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Dúvidas e preocupações

12 de Abril de 2021

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Por Arnaldo Luiz Corrêa, Diretor da Archer Consulting

Extraído do Portal Archer Consulting– 09/04

O mercado futuro de açúcar em NY se reabilitou vigorosamente das quedas nas últimas semanas e acabou encerrando a sexta-feira cotado a 15.52 centavos de dólar por libra-peso no vencimento maio de 2021, uma apreciação de 81 pontos que correspondem a quase 18 dólares por tonelada. O que pode estar por trás dessa recuperação?

As conversas dão conta de uma retomada econômica extraordinária por parte da China, Índia e Estados Unidos que devem impulsionar o resto do globo e trazer uma aceleração no consumo de commodities. E aqui, fala-se cada vez mais da preocupação por parte de algumas usinas de que a quebra na produção de cana será muito maior do que se previra anteriormente além de uma ATR aquém do esperado.

Com o Centro-Sul praticamente fixado para a safra que se inicia, algumas usinas temem não ter cana de qualidade suficiente para atender a demanda de ATR que seus compromissos assumidos em volumes de açúcar exigem. Será? Pode até ser. Vamos ter que acompanhar mais de perto o desenrolar dessas situações. A mim me parece que o mercado futuro de açúcar se assemelha ao repique do gato morto. Ou seja, uma recuperação temporária do mercado após uma queda acentuada, mas que deve continuar a cair.

Podemos estar redondamente enganados, mas é difícil ver uma recuperação no Brasil tão animadora quanto os números de outros países. Com lockdown continuado (no estado de SP, estado mais rico, devemos permanecer fechados até 22 de abril), a redução de consumo de gasolina, a estagnação na venda de veículos novos e a menor mobilidade que vai continuar ainda por muito tempo, levam-nos a crer que vai sobrar produto.

A redução (esperada) na produção pode, então, ter menor impacto, pois vai coincidir com um consumo menor. Podem atrapalhar o suporte de preços do açúcar os arroubos do presidente da república que vez por outra reclama do preço do gás dando clara indicação de que ele quer botar o dedo na Petrobras. Não é difícil vislumbrar que a paridade de preços internacionais – praticada pela Petrobras desde que Pedro Parente assumiu a estatal – está sempre a um fio.

Depois de ver que num mercado invertido, como foi o do açúcar no início do ano, o recebedor do físico na expiração do contrato de março ainda tem navios a nomear, é difícil permanecer construtivo. Os fundos sustentaram o mercado de alta além do razoável em termos de fundamentos, os spreads enfraqueceram refletindo o sentimento dos operadores do físico e o petróleo se esforça bravamente para se manter acima dos 60 dólares por tonelada. A própria Agência Americana de Energia estima que o preço médio do petróleo WTI para este ano é de 57 dólares por barril e 54.75 dólares por barril para 2022.

Do lado positivo (em termos de preços), reduzimos a estimativa de produção para a safra 21/22 no Centro-Sul. Aplicamos uma redução de 4.35% na produção de cana em relação à safra 20/21 (era 3.75% na previsão anterior), totalizando 574.5 milhões de toneladas de cana (antes 578.0 milhões), sendo destinadas para a produção de 35,056 milhões de toneladas de açúcar, (redução de 3,254 milhões em relação à safra anterior) e 24,735 bilhões de litros (cana) mais 3,2 bilhões de litros (milho); 2,06 bilhões de litros abaixo da produção do ano passado.

Segundo levantamento da NovaCana com 15 consultorias e tradings do mercado sucroalcooleiro, a média das estimativas para a produção de cana está em 584.61 milhões de toneladas e a produção de açúcar em 34.58 milhões de toneladas.

 

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