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G-7 buscará medidas para evitar recessão e reduzir tensões comerciais

23 de Agosto de 2019

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O encontro de cúpula dos países do G-7, de sábado a segunda-feira em Biarritz, na França, poderá ser um dos mais complicados, tendo como pano de fundo o que fazer contra uma nova recessão mundial e diminuir tensões comerciais e geopolíticas entre eles.

O presidente francês, Emmanuel Macron, que neste ano recebe o grupo, espera arrancar promessas de estímulos à economia. Outros europeus buscam compromisso de atenuação das ameaças na área comercial, já que temem ser a próxima vítima de ações unilaterais do presidente americano Donald Trump.

O G-7 é formado por EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá. Foi criado em 1975, quando o então presidente francês, Valéry Giscard D’Estaing, convidou as outras seis nações mais ricas do mundo para um encontro informal no Castelo de Rambouillet — antiga residência real — para tentarem uma resposta à crise econômica provocada pelo choque do petróleo. Em 1977, a União Europeia (UE) passou a participar das discussões. Em 1998, foi a vez de a Rússia integrar o clube por razões geopolíticas, mas está suspensa desde 2014 por causa da anexação da Crimeia.

 O G-7 chegou a representar 70% do PIB mundial nos anos 70, mas hoje sua fatia fica em torno de 40%. Estão fora do grupo a China, segunda maior economia mundial; a Índia, a sétima maior, e também o Brasil, na nona posição e com PIB maior que o Canadá. O G-20, que apareceu no rastro da crise de 2008/2009 e inclui os principais emergentes, é hoje o real diretório econômico do planeta.

É inegável, em todo caso, a influência dos países do G-7. O tema central escolhido pelos franceses é a luta contra as desigualdades, tanto entre países como entre homens e mulheres.

A França prevê um forte debate e um “denominador comum” sobre as questões mais urgentes na política externa, envolvendo passos adotados pelo Irã para reduzir a implementação de certos aspectos do acordo nuclear acertado com as grandes potências. Além disso, estão na agenda desafios trazidos pela situação na Líbia, Síria, Coreia do Norte e Venezuela.

As atenções estarão voltadas, sobretudo, para o que os chefes de Estado e de governo falarão sobre medidas concretas para sustentar a fragilizada economia mundial. Também nos EUA, onde o presidente Donald Trump recebeu em 2017 uma economia em plena saúde e expansão robusta, aumenta o risco de recessão.

A pressão será forte para a Alemanha adotar programas de estímulo ambiciosos, por ser um dos poucos grandes países com superávit nas contas públicas. Berlim continuam a resistir, preferindo pequenos passos para não perder o controle dos gastos.

Recessão

Com a Alemanha na direção da recessão, a premiê Angela Merkel sinaliza que dará ênfase no G-7 a uma atenuação dos conflitos comerciais entre EUA e China, já que esse é considerado hoje o principal fator da desaceleração econômica global, com aumento das incertezas e retração de investimentos. A UE diz esperar que a cúpula permita discussão sobre “possíveis maneiras de amenizar as atuais tensões comerciais”.

Os europeus se consideram a primeira vítima da guerra comercial, e isso antes mesmo de serem alvo de Trump, o que pode acontecer em meados de novembro. Será quando a Casa Branca decidirá se impõe sobretaxa a carros importados da Europa, o que pode levar a retaliações por parte dos europeus.

O problema é que Trump, já sem credibilidade, agora começa a dizer que Deus o escolheu para liderar uma guerra comercial contra a China. No ano passado, no G-7 no Canadá, Trump retirou o apoio americano ao comunicado final quando já estava no avião e atacou duramente o chefe de governo canadense, Justin Trudeau, enquanto seu assessor de comércio, Peter Navarro, prometia a Trudeau  “um lugar especial no inferno”.

Desta vez, a conversa poderá ser menos cordial entre Trump e Macron depois que a França criou uma taxa sobre os gigantes digitais, como Google, Apple, Facebook e Amazon. Adotada em julho, a taxa é de 3% sobre o faturamento realizado no país. Os EUA julgam a medida discriminatória e prometem retaliação.

Outro populista, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, faz sua estreia no G-7 trazendo a ameaça de saída da UE sem um acordo, se necessário — um cenário que poderá causar ainda mais turbulências na economia europeia.

Valor Econômico - 22/08/2019

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