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Gerar energia pelo bagaço de cana de açúcar: seria o futuro?

03 de Março de 2020

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Atualmente existe no Brasil uma grande preocupação sobre à questão da geração de energia. O petróleo está caro e as hidrelétricas, por vezes, não são suficientes e precisam diminuir a produção durante a seca. Por isso, empresas estão sendo forçadas a buscar outras formas de geração de energia e, nesse sentido, o uso do bagaço de cana de açúcar parece ser uma ótima opção.

O bagaço da cana de açúcar é sustentável, renovável e ecologicamente correto, tanto que é considerado por muitos como a “ITAIPU do campo”, em razão do grande volume de bagaço que pode ser utilizado na geração de eletricidade afim de contribuir com o abastecimento elétrico do país.

Já faz certo tempo que a biomassa da cana de açúcar faz parte da matriz energética brasileira.

Segundo o pesquisador Marcos Djun Barbosa Watanabe, do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), que integra o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), essa fonte já contribui com cerca de 7% de toda a matriz de energia elétrica do país em termos de potência outorgada - e pode contribuir ainda mais.

Para Watanabe, essa geração elétrica a partir da cana de açúcar é estratégica para o Brasil, principalmente durante os meses secos na região Centro-Sul, que é a área com maior consumo de eletricidade no país.

“Esse momento de baixa disponibilidade de água obriga as usinas hidrelétricas a reduzirem sua geração, mas é justamente o período em que ocorre a safra da cana-de-açúcar na região Centro-Sul. Assim a biomassa da cana de açúcar desempenha papel fundamental na geração de energia, fornecendo eletricidade em um momento crítico do sistema elétrico brasileiro”, explica.

Por outro lado, Octavio Antonio Valsechi, professor do Departamento de Tecnologia Agroindustrial do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de São Carlos (SP), explica que as usinas já são pequenas centrais energéticas que estão interligadas na rede, sendo essa uma importante vantagem.

“Isso diminui muito o custo da geração de energia, principalmente quando comparamos com uma fazenda eólica que está no interior do Nordeste e que necessita de toda uma infraestrutura de transmissão de energia”.

Para Valsechi a energia do bagaço da cana de açúcar é extremamente importante para o futuro da geração elétrica (principalmente na região centro-oeste e sudeste) e, por isso, jamais pode ser desprezada.

Principais vantagens da geração

Existem muitas vantagens associadas à geração de energia a partir do bagaço e da palha da cana-de-açúcar. Veja uma lista elaborada tanto pelo pesquisador da CTBE/CNPEM quanto pelo professor especializado da UFSCAR:

Ajuda a poupar os reservatórios de hidrelétricas devido à possibilidade de suprimento de energia em períodos secos;

Essa forma de bioeletricidade é mais facilmente despachável, ou seja, há mais controle no momento da geração;

Menores emissões de gases de efeito estufa, principalmente quando comparada aos combustíveis fósseis. “Quando comparada às fontes fósseis como o gás natural, a eletricidade produzida a partir da biomassa de cana de açúcar emite cerca de 7 vezes menos gases de efeito estufa para a atmosfera”, salienta Watanabe.

Alta geração de empregos diretos;

Menores perdas e redução dos custos associados à transmissão de energia elétrica. “Comparado às outras formas, estes custos são mais baixos para a biomassa de cana de açúcar”, comenta Valsechi.

Como a energia é gerada a partir da biomassa da cana-de-açúcar?

Watanabe explica que após ser colhida no campo, a cana-de-açúcar é levada para as usinas, onde passa pelo processo de moagem. “Nesse processo a cana é prensada na moenda da usina, onde é obtido de um lado o caldo e, do outro lado, o bagaço, representado pelo resíduo fibroso da cana”.

Esse bagaço, que pode estar ou não misturado com palha de cana-de-açúcar adicional trazida do campo, é levado até a caldeira da usina, que é o equipamento onde ocorre a combustão desse material.

O vapor gerado dentro dessas caldeiras é então direcionado para uma turbina. Nessa turbina, o vapor consegue movimentar as pás do rotor que irão gerar energia mecânica, a qual, por sua vez, é convertida em energia elétrica em um gerador acoplado ao eixo da turbina. Essa energia elétrica é finalmente lançada na rede de distribuição elétrica.

Como visto, a geração de energia elétrica a partir do bagaço de cana de açúcar é um processo bastante simples. Porém, Valsechi explica que muitas unidades industriais ainda têm caldeiras e incineradoras de bagaço que não apresentam a mesma eficiência – em quantidade e qualidade - que caldeiras mais modernas, inviabilizando essa geração.

Por isso, para o professor da Ufscar, para que essa” ITAIPU” que está no campo seja de fato utilizada, é preciso que exista uma política pública séria no sentido de substituição das caldeiras mais antigas por modelos mais modernos e eficientes.

“As caldeiras antigas eram menores pela não necessidade da produção de bagaço – que não era desejado pois ocupava muito espaço nos pátios das usinas - mas hoje em dia o bagaço da cana de açúcar tem elevado valor agregado, podendo custar o mesmo ou até mais que 1 tonelada de cana de açúcar”, explica o professor. Por essas razões, a modernização das plantas geradoras de energia é fundamental e contribuirá com a geração de energia a partir desta importante matéria-prima para o país.

 

Fonte: Assessoria Agrishow – 01-03

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