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No Centro-Sul, cana ainda decepciona

29 de Junho de 2022

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A moagem de cana do Centro-Sul desta safra 2022/23 vem mostrando que a recuperação após as graves intercorrências climáticas do ano passado (seca, geadas e incêndios) será bem mais tímida que o esperado. Com um terço do período da safra transcorrido, a produtividade está menor que na safra passada e a concentração de sacarose também está pior, o que vem restringindo a oferta de matéria-prima necessária para a produção de açúcar e etanol.

A União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica) divulgou ontem que a moagem de cana entre o início da temporada, em abril, e a primeira metade de junho ainda estava 21 milhões de toneladas “atrasada” na comparação com o mesmo período da temporada passada. E, nas 145,7 milhões de toneladas de cana processadas até agora, a quantidade de sacarose extraída está menor, reflexo principalmente do clima do ano passado, que afetou o desenvolvimento da gramínea. Com isso, a quantidade total de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) obtida da cana está em 18,1 milhões de toneladas, ou 3,7 milhões de toneladas menor.

Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Única, estima que a redução do teor de ATR nesta safra deve ser de mais de 3 quilos por tonelada de cana processada. Na média, o índice deve cair dos 142,88 quilos de ATR por tonelada de cana de 2021/22 para algo perto de 139 quilos por tonelada.

Isso deve ofuscar, em parte, o esperado aumento da moagem de cana e resultar em um volume total de ATR mais próximo do que o registrado na safra passada, quando a quantidade de ATR obtida da moagem foi de 74,7 milhões de toneladas - o menor volume desde a safra 2012/13. Desde então, o segundo pior resultado foi o da safra 2014/15, quando foram obtidos 78,2 milhões de toneladas de ATR.

No mercado, as estimativas para o volume de cana moída nesta safra giram em torno de 540 milhões e 550 milhões de toneladas. Em recente coletiva, o CEO da Copersucar, Tomas Manzano, disse que as projeções indicavam um volume entre 540 e 548 milhões de toneladas. Mas, se o teor de sacarose na cana continuar baixo, o volume total de ATR deve ficar perto dos piores níveis da década.

O problema não é uniforme no Centro-Sul. Os dados da Unica mostram que o rendimento da cana em São Paulo até o momento está abaixo da média, com um teor de ATR de 125,5 quilos por tonelada de cana. No Paraná e em Mato Grosso do Sul, a produtividade dos canaviais foi mais afetada pela seca e as geadas do ano passado. Já em Goiás, a situação tem se mostrado mais favorável.

Com isso, as empresas que concentram em São Paulo a maioria de suas usinas têm sido menos otimistas com a safra. A São Martinho - que tem no Estado três de sua quatro usinas - previu na última semana uma redução de 1,2% no ATR total da safra (2,9 milhões de toneladas). Já a Jalles Machado, que tem duas plantas em Goiás, espera um aumento de até 5% no ATR total nesta safra (até 776 mil toneladas).

Até o momento, o produto que está sentindo com maior intensidade a menor oferta de matéria-prima é o açúcar, já que as usinas estão direcionando mais cana para produzir etanol. A oferta de açúcar do Centro-Sul do Brasil está 2 milhões de toneladas menor até o momento, somando 7,2 milhões de toneladas - o que mantém um aperto na oferta global. Nos dois primeiros meses da safra, o Brasil exportou 30% menos açúcar que no mesmo período do ciclo passado, ou 3 milhões de toneladas.

A produção de etanol também caiu, mas estaria menor se não fosse o mix mais alcooleiro e a produção a partir do milho. No acumulado da safra, o cereal foi a fonte de 11% dos 7 bilhões de litros do etanol produzido no Centro-Sul.

Fonte: Valor Econômico - 29/06/2022

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