Notícias

Petrobras se prepara para barril a US$ 25

27 de Março de 2020

Notícias

Duas semanas depois do agravamento da crise do petróleo, em meio à disputa entre Arábia Saudita e Rússia por um mercado combalido pelos efeitos da covid-19, a Petrobras lançou um conjunto de medidas para se adaptar à queda da commodity. Ontem, o presidente da companhia, Roberto Castello Branco, disse que a empresa vai passar por uma mudança estrutural para que possa sobreviver a preços de US$ 25 por barril.

Seguindo a tendência de outras petroleiras, a companhia anunciou corte de 29% nos investimentos para 2020, de US$ 12 bilhões, para US$ 8,5 bilhões, dentre uma série de outras iniciativas para contenção de gastos e fortalecimento do caixa, incluindo a hibernação de campos com custos maiores. Ontem, as ações da estatal fecharam o dia na B3 com alta de 0,14% nas ações ordinárias (R$ 14,57) e de 0,56% nas preferenciais (RS 14,40), em meio à queda de 2,88% do barril do petróleo do tipo Brent, cotado a US$ 26,34.

“Anunciamos várias medidas para aumentar nossa liquidez e nos preparar para viver com um preço de petróleo tão baixo quanto US$ 25 por barril. No passado, nós preparávamos a companhia para viver abaixo de um preço de US$ 40 o barril. Agora nós mudamos. Não estamos prevendo uma recuperação significativa do preço do petróleo”, afirmou Castelo Branco, em teleconferência com analistas.

Diante do enfraquecimento da demanda, em função das medidas de restrição à circulação de pessoas ao redor do mundo, como forma de prevenção à covid-19, a Petrobras decidiu também cortar a sua produção de petróleo em 100 mil barris diários até o fim de março - cerca de 4,5% da produção total de óleo da empresa no país.

“A Petrobras foi a primeira grande petroleira, no mundo, a anunciar cortes de produção. Vamos acompanhar como serão as próximas semanas. Os níveis de estocagem vão ser críticos daqui para a frente”, disse o chefe de pesquisa da área de exploração e produção da Wood Mackenzie na América Latina, Marcelo de Assis.

Questionado sobre os efeitos do corte para as metas de produção da companhia, o diretor de exploração e produção da Petrobras, Carlos Alberto Pereira de Oliveira, disse que ainda é cedo para estimar o que acontecerá com a curva de produção da empresa. Segundo ele, por ora, está mantida a meta para 2020, de 2,7 milhões de barris diários de óleo equivalente (BOE/dia), com variação de 2,5% para mais ou para menos.
Do lado da demanda, Castello Branco afirmou que há sinais de recuperação na China, epicentro da disseminação do novo coronavírus e, por consequência, o primeiro país a sentir a retração no consumo. “Isso é muito importante, dado que a China é o destino da maior parte das nossas exportações de petróleo”, disse.

No mercado interno, o executivo afirmou que a demanda por derivados está se reduzindo significativamente. Segundo a diretora de refino e gás natural da Petrobras, Anelise Lara, a queda se dá, principalmente, na gasolina. No caso do diesel, o recuo é menor, devido à demanda do agronegócio.

Devido ao enfraquecimento do mercado doméstico, a executiva disse que a empresa cogita aumentar as exportações de derivados, sobretudo aqueles que têm registrado demanda melhor, como é o caso do bunker (combustível de navegação). “Estamos trabalhando para otimizar o parque de refino para aumentar a produção de produtos que ainda tenham boa demanda”, afirmou.

Anelise disse ainda que as refinarias da companhia, que vinham operando com fator de utilização de 79%, viram o índice cair para 74% e que a taxa de uso pode ser ainda menor entre abril e maio. Para o coordenador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep), Rodrigo Leão, a Petrobras deveria ir na direção contrária e aproveitar o momento para recuperar o “market share” perdido para importadoras privadas.

As refinarias são o carro-chefe do programa de desinvestimentos da Petrobras, que espera levantar entre US$ 20 bilhões e US$ 30 bilhões com venda de ativos entre 2020 e 2024. A empresa postergou recentemente os prazos para recebimento das propostas pelas oito refinarias colocadas à venda.
Castello Branco disse, contudo, que o programa de desinvestimentos da Petrobras está mantido, apesar de reconhecer que os preços mais baixos do petróleo dificultam as negociações. Apesar disso, segundo ele, a companhia ainda não viu “nenhum sinal de desinteresse” entre potenciais compradores. “Com certeza os preços afetam, mas vamos em frente observando o ‘valuation’ [precificação dos ativos]”, disse o executivo.

Ele afirmou que, se a Petrobras identificar que as propostas estão abaixo da valoração do ativo, não prosseguirá com as negociações. Anelise Lara, por sua vez, afirmou que não acredita que as refinarias serão desvalorizadas.

Para a gerente de petróleo, gás e naval da Firjan, Karine Fragoso, o momento é avesso para a continuidade dos desinvestimentos, sobretudo dos campos maduros terrestres ou em águas rasas. Segundo ela, a Petrobras decidiu hibernar os ativos com custos mais altos porque terá dificuldades de encontrar um comprador para eles neste momento. “Até então a Petrobras tinha uma tranquilidade para manter a produção enquanto buscava um comprador. Agora a situação mudou”, disse.

Além de cortar investimentos, o pacote de medidas para preservar o caixa da Petrobras inclui a postergação do pagamento de R$ 1,7 bilhão em dividendos, de maio para dezembro, e a captação de mais R$ 3,5 bilhões em linhas de crédito compromissadas. Olhando para os custos, a estatal anunciou um corte adicional de US$ 2 bilhões nas despesas operacionais e reduzirá e adiará gastos com recursos humanos no valor de R$ 2,4 bilhões.

 

Fonte: Valor Econômico - 27/03

Veja também