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Mitos e burocracia detêm avanço da aviação agrícola no Brasil

03 de Julho de 2017

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A aviação agrícola completa 70 anos no Brasil. Estima-se que cerca de 30% da área plantada no país receba pulverizações feitas por aeronaves, e o setor apresenta crescimento da ordem de 10% ao ano. Ainda assim, ainda há muitos gargalos a serem enfrentados para que a atividade se expanda ainda mais no Brasil, como ideias preconcebidas e burocracia.

Para o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), Júlio Kampf, a atividade sofre preconceito no país por uma parcela da população. Ele afirma que parte da sociedade brasileira vê no avião agrícola um símbolo de “poluição” no sistema agropecuário.

 “Esse é um mito que a gente está tentando derrubar, mostrando que a aviação tem muita tecnologia e é mais eficiente para o controle de doenças com menor agressão ao meio ambiente”, diz.

Além disso, os custos da pulverização aérea seriam semelhantes aos da aplicação terrestre, afirma o diretor-executivo do Sindag, Gabriel Colle. Ele assegura que a pulverização terrestre também é eficaz, mas ela não conseguiria atuar em algumas situações emergenciais, por exemplo. Além disso, ela pode provocar amassamento da cultura, enquanto que a aplicação aérea não provoca esse tipo de dano e ainda evita contaminações. “Ela não leva a doença de uma lavoura para outra, porque o avião não toca na cultura”, exemplifica.

Colle afirma que o uso do trator nessas operações até aparenta ser mais barato. “Só que vai levar o dia inteiro, com o risco de o clima não te ajudar. Com o avião, você poderia fazer em 30 ou 40 minutos o trabalho na mesma área e com muito mais eficiência”.

Em setores como arrozeiro e o sucroenergético, a pulverização é a única alternativa viável. Mas os mitos e a burocracia que envolvem a aviação agrícola atrapalham a expansão dos negócios.

O coordenador regional do Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), Ivo Mello, considera o avião como um legítimo parceiro de sua atividade. “O avião agrícola com boas práticas, com pessoal capacitado, está contribuindo para a sustentabilidade socioambiental do nosso ambiente agrícola”, diz.

Muitas pessoas, ao verem uma aeronave no ar, interpretariam como situações de risco manobras que são apenas convencionais, acredita a assessora jurídica de sustentabilidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica-SP), Renata Camargo. “Acham que o avião já está aplicando o defensivo ali, e não é isso que ocorre”, diz. Ela afirma que outra concepção errônea é a de que o procedimento é o principal responsável por casos de intoxicação por agrotóxicos. “Os maiores índices de intoxicação são pela aplicação costal”, garante.

Setores que não dependem exclusivamente da pulverização aérea, como a sojicultura, também encontram dificuldades na legislação que envolve o assunto. O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil), Marcos da Rosa, afirma que as regulamentações estão defasadas e prejudicam o uso da aviação agrícola no país.

Segundo ele, não se pode diminuir a responsabilidade de quem utiliza ou contrata o serviço de pulverização aérea. “Mas que (a regulamentação) não atrapalhe o andamento dos serviços e a evolução dessa grande ferramenta pra agricultura brasileira”, afirma.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é o órgão responsável por avaliar se o produto a ser usado na pulverização aérea pode causar danos ambientais. Segundo a entidade, quem segue à risca as instruções do rótulo não tem problemas, mas nem todo mundo faz assim.

Coordenador substituto de controle de substâncias e produtos perigosos do Ibama, Régis de Paula afirma que, na grande maioria dos casos em que a entidade autua empresas de aviação – em fiscalizações complementares, já que estados e municípios são os responsáveis por essas ações -, isso ocorre em razão de uso inadequado ao que é estabelecido no rótulo dos produtos utilizados.

O Ministério da Agricultura considera a pulverização aérea mais segura do que a terrestre. A opinião do coordenador de aviação agrícola do Mapa, Luís Pacheco, é de que todos os profissionais que estão trabalhando com aviação agrícola sabem exatamente o que estão fazendo e os riscos e o perigo de não se trabalhar dentro das condições técnicas que a legislação indica.

“O piloto tem que ter um curso de aviação agrícola específico, o agrônomo tem que ter um curso de coordenador em aviação agrícola e o técnico tem que ser executor em aviação agrícola”, relaciona. Na última semana, representantes do governo e da aviação agrícola se reuniram para buscar soluções para o setor se expandir. As sugestões foram reunidas em um documento que será encaminhado aos órgãos do governo envolvidos na aviação agrícola e também a todos os parlamentares do Congresso. O objetivo é pressionar as autoridades para que as demandas sejam atendidas o mais rapidamente possível.

“Nosso interesse é divulgar a tecnologia da aviação agrícola para a população e trocar experiências com Ibama, órgãos reguladores e o próprio Ministério da Agricultura, para desmistificar o uso do avião e melhorar nossas normas”, afima Julio Kampf, do Sindag.

(Fonte: Globo Rural - 02/07/17)

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