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Petroleiras se movimentam para preservar caixa

23 de Março de 2020

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Em meio à queda de 21% dos preços do petróleo do tipo Brent, na última semana, petroleiras começam a se movimentar para fazer frente ao cenário de crise desencadeado pela pandemia da covid-19 e pela disputa de mercado entre Arábia Saudita e Rússia. 

No Brasil, PetroRio anunciou que adiará investimentos, enquanto a Petrobras recorreu a desembolso de US$ 8 bilhões em linhas de crédito compromissadas e avalia medidas extras para reforçar o seu fluxo de caixa, como a redução adicional de custos e otimizações de seu capital de giro. No mercado internacional, gigantes do setor como ExxonMobil, Total, Equinor e BP sinalizam para cortes de gastos.

O movimento se dá em meio a perspectivas sombrias para a indústria de óleo e gás, na avaliação da consultoria Wood Mackenzie. A expectativa da consultoria é que os cortes nos investimentos serão “imediatos e profundos” e que os gastos globais do setor podem cair mais de 25% em 2020. Na sexta-feira o Brent para maio fechou cotado a US$ 26,98.

Nas Américas, o Brasil é um dos países mais preparados para enfrentar a crise. Segundo o chefe de pesquisa da área de exploração e produção de petróleo da Wood Mackenzie na América Latina, Marcelo de Assis, 74% da produção brasileira opera com “breakeven” (preço de equilíbrio econômico) de US$ 35 o barril ou menos. “O Brasil está numa situação melhor, por causa dos custos mais baixos do pré-sal. A situação é pior no Canadá, no shale dos Estados Unidos, Venezuela e México”, diz Assis.

Independente disso, as perspectivas são desanimadoras do ponto de vista da geração de caixa. Segundo a consultoria, o setor enfrenta incertezas “sem precedentes”. A Wood Mackenzie cita que, para melhorar as chances de sobrevivência, as empresas terão de aumentar a eficiência das operações; adiar a decisão de investimentos em novos projetos; e reduzir os níveis de atividade de exploração. Novos grandes projetos serão colocados em espera e o investimento discricionário de ciclo curto será reduzido ao mínimo.

A Equinor, por exemplo, vai adiar o projeto Bay du Nord, no Canadá, enquanto a ExxonMobil avalia medidas para cortar “significativamente” despesas de capital e operacionais e a francesa Total congelará novos recrutamentos, aumentará a economia de custos e interromperá seu programa de recompra de ações devido à queda dos preços do petróleo, segundo a Reuters. Já a BP pode cortar em 20% o seu plano de investimentos para o ano, noticiou a Bloomberg.

“Mesmo que a Opep + retorne à mesa [de negociação] e chegue a um novo acordo, os eventos recentes mudaram irreversivelmente a percepção de risco. O gênio não será colocado de volta na garrafa”, destaca o relatório da WoodMack.

No curto prazo, a consultoria crê que é provável que empresas - privadas e estatais - continuem produzindo com prejuízo, na esperança de que o preço se recupere rápido. “Mas se os preços não se recuperarem, as torneiras serão inevitavelmente fechadas. Os desligamentos [de poços] serão mais substanciais que em 2015/2016”, afirma a Wood Mackenzie.

Para a agência de classificação de riscos Moody’s, a persistência dos preços baixos por um longo período representa um risco adicional para as petroleiras, mas a expectativa é que muitas delas não tenham seus ratings rebaixados no curto prazo. A agência espera que a pandemia do novo coronavírus continue afetando o desempenho das empresas no segundo trimestre, mas que os fundamentos econômicos comecem a melhorar no segundo semestre. A Moody’s estima que a cotação média do petróleo deve ficar entre US$ 40 e US$ 45 em 2020, subindo para entre US$ US$ 50 a US$ 55 em 2021.

Segundo a agência, as grandes empresas integradas do setor demonstraram força nas últimas baixas do petróleo, com disciplina de capital e presença no refino - o que ajuda a reduzir os impactos na exploração e produção. Estatais, por sua vez, não devem ser rebaixadas, por terem notas atreladas ao rating soberano de seus países. Para companhias que atuam apenas com exploração e produção, a expectativa é de revisão das perspectivas das notas, mas com poucas delas sendo rebaixadas.

 

Fonte: Valor Econômico - 23/03 

 

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