06 de Março de 2017
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O governo havia anunciado a pretensão de levar, nesta semana, o projeto de lei que altera as regras de venda de propriedades rurais a investidores estrangeiros à apreciação do plenário da Câmara dos Deputados. Entretanto, como a proposta vinha sendo conduzida diretamente pelo ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha — de licença médica e envolvido em depoimentos da Odebrecht na Operação Lava-Jato —, há possibilidades de que o plano seja adiado.
O tema polêmico, que preocupa ambientalistas e militares, voltou à tona desde que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, apresentou a mudança como uma das soluções para estancar a crise econômica e gerar empregos. Expectativa é de arrecadação com as terras somente em tributos fique entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões.
Escolhido para ser o relator do substitutivo ao PL 2.289/2007, que vai diretamente ao plenário já que há a aprovação de urgência para a matéria, o deputado Newton Cardoso Júnior (PMDB-MG) afirma que a proposta está nos ajustes finais e, assim que ficar pronta, será levada aos líderes partidários. Entre as restrições estão terras em áreas de fronteiras e em biomas com altos índices de preservação.
Favorável ao projeto, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, defende a adoção de restrições no caso das culturas de soja e milho, por exemplo. A preocupação é que fundos estrangeiros adquiriram parcela substancial da área destinada a essas culturas e, em determinado ano, em função de preços mais baixos no mercado internacional, decidam não plantar.
“Isso seria um caos. Não é proibir. Pode-se exigir uma produção anual ou que o produtor não pare de um ano para outro. Parece-me que quem é o dono da terra é o que menos importa. A terra é brasileira, está aqui, não vai embora, ninguém vai levar. O uso da terra é o que importa nesse negócio.”
Já o coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista, deputado Alessandro Molon (Rede-RJ), acredita que a proposta, além de colocar em risco a soberania nacional, também envolve uma questão de soberania alimentar. Para ele, em médio prazo, isso pode colocar em risco a produção de alimentos para a sociedade brasileira.
Molon também demonstra receio com o incentivo ao desmatamento e a devastação dos biomas brasileiros que a mudança na lei pode causar. De acordo com Molon, a aquisição de terras será usada para expandir a fronteira agrícola e isso será uma ameaça às áreas de preservação e proteção dos povos originários. “Com certeza, vai aumentar a pressão para que o Código Florestal seja ainda mais deformado. É um risco que não podemos correr.”
O coordenador de políticas públicas do Greenpeace Brasil, Márcio Astrini, concorda que a proposta traz riscos para a preservação do meio ambiente e proteção dos povos indígenas. “O Brasil tem problema fundiário muito grande, principalmente no Norte. O desconhecimento e o descontrole de quem são as terras causam disputas violentas entre índios e grileiros. Já não se consegue tomar conta dessas áreas, imagina com uma pressão extra? Esse tipo de prática vai aumentar o desmatamento e as mortes em conflitos na Amazônia e no cerrado”, prevê.
Em uma palestra no fim do mês passado, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, rechaçou a hipótese de o projeto atingir comunidades tradicionais. “Eventuais prejuízos, por exemplo, a quilombolas e comunidades indígenas, não existem porque essas são objeto de legislação específica. O fato de você ter comprando um investidor que não é cidadão brasileiro ou um grande investidor brasileiro, uma grande empresa de agronegócio brasileira ou estrangeira não é o que vai fazer diferença exatamente para o interesse das comunidades”, disse.
Procurados, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, não foi encontrado e o do Meio Ambiente, Sarney Filho, preferiu não se manifestar.
(Fonte: Estado de Minas – 6/3)
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