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Política de Trump para renováveis pode afetar exportações brasileiras de etanol

03 de Setembro de 2018

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Desde que a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, sob o governo de Donald Trump, começou a isentar pequenas refinarias americanas de petróleo da obrigação de usar de biocombustíveis, o cenário para os produtores de etanol turvou-se no país. E, por tabela, trouxe incertezas também para os produtores do Brasil, que no ano passado exportou US$ 578 milhões em etanol aos americanos.

O etanol brasileiro costuma ter uma espécie de demanda "cativa" nos Estados Unidos por causa do mandato específico da EPA para os biocombustíveis "avançados" - categoria em que se encaixa o etanol de cana - e por causa do programa de combustíveis de baixo carbono da Califórnia (LCFS, na sigla em inglês), que valoriza os biocombustíveis quanto menor for sua emissão de carbono.

 Mas ainda que o biocombustível brasileiro tenha algum espaço assegurado no mercado americano, a demanda dos EUA pelo produto e a remuneração das vendas do Brasil podem ser afetadas com as isenções.

Ao venderem etanol aos EUA, as usinas de países produtores geram uma espécie de 'crédito' - os chamados RINs, na sigla em inglês, - de uso de biocombustíveis que as refinarias americanas precisam acumular todo ano para cumprir o mandato de biocombustíveis. Caso faltem RINs para garantir o cumprimento, as empresas dos EUA devem comprá-los no mercado.

Do ano passado para cá, quando a EPA começou a conceder isenções ao às refinarias de forma retroativa para os mandatos de 2016 e 2017, o preço dos RINs desabou para todos os tipos de renováveis.

O valor dos RINs para os biocombustíveis "avançados" - que podem ser gerados pelos exportadores brasileiros de etanol de cana - caíram de US$ 0,70 por unidade no começo do ano para US$ 0,20 no início de agosto, mostra análise da S&P Global Platts.

A Agência de Proteção Ambiental americana (EPA) emitiu cerca de 50 isenções para os mandatos de 2016 e 2017, o que aumentou o estoque de RINs para cerca de 3,1 bilhões, mais que o dobro de dois anos atrás, segundo a Associação de Combustíveis Renováveis (RFA) dos EUA.

Indicações mais explícitas por parte do governo americano de modificação do Programa de Combustíveis Renováveis (RFS) também pressionam esse mercado. A desvalorização dos RINs intensificou-se em meados de fevereiro, quando a Casa Branca chamou o setor petroleiro para discutir uma possível reforma do programa. E a pressão sobre os valores dos RINs acentuou-se quando a refinaria Philadelphia Energy Solutions (PES) pediu proteção na Justiça contra credores, culpando o RFS por seus problemas.

Para Sophie Byron, analista de preços agrícolas para as Américas da S&P Global Platts, os produtores brasileiros de etanol ainda estão se beneficiando da remuneração relativamente alta oferecida pelo programa da Califórnia. Entre agosto e setembro, diz, quatro carregamentos de etanol brasileiro devem chegar à Califórnia, mesmo em meio ao baixos preço dos RINs.

Como os preços de etanol no Brasil também estão baixos e o dólar, cada vez mais alto, a exportação ainda é um bom negócio, afirmou a analista ao Valor, após apresentação em seminário na última quinta-feira, 23. Mas "com os preços em queda dos RINs e o cenário incerto, fica cada vez mais difícil", disse.

A perspectiva, segundo Byron, é que os RINs permaneçam sob pressão nos próximos meses. Para ela, o receio é de que a EPA inclua no próximo mandato de biocombustíveis para o próximo ano as previsões de isenções que podem ser dadas às refinarias.

"Se a agência ampliar essas isenções para grandes refinarias, isso pode reduzir os volumes obrigatórios [de uso de biocombustíveis]. Se elas não precisarem atingir a meta, isso aumenta a pressão sobre os RINs", avalia.

A pressão sobre as exportações de etanol aumenta se for considerada a queda dos preços do biocombustível no mercado internacional neste ano, em decorrência da oferta maior de milho nos EUA. De janeiro a julho deste ano, o valor das exportações brasileiras de etanol aos EUA somou US$ 257,8 milhões, recuo de 27% na comparação com igual intervalo de 2017, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic).

Fonte: Valor Econômico - 03/09/2018

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