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Melhoram perspectivas para a cogeração

08 de Maio de 2018

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O ritmo de expansão da capacidade de cogeração de energia a partir do bagaço da cana nunca esteve tão fraco desde que o segmento começou a investir na atividade com mais força, no início da década passada. No entanto, os últimos leilões de geração já apresentaram um cenário mais previsível e rentável, o que poderá estimular uma retomada dos aportes, de acordo com analistas e executivos.

Neste ano, a fonte "biomassa" (que também inclui outras matérias-primas, embora sejam menos expressivas que a cana) acrescentará apenas 58 megawatts (MW) de potência à matriz energética do país, segundo levantamento da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica) a partir de dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Será o menor incremento de capacidade pelo menos desde 2002 (ver infográfico).

De todo o crescimento de capacidade de geração de energia elétrica no país neste ano, a biomassa responderá por apenas 1%.

Essa quase estagnação da cogeração é reflexo da falta de incentivos nos últimos quatro a seis anos, quando praticamente não houve leilões direcionados para a fonte biomassa, afirma Zilmar de Souza, gerente de bioeletricidade da Unica. Segundo ele, os leilões realizados no período tinham preços "erráticos" e "declinantes", sem uma "política de previsibilidade" para a realização dos certames.

Mais recentemente, porém, o preço da energia no mercado livre passou a oferecer uma melhor remuneração, colaborando inclusive para fortalecer os balanços das usinas. Mas ainda não é suficiente para incentivar aportes expressivos em expansão de capacidade. Segundo Souza, a contratação de energia no ambiente regulado é a forma mais segura de incentivar investimentos, já que os contratos de longo prazo servem como garantia para tomar financiamentos no BNDES. Já o mercado livre não oferece essa garantia.

Os últimos leilões foram um alento para as usinas. No leilão A-6 realizado no ano passado, que negociou contratos de energia de cinco novos empreendimentos com início de fornecimento em 2023, os projetos de cogeração a partir de bagaço de cana terão uma receita fixa de R$ 237,28 por megawatt-hora (MWh), já somado o Custo Econômico de Curto Prazo (CEC), de acordo com a consultoria FG/A.

Esse patamar de remuneração, embora não tenha sido o maior dos leilões dos últimos dois anos, já está bem acima do preço inicial oferecido, por exemplo, no leilão A-5 de 2013 - cujos projetos contratados estão começando a entregar energia neste ano -, que ficou em torno de R$ 133 o MWh.

Para o próximo leilão, em agosto, Zilmar acredita que o número de projetos de cogeração cadastrados poderá ser maior que no último, de abril, quando foram cadastrados 28, totalizando 1.423 MW de acréscimo de potência instalada.

Mas há também investimentos em cogeração que têm sido realizados para turbinar a capacidade de geração de caixa das usinas, sobretudo as que já tem alguma unidade de cogeração e querem aumentar sua capacidade.

A FG/A tem notado um aumento na demanda por esse tipo de investimento. Atualmente, a consultoria está assessorando projetos que totalizarão investimentos de R$ 605 milhões em cogeração, mais que em anos anteriores, afirma Lucas Burin, sócio da consultoria.

Esses aportes estão sendo tocados por dez empresas, mas apenas quatro estão investindo porque negociaram em leilão. Segundo Burin, muitas empresas do segmento têm investido em aumento de eficiência energética dentro da usina, o que leva a uma "sobra" de vapor para destinar à cogeração. "Essa energia adicional acaba indo para o mercado livre, e não necessariamente é pouca energia", diz.

Burin avalia que esse tipo de investimentos em cogeração foi, em alguma medida, preservado nos últimos anos, já que a venda de energia oferece margens elevadas. "O custo adicional para uma usina produzir e vender energia é marginal, porque ela já tem o bagaço".

Fonte: Valor Econômico - 08/05/2018

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