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Presidente quer destacar sua agenda de reformas

26 de Junho de 2019

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Em sua primeira participação numa cúpula do G-20, o presidente Jair Bolsonaro terá encontro com o príncipe herdeiro saudita, hoje quase um pária na cena internacional. Assumirá compromissos que vão de economia digital a combate ao lixo de plástico no mar, e deverá responder sobre o rumo das reformas no Brasil.

Todo mundo está à espera de avanços no Brasil. Nos encontros internacionais, quando apresentam a agenda de reformas, os representantes brasileiros ouvem sempre a mesma indagação: quando elas vão acontecer?

Se Bolsonaro repetir o que os negociadores dizem no exterior, a resposta deve ser de que a velocidade das reformas depende do Congresso brasileiro. Pode comparar o Legislativo a um aeroporto movimentado, em que há vários aviões para decolar e é preciso respeitar o sequenciamento. Reafirmar que a reforma da Previdência está na cabeceira da pista. E que a reforma tributária está pronta para sair do hangar.

O grande foro de governança global que é o G-20 gradualmente vai amarrando compromissos entre seus participantes, que representam 90% do PIB mundial e mais de 80% do comércio internacional.

Bolsonaro vai se engajar na Agenda Anticorrupção 2019-2021, que reconhece que combater a corrupção é requisito importante para assegurar qualidade e confiabilidade da infraestrutura. O plano inclui aprovação de princípios para uma efetiva proteção de delatores em investigações. Os países também se engajam com prazo até 2021 para incorporar nas leis nacionais a criminalização de suborno no exterior.

Outro compromisso é com a redução da poluição de lixo plástico, que causa estragos no meio marinho. As medidas são voluntárias. Mas alguns países saíram na frente. A União Europeia (UE) vai proibir, a partir de 2021, os produtos plásticos para os quais existem alternativas, como hastes de cotonetes, canudinhos, pratos e talheres. O Japão, segundo maior usuário de pacotes de plástico, só atrás dos EUA, vai proibir o saco plástico gratuito nas grandes lojas.

O presidente brasileiro vai condenar o terrorismo e conclamará as mídias sociais e a indústria digital em geral para um trabalho coordenado afim de compartilhar tecnologia e soluções automatizadas para rápida detecção e remoção de conteúdo violento extremista e terrorista.

Está na agenda também o compromisso impulsionado pelo Japão para evitar uma fragmentação da economia digital. Tóquio propõe um livre fluxo transfronteiriço de dados, respeitando privacidade. O Brasil tem sido ativo nas negociações sobre o tema na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Bolsonaro poderá dizer que, pela primeira vez, uma declaração da cúpula do G-20 menciona que a maioria dos países do grupo quer um avanço nas regras no comércio agrícola mundial, em referência a corte de subsídios. É um ponto importante para o Brasil, Argentina e outros exportadores.

Muito da expectativa sobre a participação de Bolsonaro no G-20 está nos encontros bilaterais. Já estão marcadas bilaterais com os presidentes da China, Xi Jinping, e com os líderes de Japão, Índia, Cingapura e Arábia Saudita.

A mais polêmica será com o príncipe saudita Mohammed bin Salman. Ele está se tornando um pária na cena internacional e pouca gente parece disposta a tirar uma foto com ele, apesar das promessas de investimentos de centenas de milhões de dólares, que raramente se concretizam.

Na semana passada, um relatório independente das Nações Unidas sugeriu que o príncipe seja investigado pelo assassinato do jornalista dissidente Jamal Khashoggi. O relatório diz que há "provas críveis" de que ele e outros altos funcionários sauditas são responsáveis pelo assassinato com requintes de enorme crueldade.

Quanto à bilateral com Xi Jinping, a mais importante, está prevista a reafirmação do interesse brasileiro em manter o nível dos negócios com a China. Pequim quer mais clareza sobre o tratamento que Brasília dará à gigante de telecomunicações Huawei. A companhia é acusada de espionagem pelos EUA.

Com o premiê japonês, Shinzo Abe, um dos temas será a futura negociação de acordo de livre comércio Mercosul-Japão. Ela poderá ser rápida se o Mercosul fechar logo o acordo que dá preferências para empresas da União Europeia.

Bolsonaro terá encontros também com o premiê da Índia, Narendra Modi, que adota uma política de substituição de importações e de aumento de subsídios - o que afeta produtores brasileiros, como os de açúcar. Outro encontro será com o líder de Cingapura, igualmente interessado em acordo de livre comércio. O novo presidente do Banco Mundial, David Malpass, será recebido pelo presidente brasileiro na manhã de sexta-feira.

Também na sexta-feira, Bolsonaro vai presidir a reunião dos presidentes do Brics (com Rússia, China, Índia e África do Sul), que antecede a cúpula do G-20.

Valor Econômico - 26/06/2019

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