29 de Abril de 2019
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Na safra passada, encerrada em 31 de março, a região Centro-Sul atingiu recorde na produção de etanol, com 30,9 bilhões de litros, sendo 21,8 bilhões de litros de hidratado e 9,1 bilhões de anidro. A alta no volume processado de etanol hidratado foi de 39%, em comparação a 15,6 bilhões de litros no ano anterior. Os dados da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) revelam que 65% da oferta de cana foi destinada à produção de biocombustível.
O cenário para 2019/2020 não é muito diferente. A Unica estima que 62% da oferta de cana será dirigida para o etanol, que mantém competitividade frente à gasolina.
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) considera que o etanol hidratado tem que ter preço limite de 70% da gasolina nos postos para ser considerado vantajoso. Em 2018, a média Brasil foi da ordem de 66%, com gasolina a R$ 4,40 por litro e etanol R$ 2,60/litro.
"Este mercado só existe quando houver essa diferença de preço, viabilizada por grande oferta de produto, que deve se manter este ano", prevê o diretor técnico da Unica, Antonio de Pádua Rodrigues, acreditando que os preços do petróleo ficarão firmes e que não haverá "loucura intervencionista do governo" na política de preços da gasolina e demais derivados.
Martinho Ono, CEO da SCA Trading, especializada no setor, diz que "o mercado deve continuar produzindo o máximo de etanol para atender à demanda interna. "O açúcar continua com preços não remuneradores, perdendo para o etanol", diz. No ano passado, a demanda por combustíveis do Ciclo Otto recuou; neste ano é esperada recuperação do mercado.
Francis Vernon Queen, vice-presidente executivo para etanol, álcool e biodiesel da Raízen, concorda que a expectativa setor é que a tendência para 19/20 siga, pelo menos no início da safra, pela melhor remuneração do etanol.
Com demanda aquecida, os preços do produto dispararam nas primeiras semanas da atual safra, segundo indicador de mercado. O etanol hidratado subiu, em média, mais de 15% nas usinas paulistas. O anidro, mais de 4%. Na safra 2018/2019, o preço médio do etanol hidratado no Estado de São Paulo ficou em R$ 1,62/litro. O do anidro, R$ 1,79/litro.
Mesmo diante de estimativas de baixo crescimento do PIB este ano, o diretor da Região Brasil do Grupo Tereos, Jacyr Costa Filho, prevê aumento no consumo do etanol hidratado. Ele explica que, em momentos de retração econômica, aumenta a preferência do consumidor por produto de menor custo, como o hidratado.
Seguindo a tendência do etanol de cana, cresce também a produção brasileira de etanol de milho, que saiu de 85 milhões de litros em 2014/2015, para quase 800 milhões de litros na última safra. Para este ano, o produto deve atingir 1,2 bilhão de litros, contribuindo para uma matriz energética mais limpa e renovável.
O executivo da Raízen lembra que o RenovaBio, "fundamental para viabilizar a descarbonização dos transportes e da economia como um todo", entra vigor no final deste ano. O programa prevê atingir até 2028 participação de 18% de biocombustíveis na matriz energética, com oferta de 46,9 bilhões de litros de etanol.
Valor Econômico - 29/04/2019
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