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Premiada com Nobel, pesquisa com bateria de lítio pode levar a uma sociedade sem combustível fóssil

11 de Outubro de 2019

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Entre os muitos benefícios listados para justificar a escolha das pesquisas com as baterias de lítio para receber o Nobel de Química, os organizadores do prêmio destacaram a possibilidade de elas levarem a uma sociedade livre dos combustíveis fósseis. Nesta quarta-feira, 9, os cientistas John Goodenough e M. StanLey  Whittingham, e Akira Yoshino, do Japão, receberam a láurea.

Em um mundo ameaçado pelas mudanças climáticas provocadas, em sua maioria, justamente pelo excesso de consumo de fontes fósseis de energia, soluções tecnológicas que possam reduzir essa dependência são vistas como a principal saída para conter o aquecimento do planeta.

A expectativa aqui é incrementar cada vez mais o uso dessas baterias em veículos elétricos – aumentando sua autonomia e reduzindo seu preço – e também melhorá-las e barateá-las a fim de que possam armazenar energias alternativas de fontes hoje intermitentes, como solar e eólica.

Dependentes de quando tem vento e sol para serem produzidas, essas energias ainda hoje precisam ser complementadas dentro do sistema elétrico com outras fontes mais perenes.

Em muitas ocasiões, o pico de produção não bate exatamente com os momentos de pico de consumo e hoje já há perda dessas energias. Seu armazenamento, portanto, é a chave para garantir que elas possam ser usadas depois, reduzindo a necessidade de energia hidrelétrica ou de gás natural e carvão, por exemplo.

Especialistas que trabalham com o tema avaliam que o desenvolvimento das baterias de íons de lítio, que vêm evoluindo ao longo dos anos, são fundamentais, mas para que essa revolução aconteça, talvez sejam necessários ainda novos avanços tecnológicos.

“Para mudar o paradigma para o carro elétrico precisarem ter baterias mais avançadas, como o que vem se buscando com lítio-ar, com uma capacidade energética muito grande, redução do tempo de carga e vida mais longa, de modo que o ciclo de operação se mantenha por mais tempo”, comenta Rubens Maciel Filho, professor da Faculdade de Engenharia Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e diretor do Centro de Inovação em Novas Energias (Cine), que pesquisa justamente esses novos dispositivos.

As baterias de íon de lítio já são usadas em alguns casos para armazenar a energia excedente de fontes solares e eólicas. A Califórnia (EUA) tem feito isso inclusive com baterias já usadas de carros elétricos e pequenas comunidades na Amazônia contam com esse recurso para ter energia à noite. Mas ainda não houve um ganho de escala.

“Ainda precisamos de baterias mais eficientes, com capacidade de carga grande. Basicamente, ainda não houve essa virada porque elas ainda demoram bastante para carregar e o ciclo de operação ainda é baixo. É mais ou menos como as baterias de laptops e celulares, que no começo duram bastante e com o tempo vão diminuindo”, explica o especialista. Para ele, serão necessários outros materiais com densidade energética maior para dar esse salto.

O engenheiro Raul Beck, da comissão técnica de veículos elétricos e híbridos da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE) no Brasil, afirma, porém, que já há estimativas de que por volta de 2030 os carros elétricos respondam por metade da frota. E isso somente com a evolução mais linear dessas mesmas baterias de lítio.

“O caminho da mobilidade vai ser elétrico. De 2010 para cá, os preços dessas baterias caíram cerca de 80%. Custavam US$ 1 mil para cada quilowatt-hora (kWh) e hoje já estão em torno de US$ 180 o quilowatt-hora. Num veículo com autonomia de 300 quilômetros, são necessárias baterias com potencial de 40 a 100 kWh, daí se vê que a bateria é responsável por uma boa parte do seu valor”, afirma Beck. “Mas quando esse preço cair para uns US$ 80, que deve ocorrer nos próximos anos, já vai ocorrer uma equivalência de preço com os carros tradicionais. Aí vai ocorrer esse salto”, prevê.

Fonte: Estadão Conteúdo – 11/10/19

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