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Exportador americano minimiza fala de Trump

05 de Outubro de 2018

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O presidente do Conselho Nacional de Comércio Exterior dos EUA (NFTC, que reúne exportadores americanos), Rufus Yerxa, minimizou as críticas do presidente Donald Trump às relações comerciais com o Brasil. Na visão de Rufus, o mundo todo está interligado e é preciso encontrar maneiras de resolver nossas diferenças, em vez de intensificá-las.

Trump afirmou nesta semana que o Brasil, ao lado de outros países como a Índia, trata as empresas americanas injustamente. Vinda do republicano, a declaração foi rapidamente interpretada como uma sinalização de futura pressão para arrancar concessões bilaterais.

De seu lado, Yerxa repetiu discurso semelhante ao do USTR (Escritório de Representação Comercial dos Estados Unidos), detalhado pelo Valor em reportagem nesta semana. Segundo ele, algumas empresas americanas reclamam de "certas coisas" no Brasil, já que devido a barreiras, "as tarifas são provavelmente muito altas" - críticas semelhantes envolvem outros países. Ele afirmou, porém, estar seguro de "que o Brasil também tem muitas queixas de barreiras nos EUA".

Para o executivo, essas são questões que os dois países podem resolver via negociação.

São questões que o Brasil e os EUA "podem tratar por negociação". Ele sugeriu que se olhe "o lado bom", porque em negociação os parceiros colocam na mesa seus problemas.

Yerxa deixou claro, porém, que a negociação entre os EUA e o Brasil não foi discutida pela associação dos exportadores americanos e que ela não tem opinião firmada sobre a questão.

"Vocês estão tentando me arrastar na discussão porque o presidente [Trump] mencionou o Brasil, mas é algo que a NFTC não está pensando agora", disse a jornalistas brasileiros em Genebra.

Em debate na Organização Mundial do Comércio (OMC), Rufus Yerxa falou que "ninguém sabe aonde vai nos levar" a política comercial unilateral de Trump. Para ele, os EUA tentam resolver problemas da economia do século XXI com instrumentos do século XIX, como o aumento de tarifas de importação.

"Isso só vai gerar uma alta significativa de incertezas e de tensões através do mundo", afirmou. "Os custos aumentam nos EUA, as exportações americanas são atingidas, e outros países fazem acordos comerciais", disse.

Aluisio de Lima-Campos, professor de Comércio Internacional na American University (Washington), observou que Trump não fez ameaça ao Brasil. "Ele mencionou o Brasil e outros, mas bateu muito mais forte na Europa", disse.

"Não há motivos para se preocupar no momento. Mas quem sabe pode ser uma porta de entrada para se falar de um acordo comercial EUA-Mercosul."

A embaixada do Brasil em Washington publicou levantamento atualizado de desafios e oportunidades para exportações brasileiras nos EUA.

Os maiores desafios estão na área agrícola, a começar por programas de apoio à produção americana, que blindam os produtores contra turbulências do mercado e geram excedentes que depois vão concorrer com produtos brasileiros tanto nos EUA como em terceiros mercados.

Prevalecem quotas tarifárias, picos tarifários e barreiras técnicas atingindo produtos como açúcar, algodão, camarão, carnes bovina e de frango, etanol, milho, soja, tabaco, frutas. A embaixada menciona outros desafios para exportações brasileiras de alumínio, siderúrgicos, têxteis e confecções, por exemplo.

Ela destaca dificuldades chamadas de caráter horizontal, como programas de apoio à produção e à exportação, defesa comercial, compras governamentais, restrições ao investimento estrangeiro.

Também na OMC, o ex-negociador comercial-chefe do governo de Barack Obama, Michael Froman, apontou o risco de o unilateralismo comercial ser copiado por outros países, com consequências perniciosas para a economia mundial.

Para Froman, hoje vice-chairman do Mastercard, ainda é cedo para dizer o que vai prevalecer na cena internacional: se maior integração da economia mundial ou mais nacionalismo econômico. Mas observou que as dificuldades são evidentes para reformar o sistema multilateral baseado em regras.

"É preciso ter em mente que se trata de populismo, protecionismo - e não é apenas nos EUA. Partidos marginais estão no centro da vida política, incluindo nas economias emergentes."

Valor Econômico - 05/10/18

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