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Etanol de segunda geração poderá ser economicamente viável a partir de 2025

28 de Setembro de 2017

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O etanol celulósico, obtido da palha e do bagaço da cana-de-açúcar e também conhecido como etanol de segunda geração (2G), poderá ser economicamente viável a partir de 2025 se forem transpostas as atuais barreiras agrícolas, industriais e tecnológicas para produzi-lo e se o setor sucroenergético brasileiro superar a estagnação em que se encontra.

A avaliação é do pesquisador Antonio Bonomi, coordenador da divisão de inteligência de processos do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), do Centro Nacional de Pesquisa em Engenharia e Materiais (CNPEM), e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN).

"Hoje claramente é mais interessante do ponto de vista econômico para as empresas do setor sucroenergético montar uma nova usina voltada à produção de etanol de primeira geração do que construir uma usina de etanol de segunda geração integrada a uma de primeira geração, por exemplo, porque o retorno do investimento é maior", comparou Bonomi.

"A tendência, contudo, é que em médio prazo - em 2025 - o custo de produção do etanol celulósico empate com o de primeira geração e a partir de 2030 o etanol de segunda geração seja mais barato do que o de primeira. Isso se forem superados os atuais obstáculos agrícolas, industriais e tecnológicos e se o setor sair da estagnação em que se encontra", ponderou.

Os biocombustíveis de segunda geração serão um dos temas discutidos no Brazilian BioEnergy Science and Technology Conference (BBEST) 2017, evento promovido pelo BIOEN, que ocorrerá entre os dias 17 e 19 de outubro, em Campos do Jordão.

De acordo com Bonomi, que coordena um projeto apoiado pela FAPESP voltado à valorização da cadeia produtiva descentralizada de biomassa para produção de biocombustíveis avançados, o volume de etanol de segunda geração produzido hoje no Brasil é muito baixo.

A capacidade de produção das duas usinas voltadas à produção de etanol de segunda geração existentes hoje - uma da Granbio, localizada em São Miguel dos Campos, em Alagoas, inaugurada em 2014, e a outra da Raízen, situada em Piracicaba, no interior de São Paulo, que entrou em operação no final de 2014 - é de pouco mais de 100 milhões de litros por ano. Entretanto, as duas usinas têm produzido menos da metade dessa capacidade, estima o pesquisador.

"As duas usinas têm produção descontínua e estão em fase de aprendizado de produção, utilizando equipamentos ainda pouco eficientes e processos que ainda apresentam problemas que estão sendo identificados para, pouco a pouco, serem resolvidos", avaliou.

O custo estimado de produção do etanol de segunda geração calculado pelos pesquisadores em julho de 2014 gira em torno de R$ 1,50 por litro, enquanto o custo de etanol de primeira geração é de, aproximadamente, R$ 1,15.

Até 2025, entretanto, o custo do etanol de segunda geração poderá cair para R$ 0,75 por litro, podendo chegar, até 2030, a R$ 0,52, calculou o pesquisador. Em parceria com colegas do CTBE, ele realizou um estudo, a pedido do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em que se projetou a evolução do custo de produção do etanol celulósico e a data em que a tecnologia se tornaria economicamente viável no Brasil.

"Ao custo de produção de R$ 0,52 por litro, o etanol de segunda geração seria competitivo mesmo se o preço internacional do barril de petróleo atingisse o mínimo de US$ 44 por litro", estimou o pesquisador.

Rotas tecnológicas

As duas usinas de etanol de segunda geração existentes no Brasil hoje adotaram diferentes rotas tecnológicas.

Enquanto a GranBio se baseou em uma rota tecnológica chamada stand alone - caracterizada por uma usina dedicada exclusivamente à produção de etanol de segunda geração, sem ser integrada a outra de primeira geração -, a Raízen (joint venture entre a Shell e a Cosan) optou por construir uma usina integrada.

Uma vantagem que o processo tecnológico adotado pela Raízen apresenta em relação à GranBio é a possibilidade de fermentar pelo menos o hidrolisado de celulose junto com a sacarose do caldo de cana para obter etanol de segunda geração, comparou Bonomi.

"Enquanto a GranBio tem uma tendência de transformar em etanol a mistura do hidrolisado de celulose com o hidrolisado de hemicelulose - ou seja, a combinação dos açúcares C6 [da fração celulósica] da glicose e das pentoses -, a tecnologia da Raízen tem mais um processo de fermentação do C6 junto com a sacarose, enquanto as pentoses podem ser fermentadas isoladamente na produção de etanol", disse o pesquisador.

As duas usinas, contudo, têm enfrentado desafios tecnológicos para produzir o etanol de segunda geração, principalmente na fase de pré-tratamento do material, apontou o pesquisador.

Em nota ao Broadcast - o serviço em tempo real do Grupo Estado - no início de junho, a GranBio admitiu ter mudado o cronograma de investimentos e metas de produção de etanol celulósico por conta de problemas tecnológicos relacionados ao pré-tratamento e pela crise econômica. Mas que espera ter, em 2019, um etanol de segunda geração competitivo como o fabricado a partir da cana.

Consultada pela Agência FAPESP, a Raízen respondeu em nota que um dos pontos-chave para o sucesso que tem obtido com a produção de etanol de segunda geração na usina Costa Pinto, em Piracicaba, é justamente a integração da planta de segunda geração à de primeira geração, que proporciona consideráveis benefícios logísticos.

"A companhia aposta nessa tecnologia disruptiva e acredita que os desafios tecnológicos já foram superados. No momento estamos buscando a confiabilidade mecânica dos equipamentos e um nível satisfatório de excelência da planta como um todo", disse a empresa em nota.

(Fonte: Agência Fapesp – 28/09/17)

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