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Indústria de etanol dos EUA pede a Trump tratamento igual ao dado a petroleiras na crise

20 de Março de 2020

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A indústria americana de etanol reivindicou do governo de Donald Trump tratamento isonômico ao dado à indústria de petróleo do país e pediu que a administração federal não conceda mais isenções ao cumprimento das regras do Padrão de Combustíveis Renováveis (RFS, na sigla em inglês). Mesmo assim, o cenário traçado pelo setor é de que haverá usinas fechando em algum momento pela falta de escoamento de etanol diante das restrições ao movimento de pessoas no país e no mundo por causa do coronavírus.

“Nós queremos concessão de crédito e redução de impostos e o compromisso de que a EPA [Agência de Proteção Ambiental] não aprove mais isenções às pequenas refinarias”, disse Geoff Cooper, CEO da Associação de Combustíveis Renováveis (RFA, na sigla em inglês), em coletiva de imprensa feita nesta quinta-feira, por telefone. O pedido foi feito poucas horas após o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, anunciar que o governo federal comprará mais US$ 10 bilhões ou US$ 20 bilhões em barris de petróleo, para aumentar as reservas estratégicas do país e ajudar a indústria petrolífera americana, abalada pela guerra de preços detonada pela Arábia Saudita.

Na coletiva, Cooper, da EPA, mencionou o anúncio de Mnuchin e disse: “Esperamos que toda a indústria de combustíveis receba tratamento igualitário”.

Nesta quinta-feira, duas pequenas refinarias pediram à EPA que conceda isenção ao cumprimento de seus mandatos de mistura obrigatória de combustíveis renováveis nos fósseis. Com isso, a EPA tem pendentes 25 pedidos de isenções referentes ao cumprimento de mandatos de 2019. Cooper ainda incluiu na lista de reivindicações o pedido para que o governo americano não apele contra uma decisão do 10º Circuito da Tribunal de Apelações dos EUA, que julgou que a EPA abusou de sua autoridade ao conceder dezenas de isenções às pequenas refinarias nos últimos três anos. A agência americana ainda não se posicionou sobre se vai recorrer da decisão.

Apesar dos pedidos de apoio, as usinas já estão vendo dificuldades para continuarem suas operações por muito mais tempo porque os tanques de etanol estão começando a ficar abarrotados de produto que não encontra escoamento no mercado.

“Não tem espaço para estocar etanol e nossos clientes também não. Podemos ter que fechar só por não ter que estocar”, disse Jeanne McCaherty, CEO da companhia Guardian Energy Management, que também participou da coletiva. A “destruição da demanda” por etanol não é comparável nem a episódios como na primeira Guerra do Golfo, quando as vendas caíram entre 30% e 40%, mas logo se recuperaram, comparou Scott
Richman, economista chefe da RFA.

“Nunca passamos por esse tipo de situação em nossas vidas. [A retomada do setor] vai depender da rapidez da recuperação [da demanda] e em quanto vai recuperar", disse Richman.

Cooper ressaltou que, ainda que se preserve os mandatos de biocombustíveis, a redução do consumo de combustíveis em geral afetará o setor, já que os mandatos são estabelecidos em percentuais sobre as vendas de combustíveis fósseis. A indústria de etanol já vem operando com prejuízos “elevados”, disse Richman, diante da profunda queda dos preços do petróleo no mercado internacional. Segundo Cooper, apenas os custos trabalhistas de uma usina eficiente já representam US$ 0,68 de cada galão de etanol produzido.

Nesta quinta-feira, os contratos futuros do etanol na bolsa de Chicago subiram acima de US$ 1 o galão, mas na quarta-feira chegaram a fechar em US$ 0,950 o galão.

A ligeira recuperação dos preços acompanhou o petróleo, que subiu diante da notícia de compra de arris por parte do governo americano e ampliou a alta após o “Wall Street Journal” informar, no início da tarde, que o governo americano considera um esforço diplomático junto aos sauditas e os russos para ajustar a oferta de petróleo.

 

Fonte: Valor Econômico - 19/03

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