12 de Novembro de 2019
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Discussões entre ambientalistas e políticos sobre o plantio de cana-de-açúcar no Pantanal continuam movimentando o cenário agrícola e ambiental de Mato Grosso do Sul. Tudo começou com um decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), que libera a plantação de cana-de-açúcar no Pantanal e outros biomas sensíveis.
O documento que revoga o decreto 6.961/ 2009, que garantia a produção do etanol de forma sustentável, motivou o ato “Cana no Pantanal Não”. A manifestação organizada pela Frente Parlamentar de Vereadores Ambientalistas acontecerá na próxima terça-feira (12), considerado o Dia Nacional do Pantanal, em homenagem a Francisco Anselmo dos Santos, mais conhecido como Francelmo.
Francelmo morreu em 13 de novembro de 2007 após não resistir às queimaduras que atingiram 100% de seu corpo. No dia anterior, o ativista ambiental ateou fogo no próprio corpo como forma de protesto contra a instalação de usinas de álcool e açúcar na região do Pantanal, durante uma manifestação em Campo Grande.
Após 14 anos, o bioma do Pantanal volta a ser visto como possibilidade para o comércio agrícola. O ato público “Cana no Pantanal Não” irá se manifestar contra a decisão da liberação do plantio de cana-de-açúcar na região pantaneira.
“Com a revogação do decreto, ou seja, com o agora tudo pode, acendemos o alerta, porque isso pode abrir brechas contra lei estadual que proíbe cana no Pantanal. Começaram derrubando um decreto e agora o que mais pode vir? O que mais pretendem fazer de ato político, inclusive em nível estadual, que vai afetar a identidade do patrimônio Pantanal, que vai além de lugar paisagístico, berço de espécies?”, questiona o vereador Eduardo Romero (Rede), representante da manifestação.
Os perigos da cana
O diretor executivo da Ecoa, Alcides Faria afirma que grande parte do Pantanal não é propícia para o plantio de cana-de-açúcar e ressalta que esta monocultura faz uso de grandes quantidades de agrotóxicos. “Um dos ingredientes, o nitrogênio, ele é extremamente prejudicial para os rios e lagoas. Ele provoca o desenvolvimento muito rápido de algumas espécies que competem com outras, como as algas e micro-organismos, são danosos, destroem o ecossistema completamente”, afirma.
O ambientalista comenta sobre a declaração do presidente da Biosul, Roberto Hollanda, que afirmou que o decreto diz respeito apenas na bacia do Alto Paraguai e que esta área não faria parte do Pantanal. “A bacia do Alto do Paraguai é tanto a planície de parte baixa, como a parte alta, então os problemas estão nos dois. Mesmo na parte alta, quando se planta cana, os agrotóxicos escorrem para a parte baixa”, argumenta.
Ainda sobre o uso dos agrotóxicos, Faria destaca que os grandes canaviais usam a pulverização por aviões: “Venenos de avião são uma desgraça, a começar para as pessoas, pois atingem até quem não está próximo e grande parte desses agrotóxicos são cancerígenos”. Ele alega que, mesmo em um raio de um quilômetro de distância, é possível ser atingido pelos efeitos prejudiciais dos agrotóxicos.
O presidente da organização ambiental não governamental também afirma que é possível relacionar o cultivo de cana com o desmatamento. “Se ela não se faz diretamente, faz indiretamente. Pois ela ocupa áreas que são de agricultura e de pastagem, aí vai ser desmatada outra área, pois o boi vai ser levado para outro lugar, e ele é um desmatador”.
Fonte: Correio de Corumbá (MS) – 12/11/19
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