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Emissões de gases do efeito estufa no Brasil caem em 2017

22 de Novembro de 2018

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A emissão brasileira de gases do efeito estufa caíram 2,3% em 2017 em comparação com o ano anterior, segundo dados do Seeg (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), divulgados na manhã desta quarta (21), em São Paulo.

A queda foi puxada pela diminuição de 12% no desmatamento na Amazônia no ano passado, mas o aumento de 11% no desmatamento no cerrado impediu que a redução fosse maior. Além disso, quase todos os outros setores da economia tiveram aumento nas emissões em 2017, ano em que o Brasil começou a sair da recessão.

O total de gases emitidos pelo Brasil no ano passado foi de 2,07 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente —unidade de medida que soma adequadamente os valores de todos os tipos de gases emitidos— em 2017 contra 2,12 no ano anterior.

"Na prática as emissões estão paradas. Estamos patinando", diz Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas (projeto que estuda e produz informações sobre o uso do solo no Brasil) na ONG Observatório do Clima.

O pesquisador destaca que o Brasil hoje tem um volume de emissões próximo ao que foi registrado em 1990.

"Há duas maneiras de ler isso: se você está com as mesmas emissões de 1990, comparando a outros países em desenvolvimento, é um sucesso. Mas se você olhar para a evolução das emissões, tirando mudança de uso da terra, elas são crescentes", diz Azevedo. "E as nossas emissões durante todo esse período têm sido emissões per capita superiores às do mundo. A gente contribui para aumentar a média do mundo."

A agropecuária continua sendo a grande emissora brasileira de gases-estufa, com cerca de 70% delas. Desses, 46% se referem a mudanças do uso da terra (leia-se desmatamento) e os outros 24% são de emissões diretas dos rebanhos.

Além do menor desmatamento, a queda nas emissões do setor pode ser associada ao maior consumo de carne. Cirino Costa Junior, da ONG Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), que é parte do Observatório do Clima, diz que a redução relativa ao ano passado não pode ser vista como uma tendência de queda.

"Estamos vivendo um ciclo. Quando aumentamos os abates de animais, as emissões caem, e quando se diminuem os abates as emissões aumentam porque elas estão relacionadas à quantidade de animais que há no pasto", diz o especialista da Imaflora.

A pecuária sozinha representa 75% das emissões relacionadas ao agronegócio e cerca de 15% das emissões nacionais.

Em meio à queda das emissões relacionadas à mudança do uso da terra, os pesquisadores se mostram preocupados com o desmatamento no cerrado brasileiro. O bioma é quase duas vezes menor que a Amazônia, que em geral puxa as emissões de desmatamento, tem cerca de 50% de sua vegetação já perdida e taxas de desmate próximas às amazônicas.

Depois do agronegócio, o transporte e a indústria são os setores que mais contribuem para as emissões de gases-estufa. Todos os outros setores que fazem parte dos dados do Seeg apresentaram crescimento, o que, segundo os pesquisadores do Observatório do Clima, pode ser um reflexo do início da recuperação pós-recessão.

Segundo Azevedo, de acordo com os volumes de CO2 liberados desde 2010, é possível projetar que o Brasil chegue em 2020 próximo ao limite do cumprimento das metas de redução de emissões —que são parte da política nacional sobre mudança do clima. "Qualquer tendência de subida maior [nas emissões], principalmente na parte do desmatamento, vai estourar a meta."

O novo Seeg também conta com emissões detalhadas dos municípios de São Paulo, o que no futuro deve ser ampliado para o resto do país. A cidade de São Paulo lidera o estado em volume de emissões —impulsionada pelo setor de transportes. Em seguida vêm Paulínia, Cubatão e São José dos Campos, associados ao refino de petróleo.

A ideia é que, futuramente, a ferramenta possa ser usada para ajudar a tomada de decisão para diminuições locais de emissões.

Folha de S. Paulo - 22/11/2018

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