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Guerra dos plugues: a luta pela supremacia dos carros elétricos

31 de Janeiro de 2018

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Um grupo de montadoras alemãs uniu-se à americana Ford para dar um passo importante no mercado de carros elétricos: elas vão construir uma rede conjunta de postos de recarga de alta tensão para atender suas marcas, na expectativa de ditar o padrão de plugues e protocolos que serão adotados pela indústria.

No momento, as montadoras japonesas, alemãs e a Tesla utilizam plugues diferentes para conectar as baterias de seus carros aos carregadores. Porém, segundo o grupo de empresas que está lançando a nova rede de postos de recarga — indispensáveis para a popularização dos modelos elétricos —, será preciso limitar o número de formatos de plugue utilizados para que os custos se mantenham num patamar razoável.

As montadoras que vencerem essa disputa terão a vantagem de dispor de uma cadeia logística pronta e uma extensa rede de postos, o que deve tornar seus veículos mais atraentes para os motoristas interessados em fazer viagens mais longas, segundo analistas.

Por outro lado, as que saírem derrotadas devem amargar grandes prejuízos: elas podem ver seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento não resultarem em nada, e ser obrigadas a adaptar suas linhas de montagem e o design de seus modelos para que os clientes utilizem as redes de carga rápida com maior cobertura.

De acordo com uma estimativa do banco suíço UBS, será preciso investir US$ 360 bilhões em infraestrutura de recarga por todo o mundo para atender à demanda dos novos veículos elétricos. Limitar o número de tecnologias utilizadas será crucial para um bom resultado.

“O mercado de carga rápida pode estar crescendo rápido, mas a questão dos diferentes tipos de conectores e tecnologias de comunicação terá de ser resolvida mais à frente”, diz o estudo publicado este mês.

Visando a criar massa crítica para o sistema mais utilizado na Europa, o Combined Charging System (CCS), a BMW, a Daimler (fabricante da Mercedes-Benz), a Ford e o grupo Volkswagen (que inclui Audi e Porsche), divulgaram em novembro a intenção de construir 400 postos de recarga de alta tensão em estradas importantes de 18 países europeus até 2020.

“No fim das contas, trata-se de uma maneira de proteger os investimentos de quem está apostando na mobilidade elétrica”, afirma Claas Bracklo, chefe de eletromobilidade da BMW e presidente da Charging Interface Initiative (CharIN), que está respaldando o CCS. “Fundamos a CharIN para nos colocarmos numa posição de poder.”

Os elétricos ainda estão engatinhando e é difícil prever qual tecnologia irá vencer a disputa, ou mesmo se continuará havendo várias alternativas para fazer a recarga dos veículos — ao contrário do que acontece com os carros a gasolina, em que há um padrão universal.

Para os fabricantes que estão injetando bilhões de dólares no desenvolvimento de baterias e carros elétricos, porém, há muito em jogo — e esta é uma partida decisiva.

Guerra de formatos

Além do CCS, existem três outros padrões de plugue para carga rápida de baterias: o sistema Supercharger, da Tesla; o CHAdeMO, ou Charge de Move, criado por empresas japonesas (Nissan e Mitsubishi entre elas); e o GB/T, da China, país que é o maior mercado para carros elétricos do mundo.

“Creio que com o tempo o CHAdeMO e o CCS devam convergir, possivelmente para o atual padrão CCS, e só o tempo dirá o que vai acontecer com a Tesla”, diz Pasquale Romano, CEO da ChargePoint, firma do Vale do Silício que administra uma das maiores redes de postos de recarga do planeta.

Até o momento, há 7.000 pontos de recarga CCS espalhados pelo mundo, segundo a CharIN, sendo que mais da metade deles estão situados na Europa. A União Europeia respalda o CCS como plugue padrão para carga rápida, mas não proíbe que outros modelos sejam instalados.

Para efeitos de comparação, os pontos de recarga compatíveis com o CHAdeMO somam 16.639 (a maior parte no Japão e na Europa) e a Tesla possui 8.496 Superchargers (a maioria nos Estados Unidos). Já a China possui 127.434 postos de carga GB/T, segundo a Aliança Chinesa para a Promoção de Infraestrutura de Recarga para Veículos Elétricos.

Tal como em outras disputas para determinar o padrão utilizado em uma indústria, como a que se travou no setor de fitas de vídeo entre os sistemas VHS e Betamax, cada padrão de recarga tem seus prós e contras.

O sistema da Tesla é exclusivo para os clientes da marca, por exemplo, ao passo que o CCS possui um plugue duplo que pode ser conectado em corrente contínua (CC) ou alternada (CA), o que amplia o número de pontos de recarga à disposição dos motoristas.

O sistema CHAdeMO, por sua vez, permite que os motoristas vendam energia da bateria de volta para a rede elétrica, num processo conhecido como carga bidirecional. Isso ajuda a estabilizar as redes elétricas em períodos de pico e pode render alguns trocados para os donos de veículos.

“Se eu fosse a Nissan, ia querer pegar esse padrão e torná-lo o dominante”, diz Gerard Reid, fundador da Alexa Capital, que presta consultoria a companhias elétricas, de tecnologia e de infraestrutura energética. “Isso lhes daria uma vantagem sobre a concorrência.”

Fonte: Reuters – 30/01/2018

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