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Para caminhoneiros, anúncio de greve não terá força

10 de Dezembro de 2019

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 O anúncio de paralisação nacional dos caminhoneiros, convocada para a madrugada do próximo dia 16 por Marconi França, transportador autônomo de Pernambuco, não tem força para mobilizar a maioria dos profissionais no país, garantiram lideranças ouvidas pelo Valor. Em resposta, ele admitiu que há divisão, mas assegurou que as estradas vão parar semana que vem - e com apoio da população. “Nosso objetivo ao marcar nessa data foi justamente criar caos. É para sermos vistos”, disse França, referindo-se às festas natalinas.

A convocação de greve foi feita por França num vídeo, segundo ele gravado na sede da Central Única dos Trabalhadores do Rio de Janeiro (CUT-RJ), veiculado no fim da semana passada pelo Blog do Servidor, do jornal “Correio Braziliense”. Ao informar que tinha amparo da central, ele apontou colegas e afirmou ter apoio em Goiás, Rio, São Paulo, Paraíba e Mato Grosso.

“Ainda existe um racha sobre a paralisação, mas há também insatisfação grande com o presidente [Jair] Bolsonaro, que coloca um chapéu na cabeça e diz que o Brasil é do agronegócio. Ele está governando para os ricos. A greve vai dar certo, sim. É o que esperamos”, reiterou França.

Entre os líderes que mobilizaram a categoria em maio de 2018, Wanderlei Alves, o Dedéco, acompanha os grupos de WhatsApp e descarta a probabilidade de adesão em massa. “E digo mais: os caminhoneiros estão bem chateados com ele [Marconi França], por falar em greve neste momento. Em pleno dezembro, todo mundo querendo tirar férias, a economia começando a andar”, disse. “ Isso é coisa da CUT, do PT, da esquerda, de meia dúzia de gatos pingados.”

Diretor do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam), José Cícero Rodrigues assegurou que Santos não se juntará a colegas grevistas como no ano passado. “A greve de 2018 teve aquela dimensão porque havia grande insatisfação com governos anteriores, vinha de anos”, disse. Ele ressaltou que o impasse quanto ao diesel vem de décadas, não se resolverá rapidamente e que o governo tem ainda apoio de boa parte na classe.

Na pauta de greve, França falou das altas do diesel, mas destacou, sobretudo, que o piso mínimo do frete não é respeitado. Isso acontece, segundo ele, porque “falta vontade política” para que o Ciot (Código Identificador de Transporte) - dispositivo feito para regulamentar o pagamento referente à prestação do serviço de transporte rodoviário de cargas - funcione.

        .Não há força para mobilização nacional nem ambiente político para uma greve de caminhoneiros em larga escala como a que ocorreu em maio de 2018, garante José Cícero Rodrigues, diretor do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam).

Ele assegura o posicionamento da categoria em Santos mesmo após Marconi França, liderança dos caminhoneiros autônomos, anunciar paralisação nacional na madrugada do próximo dia 16.

A convocação foi feita em um vídeo, segundo França, gravado na sede da Central Única dos Trabalhadores do Rio de Janeiro (CUT-RJ), divulgado pelo Blog do Servidor, do jornal "Correio Braziliense". Ao dizer que tem o amparo da central, ele aponta também colegas e afirma que tem adesão de representantes de Goiás, Rio, São Paulo, Paraíba, Mato Grosso.

O caminhoneiro pede apoio da população e diz que o Brasil “vai parar” no meio do mês. “Você que não está satisfeito com o preço da gasolina, com o preço do óleo diesel, com o preço do ‘bujão’ de gás, então junte-se a nós, porque essa briga é de todos. Essa briga não é só nossa dos caminhoneiros”, diz.

Liderança sindical no complexo portuário mais importante do país, Rodrigues assegura, porém, que Santos não se juntará a esses colegas como ocorreu no ano passado. Na opinião de Rodrigues, esses caminhoneiros não representam a escolha da maioria da classe no país. Ele calcula que o presidente ainda conta com 60% de aprovação da categoria.

“A greve de 2018 teve aquela dimensão porque havia uma grande insatisfação com os governos anteriores, vinha de anos. Tanto que a população também apoiou, era um outro contexto, de desaprovação geral”, diz Rodrigues. Ele ressalta que o impasse em relação à política de preços da Petrobras é um problema de décadas que perdurou nos governos do PT.

“O poder mudou de mão, nós apoiamos essa mudança. Não dá para querer que as coisas se ajeitem de uma hora para a outra, é preciso esperar para saber o que o [presidente Jair] Bolsonaro vai fazer pela categoria”.

Para ele, uma solução momentânea seria, a exemplo do que a categoria fez em Santos, buscar negociação direto com a distribuidora.

“Aqui, quanto mais a gente consome, mais baixo o preço fica. Os companheiros precisam se organizar regionalmente e aguardar o que o governo vai fazer no ano que vem.”

"Meia dúzia de gatos pingados"

A convocação para uma greve de caminhoneiros “é coisa de meia dúzia de gatos pingados”, segundo o caminhoneiro Wanderlei Alves, o Dedéco, que compõe a liderança de Curitiba. “Não vai acontecer. Isso é coisa da CUT, do PT, da esquerda, de meia dúzia de gatos pingados”, disse ele ao Valor, sobre o anúncio feito pelo colega França. “Vou chegar ao Brasil perto do dia 15 para carregar e volto aqui para a Argentina. Tenho certeza de que nada vai parar.”

Entre as lideranças que mobilizaram a categoria em maio de 2018, Dedéco acompanha os termômetros nos grupos de WhatsApp e descarta a probabilidade de adesão em massa no curto ou médio prazos. “E digo mais: os caminhoneiros estão bem chateados com ele [Marconi França], por falar em greve nesse momento. Em pleno dezembro, todo mundo querendo tirar férias, a economia começando a andar...”

Segundo ele, a argumentação de que o diesel está caro é “fraca”, já que a correção do frete vem acompanhando as altas. “A greve de 2018 aconteceu porque o governo [Michel] Temer fechou as portas, ao contrário do atual. O Marconi não tem força para isso, ainda mais se aliando à CUT. Os caminhoneiros têm horror à CUT. Ainda estou tentando entender, e só vejo motivação política por trás disso. Se tem uma parte que está insatisfeita com o governo, tudo bem. Espera 2022 e vota noutro”, comentou.

Fonte:  Valor Econômico – 9/12

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