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Dólar favorece margem das usinas com açúcar

06 de Março de 2020

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Para aquela que vinha caminhando para ser “a safra do etanol” para as usinas de cana, com produção recorde do biocombustível e preços nas alturas, as vendas de açúcar neste último trimestre da temporada 2019/20 podem acabar turbinando os resultados financeiros da temporada. As empresas que tinham espaço físico e fôlego financeiro para estocar o adoçante e não haviam travado a taxa de câmbio estão agora obtendo preços melhores em reais com a exportação da commodity.

O principal motivo para o ambiente mais otimista neste trimestre está na escalada do dólar, que não para de renovar recordes. Ainda que os preços do açúcar estejam recuando nos últimos dias na bolsa de Nova York, os preços tiveram um salto relevante desde o início do ano e, combinados com o movimento do câmbio, vêm oferecendo uma oportunidade há muitos anos não vista para aquelas que ainda tinham açúcar sem o preço travado no mercado.

“Ninguém contava com essa desvalorização cambial neste trimestre, que tem remunerado substancialmente o açúcar, enquanto a maior parte dos insumos, importados, foram comprados antes, com câmbio menor”, observou Haroldo Torres, da consultoria Pecege.

Considerando os preços e volumes do açúcar bruto exportado entre janeiro e fevereiro, reportados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério da Economia, assim como as taxas médias de câmbio, as cotações em reais do açúcar embarcado neste bimestre foram 16% maiores do que um ano antes, superando R$ 1.200 por tonelada.

Mas ainda há muito mais açúcar a ser exportado neste mês, indicando que as receitas com o adoçante tendem a ganhar mais corpo nos balanços deste trimestre. O line-up da agência Williams Brazil mostrava, até 4 de março, que havia 986 mil toneladas a serem embarcadas em 23 navios programados para partir até a terceira semana, enquanto um ano antes o volume era de apenas 377 mil toneladas.

Quem está preferindo garantir suas vendas no mercado interno também não está para trás. O preço médio do açúcar cristal está 11% maior no acumulado deste trimestre do que um ano antes, a R$ 76,34 a saca de 50 quilos, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

Dentre as três companhias listadas na bolsa, todas já vinham carregando açúcar para este momento da safra, mas com preços de venda fixados. A Raízen Energia iniciou o trimestre com 16% mais açúcar em seus estoques do que um ano antes, ou quase 1,4 milhão de toneladas. A São Martinho também carregou mais produtos em estoque para este trimestre, reservando um terço de toda sua produção nesta safra - somando açúcar e etanol, equivalentes a Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) - para vender até março.

Já a Biosev, controlada da Louis Dreyfus Company (LDC), começou janeiro com um volume praticamente igual de açúcar do que um ano antes, em 343 mil toneladas. Porém, a companhia, assim como a Raízen, tem atuação importante em revenda e trading de açúcar, atividade que pode lhes garantir receitas extras neste período.

O aproveitamento de preços melhores pode enfim garantir alguma margem positiva para os negócios de açúcar, que até o 3º trimestre da safra registravam prejuízos operacionais para a média das usinas do Centro-Sul, de acordo com estudo recente do Pecege. Nos três primeiros trimestres, o custo de produção médio de açúcar VHP (bruto) ficou em R$ 1.274,66 a tonelada, alta de 0,51% ante a safra anterior, enquanto as vendas líquidas do produto estavam em R$ 968,14 a tonelada.

Torres, do Pecege, explica que os custos não devem subir neste último trimestre, dado que a maior parte dos insumos já foi adquirida antes. E, mesmo até o terceiro trimestre, os custos de produção da média das usinas já vinham sendo amortecidos pelo aumento da moagem de cana, o que diluiu os custos unitários do segmento.

A recuperação do negócio de açúcar ainda não deve ofuscar os resultados com etanol neste trimestre, já que os preços historicamente elevados do biocombustível podem garantir mais receita mesmo para usinas que não carregaram mais produto nesta entressafra. O preço médio do etanol hidratado pago às usinas de São Paulo de janeiro até o fim de fevereiro estava 23% acima do mesmo período de um ano atrás, de acordo com dados do Cepea, enquanto o do anidro estava 24% maior.

 

Fonte: Valor Econômico - 06/03

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