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Guerra de preços no petróleo pode afetar planos da Petrobras

09 de Março de 2020

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Se a queda de 9,44% da cotação do barril do petróleo na sexta-feira já indicava pressão sobre as receitas da Petrobras no curto prazo, a decisão da Arábia Saudita, anunciada no fim de semana, de elevar a oferta e provocar uma guerra de preços com a Rússia pode colocar em risco novos projetos da estatal brasileira. O barril do Brent para maio fechou a sexta-feira cotado a US$ 45,27.

Um cenário de preços a cerca de US$ 45 o barril não é confortável para nenhuma empresa que produza e venda petróleo, mas é suficiente para preservar a competitividade da produção da estatal, em especial no pré-sal. Abaixo disso, a Petrobras pode começar a ter dificuldades em novos projetos, embora ainda não haja nenhuma sinalização de que a commodity vá se manter no atual patamar ao longo dos próximos anos.

Hoje, o ponto de equilíbrio da produção da Petrobras está em US$ 16 o barril. Esse é o preço de equilíbrio econômico de sua produção. Isso significa, segundo a estatal, que um barril a US$ 16 é suficiente para pagar 100% dos custos e despesas do campo - incluindo o descomissionamento, custos operacionais, afretamento das plataformas, mais a manutenção do ativo e pagamento de participações governamentais.

Isso para os projetos já existentes, que contam com infraestrutura instalada. Para os próximos anos, o ponto de equilíbrio prospectivo da empresa é de US$ 25 o barril, sendo US$ 21 no pré-sal.

Para o desenvolvimento de novos projetos no pré-sal, contudo, a história é outra. Nesses casos, a Petrobras trabalha com preço de equilíbrio entre US$ 35 e US$ 45 para tirar do zero o projeto. Ou seja, ao cair para US$ 45 o barril, a cotação do petróleo se aproxima do “piso” necessário para viabilizar um novo projeto no pré-sal. Nova queda dos preços, para patamares ainda mais baixos, pode comprometer novos investimentos.

“As companhias de petróleo estão preocupadas com preço a US$ 40 o barril”, afirmou ao Valor, recentemente, uma fonte da administração da Petrobras.

O chefe de pesquisa da área de exploração e produção de petróleo da Wood Mackenzie na América Latina, Marcelo de Assis, afirma que, com um preço do petróleo a US$ 45 o barril, fica mais difícil, para qualquer petroleira comprometida com a remuneração de seus acionistas, tomar novas decisões de investimentos.

“Se esse cenário de preços se estender, a tendência é que haja cortes nos investimentos em exploração e atrasos nas tomadas de decisão de investimentos”, disse Assis.

O BB Investimentos destacou, em relatório, que o ponto de equilíbrio da Petrobras “dá margem considerável para atuar por algum tempo com preços de petróleo reduzidos”. O banco estima que, com preço acima de US$ 40 o barril, a maioria dos projetos no pré-sal segue viável para que a companhia tenha retorno acima do seu custo de capital. Quanto ao impacto sobre a geração de caixa, contudo, a cada US$ 5 de variação no preço do petróleo, espera-se variação de US$ 3,2 bilhões no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) anual da companhia.

Assis acredita que o petróleo a US$ 45 pode trazer riscos ao plano de desinvestimento da empresa, já que a precificação dos ativos de refino está ligada ao cenário de preços do petróleo e derivados. Para o longo prazo, a projeção de preços ainda estava na casa dos US$ 60 o barril na semana passada.

 

Fonte: Valor Econômico -09/03

 

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