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Efeitos da greve dos caminhoneiros derrubam consumo de gasolina

20 de Dezembro de 2018

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O mercado de combustíveis sentiu os efeitos da greve dos caminhoneiros ocorrida em meados deste ano, em especial o da gasolina C comercializada nos postos. De acordo com estimativas da Associação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Lubrificantes, Logística e Conveniência (Plural), as vendas do produto devem fechar o ano com queda de 13,4%, em relação a 2017.

O cenário mais complicado para o mercado de gasolina levou a um crescimento expressivo das vendas do etanol hidratado este ano, que devem registrar alta de 42,2%, ante 2017. Ainda assim, o mercado total de combustíveis para veículos de ciclo otto (gasolina e etanol) deve recuar 3,5%, na mesma comparação, devido à maior participação da gasolina neste grupo. Já o mercado de diesel, mais aderente ao PIB, deve registrar um ligeiro aumento - de 1,4% - neste ano, em relação a 2017.

Segundo o presidente da Plural, Leonardo Gadotti, a greve dos caminhoneiros afetou o mercado brasileiro de gasolina por dois motivos. O primeiro foi a própria falta de suprimento dos produtos e o segundo, mais importante, o impacto na economia brasileira.

"Isso [impacto no mercado da gasolina] é claramente um reflexo não só da greve em si, mas da questão de crescimento econômico mesmo, de renda das famílias. As pessoas deixaram de usar o carro. No caso do diesel, o crescimento em relação ao ano passado ainda é pequeno, mas é em torno de 1,4%. O diesel tem uma correlação direta com o PIB. Se você observa um pequeno crescimento do PIB, isso já vai se projetando no consumo do diesel."

Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o mercado de gasolina C em 2017, de 44,150 bilhões de litros, cresceu 2,6% em relação ao ano anterior. Na mesma comparação, o mercado de etanol hidratado recuou 6,5%, para 13,642 bilhões de litros, e o de diesel cresceu 0,9%, totalizando 54,772 bilhões de litros.

 A Plural ainda não tem estimativas para o mercado de 2019, mas já faz planos para o próximo ano. Além de defender o fim do programa de subvenção ao diesel em 31 de dezembro, conforme previsto atualmente, a entidade vai priorizar a pauta da simplificação tributária no setor.

A bandeira da associação é reduzir o peso dos tributos federais e igualar os impostos estaduais, para não haver distorções entre as unidades da federação - o que favorece a sonegação fiscal. Este, aliás, será outro tema de combate da Plural em 2019.

Gadotti destacou que, de acordo com estudo feito pela FGV a pedido da entidade, perto de R$ 4,8 bilhões são sonegados por ano no mercado de combustíveis. Segundo ele, esse valor é a "ponta do iceberg". "Esse é o lado visível, que é aquele em que o sujeito emite uma nota fiscal, mas não paga o imposto. O lado em que nem se emite a nota fiscal, não conseguimos avaliar."

O presidente da Plural também manifestou preocupação com mudanças regulatórias e legais sem a devida análise prévia dos possíveis impactos para o setor. Segundo ele, novas regras para o segmento não podem ser "testadas" no mercado, por meio de resoluções. O executivo afirmou que, com estabilidade regulatória, regras claras e previsíveis, e a prática de preços de mercados, o Brasil deverá contar com investimentos privados entre R$ 12 bilhões e R$ 17 bilhões em melhorias de infraestrutura de importação e escoamento de combustíveis, dado que a demanda interna deverá crescer e a capacidade de refino está no limite.

"É importante deixar o mercado trabalhar. Vamos deixar de fazer 'puxadinho' no Brasil. Os governos que gostavam disso já se foram. Vamos fazer coisas sérias, permanentes, de longo prazo", disse Gadotti.

Questionado sobre a indicação do nome do almirante Bento Albuquerque para assumir o Ministério de Minas e Energia, o executivo admitiu não conhecer o indicado, mas que as primeiras impressões "são muito boas". Já a indicação de Roberto Castello Branco para a presidência da Petrobras foi elogiada.

"Foi uma ótima escolha. Não poderia ter sido melhor. O professor [Castello Branco] já teve experiência na Petrobras, no conselho [de administração], já esteve em outras grandes empresas também. Tem uma boa visão do mercado, uma agenda muito parecida com a nossa", afirmou Gadotti.

Valor Econômico - 20/12/2018

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