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Endividamento das usinas cresceu em 2018/19

13 de Novembro de 2019

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O longo período de preços baixos do açúcar e a menor quantidade de cana moída na safra passada (2018/19), encerrada em março, levou as usinas sucroalcooleiras a consumirem caixa ao longo da temporada, algo que não ocorria desde a safra 2014/15, e a registrarem o segundo maior patamar de endividamento da história, atrás apenas do nível do ciclo 2015/16. Diante do mau momento da commodity, as companhias em melhor situação financeira estão investindo em alternativas de receita que a biomassa da cana pode oferecer.

Levantamento do Itaú BBA baseado em balanços de 60 grupos sucroalcooleiros do Centro-Sul do Brasil, que processaram 71% da cana da região na temporada passada, mostra que o endividamento líquido total subiu 8,6% em 2017/18, para R$ 50,5 bilhões.

Numa safra em que o mercado de etanol mostrou reação e compensou, em parte, a dificuldade no mercado de açúcar, a receita líquida total das empresas incluídas no estudo ficou praticamente estável, em R$ 68,6 bilhões. Mas, como a maior parte dos custos do segmento é fixa, a menor oferta de cana dificultou a diluição de custos, o que derrubou o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) conjunto das empresas em 19%, para R$ 14,5 bilhões - pior patamar desde 2014/15. Sem uma operação para garantir uma geração de caixa adequada, o fluxo de caixa ficou negativo em R$ 915 milhões, após três safras de saldo positivo nessa frente.

O aumento do endividamento também refletiu o efeito da valorização do dólar ante o real sobre a parcela das dívidas em moeda estrangeira - o que já era esperado por várias companhias.

Nem todas as novas contratações de dívida, porém, foram apenas para garantir a manutenção das operações. Ainda que esta seja a realidade das empresas com maior fragilidade financeira, outro grupo, formado pelas 41 companhias que estão nos dois “pelotões” de melhor desempenho do segmento e que moeram 298 milhões de toneladas na safra passada, buscaram financiar investimentos para sair da dependência do açúcar.

 

“Cada vez mais empresas estão em busca de melhoria do seu ativo. Os principais focos de investimento são em cogeração de energia, aumento ou construção de novas destilarias e aquisição de canavial. Também há alguns investimentos anunciados, que não necessariamente apareceram nos números, em [usina flex de] etanol de milho e biogás”, disse Pedro Fernandes, diretor de agronegócios do Itaú BBA.

Nos cálculos do banco, desses 41 grupos em melhor situação financeira, 65% alocaram um montante de investimentos em bens de capital (Capex) acima de 90% da depreciação de seus ativos. Na safra anterior (2017/18), apenas 53% das companhias analisadas haviam feito tal alocação de investimentos em seus ativos. “Isso significa que dois terços das empresas em melhor situação estão tentando melhorar sua operação”, disse.

O volume nominal de investimento alocado por esses grupos “mais saudáveis” também demonstra tal expansão - houve alta de 17% na última safra, acrescentou. O Capex total da amostra de 60 grupos subiu apenas 3%, para R$ 10,7 bilhões, maior nível desde 2014/15.

Os aportes em projetos de cogeração de energia a partir do bagaço da cana aparecem com destaque. E não só por demandarem muito capital, mas também por oferecerem um retorno atraente, já que a receita tende a ser mais estável.

Mas ainda não são todas as empresas com alguma folga financeira que estão buscando otimizar seus ativos ou que sequer estão conseguindo reverter a depreciação destes. Do conjunto que envolve as 41 melhores empresas, 15% alocaram investimentos abaixo de 60% da depreciação, não conseguindo uma recuperação - mesma proporção observada na safra anterior. “Mas essas são histórias bem específicas”, observou.

A redução da dependência do açúcar no campo operacional também tem aparecido no perfil do endividamento das empresas. Dez anos atrás, metade da dívida do segmento estava atrelada ao dólar, já que as exportações da commodity geravam um “hedge” natural para as dívidas. Com o açúcar em baixa e um dólar que não compensa todas as perdas, as usinas passaram a buscar financiamentos em reais - atualmente, a parcela da dívida em dólar é inferior a 30%, observa Fernandes.

Fonte: Valor Econômico – 13/11/19

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