrar a intenção do Congresso de criar a obrigatoriedade da adição de biocombustíveis, ele não descartou uma mudança na estrutura do programa, estimulada pela Valero Energy Corp, maior refinadora independente dos EUA, e pelo bilionário Carl Icahn, um conselheiro de Trump para questões de regulamentação.

A EPA tem amplo poder para definir as cotas anuais de biocombustíveis. "Como administrador da EPA, é possível, tecnicamente, cumprir as determinações do Congresso, mas na realidade atuar contra ela", disse Tammy Duckworth, senador democrata de Illinois a Pruitt.

O ex-governador do Texas Rick Perry, nomeado para comandar o Departamento de Energia, pediu à EPA que abrisse mão de metade da cota a ser preenchida em 2008 pelo etanol de milho, argumentando que elevava os preços dos grão, prejudicando pecuaristas.

Sonny Perdue, ex-governador da Geórgia escolhido para substituir Vilsack na Agricultura, não se opôs publicamente à norma para os combustíveis renováveis. Mas seu Estado é o maior produtor de aves do país – o único setor que exibe o mesmo grau de antagonismo que as grandes petrolíferas em relação à exigência de adição de biocombustíveis, devido à crença de que isso eleva o custo da ração. O etanol está precisando de aliados em Washington.

Icahn, acionista majoritário na refinaria CVR Energy Inc, está pressionando o governo para que mude a forma como o programa é estruturado, realocando o ônus da conformidade à lei das refinarias para as misturadoras de combustível. As principais companhias que comercializam biocombustíveis argumentam que isso desrespeitaria a lei.

O American Petroleum Institute pressiona o Congresso a revogar ou reformular a norma referente aos combustíveis renováveis, embora politicamente isso seja difícil.

A equipe de transição de Trump e o novo governo não responderam aos pedidos de entrevista. Thomas Cape, analista sênior e chefe de pesquisas de política energética na Evercore ISI, em Nova York, disse acreditar que Pruitt seja confirmado e modifique o percentual de participação de biocombustíveis em seus primeiros 100 dias no comando da agência.

Apenas dois dias antes de ser eleito, em evento de campanha, em Sioux City, Iowa, Trump prometeu: "Vamos proteger o etanol à base de milho". O setor de etanol está se mobilizando para que Trump não esqueça [suas promessas]. Na semana que antecedeu à posse, grupos promoveram a exibição de comerciais em canais de TV a cabo com sua promessa de proteger a norma dos combustíveis renováveis e citaram os empregos que ela gera.

"Não se trata de um governo Pruitt ou de um governo Perry", disse Bob Dinneen, presidente da associação que defende os interesses do setor. "Trata-se do governo de Donald Trump, e até prova em contrário, vou aceitar que seu forte apoio aos combustíveis renováveis – e, especificamente, ao etanol -, vai ser mantido".

A Growth Energy, grupo defensor do etanol com sede em Washington, está "confiante". Os nomeados por Trump estão "plenamente conscientes de seu apoio explícito" à norma de mistura de biocombustíveis, disse o grupo em comunicado. Apesar disso, membros do gabinete de Trump deixaram assustados alguns produtores de biocombustíveis que se perguntam se o presidente manterá o compromisso assumido.

Os defensores dos combustíveis renováveis em Iowa querem que Trump escolha algum defensor do setor na próxima rodada de nomeações para o comando de agências governamentais para atenuar "as preocupações que estão sendo expressas reservadamente em muitos círculos do agronegócio".

(Fonte: Valor Econômico – 25/01)

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