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Petróleo sobe com decisão iminente de Trump sobre acordo com o Irã

08 de Maio de 2018

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Os preços do petróleo nos EUA subiram acima de US$ 70 o barril pela primeira vez desde 2014, no mais recente sinal de que o crescimento econômico dinâmico e a preocupação dos investidores com o risco de conflito no Oriente Médio estão mais uma vez remodelando o setor energético mundial.

A marca de US$ 70 por barril representa uma vitória para a Arábia Saudita, que no fim de 2016 liderou um histórico acordo de corte de produção pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e outros grandes produtores, inclusive a Rússia. Isso ajudou a reduzir um enorme superávit petrolífero mais rapidamente do que muitos esperavam em Wall Street.

A recuperação do preço também é um alívio para as petrolíferas americanas, que tiveram de suportar uma queda nos preços que chegaram a bater nos US$ 26 em 2016. As ações das refinarias americanas estão dentre as que exibem melhor desempenho neste ano, já que a demanda pelo combustível continua crescendo.

Mas oferta, demanda e estoques estão longe de ser os únicos fatores em ação. Os preços do petróleo subiram quase 14% no mês passado, quando o presidente Donald Trump indicou que os EUA provavelmente se retirarão de um acordo firmado com o Irã em 2015, que amenizou as sanções internacionais ao Irã em troca de restrições ao seu programa nuclear. Ontem, Trump tuitou que anunciará hoje à tarde sua decisão sobre a permanência ou não dos EUA no acordo.

Se Trump decidir renunciar ao acordo com o Irã, isso levanta a perspectiva de novas sanções que poderão reduzir a produção de petróleo do país persa.

"Havia uma visão segundo a qual vivemos um momento pós-geopolítico" como resultado de um mercado com excesso de oferta, disse Helima Croft, estrategista da RBC Capital Markets. "Agora estamos realmente voltando a ver o peso da geopolítica."

A alta dos preços do petróleo pressionará as margens das empresas que operam no setor de transportes nos EUA, como companhias aéreas, ferroviárias, empresas de transporte e serviços de entrega, que passarão a pagar mais pelo combustível, após anos de redução de custos. Os fabricantes de automóveis podem ter motivos para preocupação, já que os utilitários que têm impulsionado as vendas de automóveis, podem se tornar menos atraentes para os consumidores com os preços nos postos próximos a US$ 3 o galão.

Na Bolsa Mercantil de Nova York, o petróleo para entrega em junho subiu 1,45%, para US$ 70,73 por barril. O tipo Brent, uma referencial mundial, subiu 1,74%, para US$ 76,17. Esses são os valores mais altos para os dois tipos desde novembro de 2014.

O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, quer elevar os preços mundiais do petróleo para ao menos US$ 80, disseram autoridades governamentais sauditas. Preços mais altos dão aos sauditas maior margem para aprovar uma ampla reforma econômica, disseram analistas.

Mas alguns membros da Opep têm sido mais cautelosos, considerando suas perspectivas de produção para o longo prazo. O ministro iraniano de petróleo, Bijan Zanganeh, disse ao "The Wall Street Journal" em março que um petróleo em torno de US$ 60 seria o ideal.

Há "países que estão preocupados com o fato de que um petróleo demasiado caro irá realmente desacelerar a demanda", disse Amy Myers Jaffe, do Council on Foreign Relations. "Considerando uma perspectiva para daqui a 10 anos, ter um período de preços muito altos para o petróleo sem dúvida acelerará a tendência de menor uso de petróleo."

Fatores fora do controle da Opep contribuíram para elevar os preços do petróleo. Por exemplo, a produção venezuelana vem caindo mais rápido do que o esperado, com o agravamento de sua crise política e econômica. "Todo o dia surge um novo fato que não é bom para sua capacidade de produção", disse Croft.

Alguns analistas disseram que o risco geopolítico causou pânico injustificado, e se os temores acabarem se revelando exagerados, os investidores podem sair de cena.

"Um desanuviamento da tensão geopolítica deve desencadear uma fuga de investidores", alertaram analistas do Citigroup.

Nos EUA, produtores de petróleo de xisto já aproveitaram os preços mais altos para contratar trabalhadores e comprar equipamentos. A produção subiu acima de 10 milhões de barris por dia - a maior em todos os tempos.

"Os altos preços do petróleo não são necessariamente ruins para a economia americana. As coisas não são mais tão preto no branco como antes", disse Joe McMonigle, analista na Hedgeye Risk Management.

Desde que a proibição das exportações de petróleo bruto foi suspensa em 2015, as vendas de petróleo americano passaram a ser direcionadas para a Europa, Ásia e América do Sul e conquistaram participação em mercados antes dominados por fornecedores do Oriente Médio.

Embora os consumidores americanos já tenham começado a pagar mais, o petróleo teria que subir para entre US$ 80 e US$ 100 o barril para esfriar a demanda, disse a refinadora Valero Energy a investidores no mês passado.

Mas a perspectiva de inflação mais alta poderá pressionar o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) a elevar os juros de forma mais agressiva. Em março, a medida preferencial do Fed para a inflação subiu 2% ao ano, a maior alta desde fevereiro de 2017.

"Embora não esperemos que o aumento dos preços do petróleo tenha um grande impacto negativo sobre a economia americana como um todo, advertimos para que não sejamos excessivamente complacentes supondo que a crescente produção de energia dos EUA irá blindar a economia", disse a Pimco.

Fonte: Valor Econômico – 08/05/2018

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