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O agronegócio precisa do capital estrangeiro

13 de Janeiro de 2017

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Jacyr Filho – Diretor-geral da Tereos no Brasil e Presidente do Cosag - FIESP (Conselho Superior de Agronegócio da FIESP)

Artigo extraído da Revista Opiniões em 13/01

Anos atrás, Mario Amato, saudoso ex-presidente da Fiesp, afirmou que o investimento na agricultura poderia ser comparado com “uma chuva na nascente do rio” – a partir dali, toda a economia seria irrigada. Mais do que nunca, a declaração de Amato é verdadeira. Investir no agronegócio é fortalecer um setor de vanguarda – inovador tecnologicamente, promissor e resiliente. Em tempos de bonança ou de crise, a agricultura tem se provado o grande esteio da economia brasileira. Prova disso é o que ocorreu em 2015, ano em que o PIB do País recuou 3,8%, pior resultado econômico em 25 anos. Em meio a esse cenário de recessão, a agropecuária foi o único setor a registrar crescimento: quase 2%. 

A força do agronegócio brasileiro só deve aumentar daqui para a frente. Muito em função de que, segundo a ONU, em 2050, a população mundial deve ultrapassar a marca de 9 bilhões de pessoas, criando uma demanda cada vez maior por alimentos e fontes renováveis de energia – com qualidade e preços acessíveis. Nesse cenário, poucos países têm as vantagens competitivas que o Brasil apresenta para se tornar, quem sabe, o grande player global do agronegócio. 

A possibilidade de expandir a área agrícola sem prejuízo para a biodiversidade, a abundância de luz e água e a grande disposição para assimilar o que há de mais moderno na tecnologia para aumento da produtividade no campo são só alguns desses pontos que podem colocar o País em outro patamar em relação ao resto do mundo. Claro que o movimento de fortalecimento do setor agrícola e o aproveitamento desse enorme potencial global do agronegócio brasileiro podem ser muito mais rápidos, dependendo das condições econômicas.  

O incentivo maior ao capital estrangeiro também é um fator importante e que deveria ser mais explorado. Mais do que recursos financeiros, os investimentos internacionais podem abrir novos mercados para os produtos do País, facilitar crédito a custos reduzidos e dar acesso a tecnologias e inovações ainda não utilizadas. Não faltam exemplos práticos dos benefícios que o capital estrangeiro pode proporcionar ao desenvolvimento do setor agrícola brasileiro.

Em 2006, a BrasilAgro comprou um projeto abandonado de produção e processamento de caju em uma área de 32 mil hectares no município de Baixa Grande do Ribeiro, no Piauí. Investiu na produção de soja e milho, empregando alta tecnologia e, assim, multiplicou a arrecadação de ICMS do município em cinco vezes. 

Essas mesmas técnicas de produção foram, então, adotadas por outros agricultores da região, dando sustentação ao desenvolvimento local.  A própria Tereos, a maior cooperativa agrícola francesa, que chegou ao Brasil em 2001, trazendo o modelo cooperativista, se tornou uma das empresas líderes do setor sucroenergético brasileiro. A empresa possui oito unidades industriais e desenvolveu 1.200 fornecedores de cana-de-açúcar e de mandioca, responsáveis por mais da metade da matéria-prima processada pela empresa. O Brasil representa, hoje, 20% do faturamento do grupo.

Outro exemplo, caso emblemático, é o da Ipanema Coffees, reconhecida produtora de café de qualidade em Alfenas-MG, que recebeu o investimento de grupos como o norueguês Friele, o alemão Haribo e o japonês Mitsubishi. Os novos sócios trouxeram conhecimentos mercadológicos que agregaram valor ao café produzido pela Ipanema. 

Não há dúvidas de que a entrada do capital estrangeiro é benéfica para o agronegócio brasileiro. Porém, para garantirmos um fluxo regular desses investimentos, é preciso que o governo brasileiro mostre um planejamento concreto de longo prazo, que evite mudanças abruptas do mercado, excesso de burocracia e alterações constantes de leis restritivas. Um levantamento feito pelo Departamento do Agronegócio da Fiesp (Deagro) apontou que, desde o ano 2000, foram apresentados 35 mil novos Projetos de Lei para o setor, o que dá uma média de 2 mil Projetos de Lei por ano. Isso significa cerca de 1.366 novas normas e regulamentações aprovadas para o segmento, o que torna o cenário muito incerto e cria restrições ao investimento externo.

É fundamental criar um ambiente de negócios menos hostil e mais previsível, por meio da reforma de legislações antiquadas, estimulando práticas avançadas, sustentáveis e competitivas globalmente, abrindo novos mercados e valorizando a marca Brasil. Um passo dado nesse sentido aconteceu em maio deste ano, quando a Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento da Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que autoriza a emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) indexados ao dólar.

O instrumento é visto como mais uma alternativa de obtenção de crédito para o setor.  Mas ainda é pouco e há um longo caminho a percorrer. É mais do que hora de incentivar aquilo que o Brasil tem de melhor a oferecer ao mundo. A produção do agronegócio – alimentos de qualidade e energia limpa e renovável – certamente faz parte disso.

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