16 de Abril de 2018
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Em mais um capítulo da guerra comercial com a China, o governo Donald Trump está avaliando a possibilidade de elevar o nível de etanol da gasolina norte-americana. É que o dragão asiático costumava importar dois bilhões de litros/ano do combustível produzido nos Estados Unidos da América (EUA), mas ampliou a taxação desse produto de 30% para 45%. Por isso, Donald Trump está tentando garantir outro mercado para os seus produtores. Indiretamente, porém, ele também pode beneficiar os produtores brasileiros. Afinal, ao elevar o consumo interno, os EUA podem reduzir a exportação de etanol para o Brasil, dando vez à produção local do biocombustível.
O que se comenta nos corredores da Casa Branca e no setor sucroalcooleiro é que o percentual de etanol permitido na gasolina dos EUA, que hoje é de 10%, pode passar para 15%, para que haja mais consumo de milho e etanol dentro do próprio território norte-americano. “A China criou restrições à soja e ao etanol norte-americano. Então, Trump quer ajudar o produtor norte-americano. A ideia é produzir menos soja para fazer mais milho, que é usado na produção do etanol. Afinal, nos Estados Unidos, esses produtos normalmente são feitos pelas mesmas pessoas e essa medida geraria um mercado adicional potencial de 70 milhões de toneladas de milho”, explicou o membro do Conselho Nacional de Políticas Energéticas (CNPE) Plínio Nastari.
O aumento, porém, não seria obrigatório, como no Brasil, que exige uma participação de 27% de álcool na gasolina nacional. “Nos EUA, não existe uma obrigação. O governo autoriza determinado nível e mistura de acordo com os critérios técnicos. Eles avaliam se a frota de automóveis suporta um teor mais elevado de etanol. E o que Trump pretende é estender essa autorização para 15%”, explicou Nastari, dizendo que a medida ainda pode ser temporária e, inicialmente, vigorar apenas neste ano.
A elevação da mistura ficará, então, a cargo do mercado. Porém, a expectativa é que os distribuidores de gasolina norte-americanos sejam receptivos à ideia. “A gasolina custa, hoje, no mercado de atacado, US$ 2,05/galão. Já o etanol é mais barato, US$ 1,48/galão. Então, espera-se que sejam adotados percentuais mais elevados de etanol, já que este combustível é mais competitivo”, argumentou o conselheiro do CNPE, dizendo que, caso se consolide, isso pode trazer boas perspectivas para o Brasil.
“Se toda a gasolina norte-americana tiver 15% de etanol, haverá um consumo adicional de 27 bilhões de litros, o que equivale a aproximadamente toda a produção anual de etanol combustível do Brasil. E, ao criar esse mercado adicional tão significativo, a medida vai absorver os excedentes norte-americanos”, explicou Nastari, lembrando que, hoje, parte desse excedente é exportado para o Brasil. Segundo o Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool (Sindaçúcar-PE), apesar de a produção brasileira ser suficiente para atender a demanda nacional, quase dois bilhões de litros do etanol norte-americano, que é mais poluente que o brasileiro por ser produzido com milho e não com cana-de-açúcar, têm sido exportados anualmente para o País, mesmo depois de o Governo Federal ter imposto cotas e taxas para o produto norte-americano. E a maior parte dessa carga chega pelos portos do Nordeste, como o de Suape, prejudicando a produção local.
“Essa exportação ocupa o espaço do etanol produzido no Nordeste. Então, a medida norte-americana é positiva, na medida em que diminui a concorrência, preservando também os empregos brasileiros”, avaliou o presidente do Sindaçúcar-PE, Renato Cunha. Ele disse até que, no auge do consumo norte-americano de etanol, a situação pode chegar a se inverter, fazendo com que o Brasil passe a exportar parte do seu excedente, que hoje gira em torno de um bilhão de litros/ano, para os Estados Unidos. “Com o Renovabio, nossa prioridade é crescer para atender o mercado brasileiro, mas estamos abertos à exportação se houver excedentes”, afirmou Cunha.
Fonte: Folha de Pernambuco - 14/04/2018
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