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Para Ford, Rota 2030 é mais urgente que incentivo

24 de Outubro de 2018

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O presidente da Ford na América do Sul, Lyle Watters, preparou-se, ontem, para um dia de grandes comemorações. Em São Paulo, tudo foi caprichosamente planejado para ele ser o anfitrião de uma festa de apresentação dos modelos da marca que estarão no salão do automóvel, no início de novembro. Enquanto isso, em Brasília, esperava-se que a comissão mista que discute o Rota 2030, finalmente destravasse a Medida Provisória que regulamenta o programa de incentivos para o setor automotivo. Correu tudo conforme planejado no evento de São Paulo. Já em Brasília, o clima não era para festas. A reunião foi adiada para hoje, no limite para a MP ser votada ainda neste governo.

O que travou a regulamentação do Rota 2030 foi uma emenda que prevê prorrogação de incentivos para fábricas de veículos construídas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Apesar de a Ford ser uma das mais interessadas, já que a sua maior operação está na Bahia, Watters desaprovou a pressa para decidir a questão. "Os incentivos [para fábricas nessas regiões] vão até 2020. Podemos voltar a discutir o assunto com o novo governo".

Por outro lado, disse, a aprovação do Rota 2030 é urgente. O texto da MP precisa ser encaminhado ao plenário da Câmara ainda hoje para garantir prazo para a votação no Congresso. Para o executivo, o Rota garante previsibilidade no setor.

Enquanto Watters seguiu, ontem de manhã, para o Palácio Tangará, um luxuoso hotel construído num palacete da década de 40, junto ao parque Burle Marx, o vice-presidente da Ford, Rogelio Golfarb voou para Brasília para, junto a outros tantos representantes de montadoras, acompanhar a leitura do parecer do deputado Alfredo Kaefer (PP-PR), relator da MP do Rota 2030.

A mudança de governo não preocupa Watters. Ele lembra que a Ford está no Brasil há quase 100 anos. Para o executivo, as empresas têm, agora, de aguardar as definições da futura equipe econômica para "ter mais clareza" de como a economia será conduzida. De qualquer maneira, ele espera um crescimento entre 10% e 12% nas vendas de veículos em 2019. Ou menos, a depender dio cenário.

Sua expectativa é menos otimista em relação à Argentina, onde a Ford produz a picape Ranger. "O mercado argentino sofrerá uma queda dramática este ano", diz. Ele lembra que a projeção, no início do ano, era de as vendas totais de veículos no país vizinho passarem de um milhão de unidades. O novo cálculo, diz, indica em torno de 550 mil unidades. "Em 2019 será possível chegar a 700 mil", afirma.

Na Argentina estão as maiores chances da sinergia entre as operações Ford e Volkswagen prevista no recente acordo mundial entre as duas montadoras. Mas Watters diz que pouco pode revelar porque o entendimento tem uma cláusula de confidencialidade.

Por enquanto, é um projeto chinês que desperta mais interesse nesse executivo irlandês que pede desculpas por ainda não saber falar português. Nos próximos dias, Watters viajará para a China para conhecer detalhes do desenvolvimento do Territory, um utilitário esportivo médio, desenvolvido na China junto com uma parceira, a Jiangling Motors, para mercados emergentes. Watters acredita no potencial do modelo no mercado brasileiro. Por isso, decidiu exibí-lo, a título de teste de público, no salão do automóvel de São Paulo.

Com mais de mil engenheiros em Camaçari, na Bahia, Watters diz que os incentivos para pesquisa e desenvolvimento, previstos no Rota 2030 e um dos benefícios mais aguardados pelo setor, são necessários para sustentar o potencial de crescimento das montadoras no país. "Inovação é a chave mais eficiente e sustentável numa indústria que tem enfrentado uma transformação muito rápida".

Na exibição das inovações da Ford, ontem, foi, no entanto, um acessório simples o que mais chamou a atenção. Desenvolvido no Brasil, um tapete do porta-malas do EcoSport transforma-se em rampa portátil para cadeirantes vencerem obstáculos. Ainda não disponível para venda, o produto foi usado numa apresentação do grupo teatral Menestréis, formado por atores cadeirantes. Nem sempre inovação é sinônimo de sofisticação.

Valor Econômico – 24/10/18

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