Notícias

Mário Campos, presidente da Siamig, fala sobre o cenário do setor sucroenergético

20 de Outubro de 2017

Notícias

“Cenários do Setor Sucroenergético e sua Cadeia Produtiva”. Este será o tema do seminário que acontece, hoje (19), dentro da programação da ExpoCigra Fiemg. O evento contará com a participação do presidente da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), Mário Campos. Ele conduzirá um talk show, no qual lideranças do segmento discutirão o atual momento e ainda as perspectivas em médio e longo prazo, analisando o cenário mundial.

O seminário começa a partir 18h30, no pavilhão denominado “Espaço de Negócios do Sebrae”. Em entrevista ao JORNAL DE UBERABA, o economista Mário Campos fala da atual situação do setor sucroenergético em Minas Gerais, comenta os avanços tecnológicos e ambientais, aborda o impacto da crise econômica nacional e destaca a importância desse setor para o desenvolvimento do país por meio da geração de empregos, renda e sustentabilidade.

Jornal de Uberaba - Qual a importância de falar do setor sucroenergético em um evento como a ExpoCigra?

Mário Campos - A ExpoCigra é uma feira de negócios da indústria de Uberaba e região. Quando a gente observa Uberaba e todo o Triângulo Mineiro, nós temos uma vocação muito presente da região para a agroindústria, que alinha o agro a indústria. No Triângulo Mineiro nós temos, hoje, a maior região produtora de cana-de-açúcar, etanol e bioeletricidade do estado de Minas Gerais. Estão localizados em torno de 65% da produção mineira do produto. E não é só o setor, nós temos toda uma agroindústria presente na região. Então, quando a gente fala de uma feira da indústria, uma feira de negócios, a importância da nossa presença é demostrar que esse setor tem uma relevância muito grande na região. E como setor relevante, ele gera uma série de negócios. Negócios esses que estão do lado agro e negócios esses que estão do lado industrial. E isso gera uma série de oportunidades para quem almeja participar desses processos. De fornecimento, de ser prestador de serviço, de produzir equipamentos e vender para as empresas. Então, gera uma série de negócios possíveis. Por isso, que nossa presença é relevante para a região. O talk show ele tem o objetivo de mostrar as potencialidades do setor, o que é necessário para que uma empresa possa ser fornecedora do segmento. Ou seja, colocando as oportunidades que nós teremos nos próximos anos.

JU - Qual é o cenário do setor sucroenergético, atualmente, em Minas Gerais e no Brasil?

Mário Campos - Nós temos hoje um setor, em termos de produção, estagnado. Crescemos muitos durante o período de 2005 a 2010. Minas Gerais, praticamente, triplicou a sua produção nesse período. Foram realizados vultosos investimentos. Devido a uma crise provocada, principalmente, por erros do governo federal nós tivemos 11 usinas fechadas em Minas. Mas conseguimos manter a produção, o volume produtivo. As empresas que estão, hoje, de pé elas conseguiram crescer um pouco ou incorporar as áreas dessas empresas fechadas. Há cinco anos, nós temos um setor, mesmo com todas as dificuldades, produzindo em torno de 62 a 64 milhões de toneladas. Este ano, a nossa expectativa é moer 64 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Nós estamos no aguardo da assinatura do lançamento de uma medida provisória do Renova Bio, um programa do governo federal que vai incentivar a produção e uso de biocombustíveis no Brasil. Dentre eles, o etanol que é um de nossos produtos. Como característica principal do Renova Bio, nós vamos ter um programa de descarbonização da nossa matriz veicular, do que é usado, hoje, nos carros. E com isso vai ser criado um mercado de carbono privado que vai levar maior eficiência por parte do setor produtivo. Assim, quem for mais eficiente gerará mais créditos relacionados a carbono com o mesmo volume produzido. Então, nós acreditamos que, além de um programa de descarbonização, será um programa também de eficiência. E todo programa de eficiência poderá ter, em médio e longo prazo, um impacto fortíssimo na redução de custo de produção. Dessa forma, o consumidor seria altamente beneficiado porque teria mais biocombustível no mercado a um custo mais acessível.

JU - E como a crise econômica nacional afetou o setor?

Mário Campos - Uma parte da nossa produção ela é destinada à exportação. Essa parcela, principalmente açúcar, ela depende dos preços do mercado internacional e do câmbio brasileiro. Em 2016, o preço do açúcar foi muito bom. Isso incentivou investimentos nessa área. E o que nós estamos vendo em 2017, não é aquela realidade do ano passado. Mas, em relação ao mercado internacional, nós já somos acostumados a viver com esse sobe e desce dos commodities. Então, inicialmente nós tivemos um efeito positivo no mercado de açúcar, que é aquele exportado. Com relação ao etanol, nós estamos falando basicamente do mercado interno. E obviamente uma crise financeira impacta a renda da população brasileira e, dessa forma, número de carros vendidos e o uso de combustíveis. Então, nós tivemos, sim, um impacto na demanda de combustíveis no Brasil. Nos dois últimos anos, tivemos praticamente uma demanda estagnada. Isso, com certeza, tem um impacto no nosso negócio de etanol, que é mercado interno. O nosso terceiro produto é a bioeletricidade, energia elétrica, e também foi da mesma forma. Então, com a crise econômica houve uma redução do consumo de energia no país. Mas, com relação a energia, como nós estamos vivendo nos últimos anos uma série de seca, com os reservatórios baixos, nós tivemos alguns períodos de preços bem remunerativos. Em geral, tivemos um impacto da crise nacional. Mas ela foi minimizada em função de termos uma parcela da nossa produção exportada.

JU - Qual a importância desse setor para a economia brasileira?

Mário Campos - Estamos falando de 380 usinas em todo o país. Nós estamos falando também de um milhão de empregos diretos gerados, inclusive no interior dos estados, em cidades onde é muito difícil gerar emprego. Então, nós somos um vetor de geração de desenvolvimento regional econômico. Produzimos um produto que é biocombustível, ou seja, que tem toda uma característica ambiental importante, de redução das emissões, de melhoria da qualidade do ar e de impacto, inclusive positivo, na questão de saúde pública. Então, nós temos uma importância econômica, uma importância ambiental e uma importância em saúde pública. Além disso, somos um setor do agronegócio, que é aquilo que vem dando certo no país nos últimos anos. E temos uma boa parcela das exportações brasileiras. O Brasil é o maior exportador de açúcar do mundo. Então, nós temos uma participação relevante na balança comercial brasileira.

JU - Quais os reflexos positivos e negativos da mecanização da colheita e do plantio da cana-de- açúcar?

Mário Campos - A mecanização foi altamente positiva para o setor. Claro, a gente passou por um período de dificuldade, um período de aprendizagem para que a gente conseguisse aperfeiçoar dentro de um modelo de corte manual para um modelo de corte mecanizado. E não é só a colheita, nós estamos falando também de plantio mecanizado. Isso trouxe novas oportunidades para a região. Saímos da característica de um trabalhador pouco qualificado, um trabalhador, muito deles migrantes, que só vinham durante a safra, para um trabalhador qualificado, um trabalho permanente dentro da empresa, que dura o ano todo. Ou seja, modificamos a qualidade do trabalho. E para isso, precisamos aperfeiçoar os trabalhadores. Nós fizemos uma série de cursos, nos últimos anos, de aperfeiçoamento e isso ajudou muito aumentar e melhorar a qualidade da operação. Obviamente isso impactou, de certa forma, o número de empregos dentro do setor. Mas, hoje, nós temos um emprego de melhor qualidade. E isso gera, com certeza, mais renda. E dessa forma, os recursos circulam mais pelas regiões produtoras. Não havia o menor cabimento de ter a expansão que o setor teve dentro de um processo de corte manual. Nós não teríamos outra alternativa. E com relação ao nosso produto, o biocombustível, nós utilizamos como principal publicidade o fato de ser absolutamente correto. O fato de não queimar a cana auxilia ainda mais para que esse produto seja limpo e renovável.

JU - De que outras maneiras a tecnologia tem sido uma boa aliada da cultura da cana?

Mário Campos - O nosso maior desafio é aumentar a produtividade. E produtividade nós vamos conseguir melhorando a forma de produzir a cana-de-açúcar. Isso é possível com programas de manejos, de melhoria do próprio plantio ou da colheita, de uso de inteligência de dados para verificar a melhor forma de plantar e a melhor variedade de solo. Ao longo dos últimos anos, nós temos visto um grande movimento por parte das usinas, principalmente as daqui da região. As usinas estão fazendo um trabalho muito interessante, usando muita informação e tecnologia para ter áreas cada vez mais produtivas. Não só as usinas, mas os produtores rurais estão também fazendo um grande trabalho de forma a aumentar a produtividade do canavial. Dessa forma, nós vamos conseguir ter produtos cada vez mais competitivos no mercado, seja açúcar ou etanol.

JU - E de que outras maneiras a sustentabilidade está presente nessa cadeia produtiva?

Mário Campos - No processo de crescimento do setor nós tivemos, nos últimos anos, uma grande evolução do entendimento por parte do empreendedor da questão ambiental no estado. E, sem dúvida, o setor de cana foi um dos maiores parceiros nessa questão de produção com respeito ao meio ambiente. Nós temos uma preocupação muito grande, porque diferente de outros setores do agronegócio, o processamento da matéria prima ocorre próximo da produção da área plantada. Então, a gente observa, hoje, o setor com todo o cuidado que foi feito, as reservas que foram preservadas, as áreas de preservação permanentes, o fim da queima da cana-de-açúcar que possibilitou a volta dos animais nas áreas canavieiras. Até onças em algumas regiões nós encontramos. Foram criados corredores ecológicos, conectividade entre as matas, entre as reservas. Então, isso possibilitou uma série de coisas boas para o meio ambiente.

(Fonte: Jornal de Uberaba - 19/10/17)

Veja também