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Parceria entre fornecedores e produtores em MG é destaque na Canavieiros

03 de Julho de 2018

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O setor sucroenergético mineiro carrega consigo características bem peculiares do seu estado, as quais estão sendo importantes para que ele assuma uma posição de destaque nessa retomada da prosperidade em se produzir cana, açúcar, etanol e energia elétrica.

A relação entre unidade industrial e fornecedores, apresentada através da atuação do Grupo Coruripe nas regiões de Iturama e Campo Florido, pode ser comparada à cultura dos compadres mineiros, onde a amizade permite a realização de conversas francas, sejam elas sobre acontecimentos pessoais ou visões sobre problemas políticos, econômicos, comportamentais e sociais do país.

Outro ponto bastante específico é como a Siamig (Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais), representada pelo seu presidente Mário Campos, que através da típica conversa no “rabo do fogão a lenha”, vem conseguindo feitos políticos importantes para o setor fortalecendo não somente a indústria, mas também o seu relacionamento com a sociedade.

Compadres

Pode-se dizer que a relação de confiança entre a Usina Coruripe e os fornecedores de Iturama e Campo Florido, embora pareça bem mineira, tem grande influência de outros estados brasileiros, para começar por sua origem, fundada no século 20, na cidade homônima, que fica a 120 km de Maceió-AL. A empresa, comandada pelo Grupo Tércio Wanderley, chegou à região Sudeste somente na década de 90 quando adquiriu a destilaria Alexandre Balbo em Iturama-MG.

No século atual foram construídas mais três unidades, Campo Florido (2002), Limeira do Oeste (2005) e Carneirinho (2008), tendo capacidade de moagem próxima a 15 milhões de toneladas de cana.

Os empreendedores do Nordeste logo perceberam que seria necessário estabelecer uma relação de confiança para conseguir atrair o interesse de produtores em plantar cana, pois na última década do século passado, Iturama era uma fronteira agrícola, e tinha pouco relacionamento com a cultura.

Daí começou a surgir o modelo que hoje corresponde por pelo menos 75% da moagem das duas maiores unidades do grupo sob responsabilidade dos fornecedores. Para se ter ideia de tamanha importância dessa categoria para o negócio, entre o quadro de principais diretores da organização está o de “gerente executivo de fornecedores de cana” o qual é ocupado desde 2012 por José Carlos Contiero, que explicou com exclusividade à Revista Canavieiros como funciona a relação de “compadres” entre indústria e fornecedores.

O modelo de pagamento é baseado no Consecana-SP como em boa parte do Centro-Sul do Brasil, no entanto além do valor da cana há uma premiação por metas obtidas, que são baseadas em um sistema de meritocracia, dividido em diversos quesitos, como entrega da cana ao longo de toda safra, assertividade na quantidade a ser entregue e índices de impureza vegetal e mineral.

Contiero também aborda a questão de socorrer o produtor na hora que sua cana precisa, ou seja, caso aconteça algo que exija do fornecedor a execução de algum trato cultural mais cedo que o planejado, por exemplo. A Coruripe vai até o mercado, negocia a melhor taxa com as instituições financeiras, fornece as garantias exigidas para conquistar aquele recurso e repassa ao seu parceiro de maneira integral.

“Além da premiação e essa parte financeira, sempre buscamos entender a situação do fornecedor em um momento de preço, de clima, trabalhamos muito juntos, acompanhamos tudo de perto. Com a gente não existe o termo: o fornecedor que se vire, ele tem que entregar a cana dele a hora que eu quero e acabou. Nós temos uma relação íntima de pessoas”, disse o executivo.

Nesse modelo de negócio há também o seu caráter social, no sentido de desenvolvimento das cidades onde estão, sendo estabelecida uma estrutura com prestadores de serviço e comércio que atendem desde a problemas específicos da atividade até as necessidades básicas do corpo de produtores.

“Preciso ressaltar a visão que os hoje acionistas da companhia tiveram na implantação e perpetuação desse sistema, pois ele é baseado inteiramente em uma relação onde a empresa cresce, os parceiros crescem e a comunidade ao redor evolui”, frisa Contiero.

O executivo não se esquece de ressaltar o papel fundamental das associações de fornecedores envolvidas ao projeto, que fazem o papel de interlocução e até mesmo organização para obtenção das metas de premiação, “consegue atender de maneira igual tanto a pequenos, médios e grandes fornecedores e encaixar cada um dentro da engrenagem que dá segurança ao nosso planejamento de moagem”.

Quando questionado sobre a dificuldade de implementar um projeto parecido em regiões mais tradicionais, ele acredita que três motivos podem ser considerados os principais entraves. O primeiro é em relação ao início da colheita mecanizada, onde desde o começo a usina assumiu o serviço fazendo com que o produtor nunca tivesse sido estimulado a se estruturar para tal procedimento.

O segundo se refere à falta de crédito para um investimento relativamente alto em uma frente de colheita (o parceiro precisa colher sua própria cana para conseguir entregar na data certa e com a qualidade desejada) e quando se acha dinheiro, seus juros são impagáveis se comparados com a renda gerada pela atividade.

Esses dois poderiam ser facilmente superados em um ambiente econômico mais favorável, porém o terceiro motivo se trata de um problema mais complexo, a proximidade de unidades industriais que acabam leiloando a cana do fornecedor. “Onde atuamos não existe mercado spot, não tem cana sem ser contratada. Quando você tem leilão, tem assédio, a pessoa começa a pedir o que não deve, fora a questão dos arrendamentos. Quando centralizamos todos os contratos e repassamos aos produtores, o que elimina a concorrência pela terra se remunera quem está no risco e quem desenvolve a atividade”, analisou Contiero.

O resultado dessa união não poderia ser outro senão produtividade, tanto que a Coruripe venceu um rigoroso prêmio nacional com foco no tema por dois anos seguidos, isso porque grande parte de seu canavial se encontra em ambientes mais pobres.

Conversa no “rabo do fogão a lenha”

Ao ver o líder da Siamig trabalhando, percebe-se que mesmo sendo jovem e conhecendo o setor há tão pouco tempo, seu dinamismo e determinação explicam como conseguiu atingir objetivos tão complexos.

O primeiro identificado com a perspectiva que seu estado deva quebrar o recorde de produção de etanol chegando próximo dos 3 bilhões de litros. “Vamos bater 2015, que foi o primeiro ano depois da mudança do ICMS”, diz Campos.

Uma segunda conquista é referente ao imposto citado acima, onde conseguiu o diferencial de 15 pontos percentuais, fundamental para disseminar o mercado do biocombustível no estado, porém ela não o deixa em uma zona de conforto, pois a entrada de novos governantes pode liquidar com todo o trabalho.

No evento que marcou o início da safra em Minas Gerais, ocorrido na unidade Vale do Tijuco (entre Uberaba e Uberlândia) da CMAA, ele conseguiu que o governador, Fernando Pimentel (PT-SP), anunciasse a manutenção por mais cinco anos de um crédito presumido de ICMS, 2,5%, sob o faturamento das usinas que, em contrapartida, assumiram a responsabilidade de investir em estradas nas regiões que estão localizadas, o que não vai gerar apenas benefícios sociais, mas também dará infraestrutura, principalmente em pontos de acesso e pontes para o início da utilização dos novos rodotrens, com capacidade de 91 toneladas.

O seu dinamismo não está relacionado apenas a assuntos políticos ou de mercado. Praticamente com a mesma visão do representante da Coruripe, ele exalta a sinergia que há entre fornecedores e usinas, mas não se limita a isso, apontando para o intercâmbio que existe entre todo o setor, fazendo com que diversos problemas sejam solucionados rapidamente devido a dicas de profissionais especializados e lideranças.

A prova disso foi a confirmação de um evento de difusão de tecnologia e conhecimento robusto como a canavicultura mineira já merecia, no qual a Siamig se uniu a Associação dos Fornecedores de Cana de Campo Florido, Canacampo, que há nove anos já organizava uma feira, e lançaram a primeira edição do Megacana Tech Show, prometendo em pouco tempo ganhar protagonismo não somente no estado, mas em todo o país, como um marco de difusão de conhecimento sucroenergético.

Fonte: Revista Canavieiros – Junho 2018

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