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Crescimento de casos de Covid-19 é 7 vezes mais acelerado no interior que em BH

05 de Maio de 2020

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Após crescimento de casos em Belo Horizonte assim que o coronavírus chegou em Minas Gerais, o que se percebe nas últimas semanas é ritmo acelerado de novos infectados no interior do Estado. Quinze dias após o primeiro registro da Covid-19 na capital, o que se deu em 16 de março, 163 pessoas estavam infectadas em BH. No restante do Estado, nesse mesmo período, eram 68 registros.

Passados 30 dias desses recortes, ou seja 45 dias depois do primeiro registro em BH e em Minas Gerais, mudanças de postura em relação ao isolamento social fizeram com que a doença, antes concentrada na maior cidade de Minas, chegasse ao interior, onde o número de notificações cresceu sete vezes mais do que na capital.

Em BH, 45 dias depois da confirmação do primeiro caso de coronavírus, 576 pessoas tinham a confirmação de estarem com Covid-19, um aumento de 253% em relação aos 15 primeiros dias. Enquanto isso, os demais municípios de Minas registravam 826 pessoas infectadas 45 dias depois do primeiro caso de Covid-19 no Estado, o que se deu em 9 de março em Divinópolis, alta de 1.739% em comparação com o mesmo período em na capital.

Na semana passada, o número de casos dos 34 municípios da região metropolitana de Belo Horizonte foi ultrapassado pela soma das outras regiões do interior de Minas Gerais, reforçando a interiorização do coronavírus no Estado.

De acordo com o boletim divulgado nesta segunda-feira pela Secretaria de Estado de Saúde Minas Gerais, Belo Horizonte já teve 845 pessoas infectadas pelo coronavírus, incluindo as 20 mortas. O total representa 36% dos casos do Estado. Vale ressaltar que a capital tem 11,98% da população de Minas Gerais, ou seja, ainda tem mais casos se consideradas as respectivas populações.

Nas previsões da Secretaria de Estado de Saúde, essa “interiorização” da pandemia já era esperada. “Isso se faz devido a algum grau de circulação do vírus em Minas. Mesmo com o isolamento, essa circulação do vírus se mantém. Nós orientamos a redução do transporte intermunicipal já com esse objetivo”, explicou o secretário de Saúde, Carlos Eduardo Amaral.

Ele também explica que o Estado já começou a regionalizar o tratamento da Covid-19 conforme a necessidade de cada localidade. Segundo Carlos Eduardo, o ideal seria que cada regional de Minas tivesse seu pico de casos em momentos diferentes.  “Adotamos medidas de regionalização da coordenação da emergência com objetivo de tratar os casos de cada região e saber quais medidas serão mais bem adotadas para um tratamento mais independente em cada local”, informou. O órgão estima que haja um pico de casos da Covid-19 em 6 de junho. 

Quarentena é mesmo eficaz?

As medidas de isolamento social são, de fato, aliadas no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus. Para o professor Gilvan Guedes, do Departamento de Demografia e Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que analisa os reflexos da interiorização dos casos da Covid-19, a quarentena foi eficiente num primeiro momento, o que garantiu achatamento na curva de notificações.

Ele explica que em observação das curvas de crescimento das notificações dos casos do coronavírus, a partir de uma escala logarítmica, é possível ver que essa mudança não é linear. Isso quer dizer que a partir do dia 23 de março houve uma mudança de um crescimento exponencial para um mais lento de casos da enfermidade.

“O isolamento social funciona, ele tem mudado o achatamento da curva, e, caso o não tivéssemos feito, a gente estaria vendo uma situação muito pior. É importante destacar que relaxar esse distanciamento social de forma perigosa pode voltar a nos colocar em uma trajetória bastante acelerada, tanto de óbitos quanto de casos, que é justamente o que não queremos em função de o sistema de saúde dar conta de absorver esses casos”, disse.  

Interior em alerta

Desde o último dia 24, a prefeitura de Divinópolis, na região Centro-Oeste do Estado, regulamentou, por meio de decreto, a reabertura parcial das atividades econômicas na cidade. O município foi o primeiro do Estado a notificar caso do novo coronavírus, no dia 8 de março, e o caso foi confirmado no boletim do dia seguinte. De lá para cá, houve afrouxamentos e endurecimento das medidas de isolamento social.

O mais recente decreto em vigor autoriza o funcionamento de atividades essenciais com restrições o dia 27 de abril, ainda não impactaram em aumento de casos de Covid-19 na cidade, mas já causam preocupação. “Com queda do isolamento ficamos bastante preocupados, porque sabemos que vai haver um reflexo de aumento de casos”, disse o secretário de Saúde, Amarildo Sousa.

Segundo ele, a cidade, que já notificou 78 casos de Covid-19, sendo um óbito, tem 48% dos 135 leitos de UTI ocupados por pacientes com coronavírus. Para tentar evitar um boom de casos, a prefeitura faz plantão 24 horas para fiscalizar irregularidades e, a partir desta segunda (4), mudou horários dos ônibus coletivos, que estão operando em horário especial e com reforço de veículos em alguns deles.  

Sul de Minas e Zona da Mata 

Na contramão da flexibilização da abertura do comércio, Extrema, no Sul de Minas, tem em vigor decreto que impõe toque de recolher. Das 18h às 6h, a circulação na cidade só não é restrita a serviços de entrega em domicílio e de pessoas que precisam comprar medicamentos. As medidas são válidas até o dia 12 deste mês.

A cidade tem 40 casos confirmados de coronavírus segundo o último boletim da SES e um óbito. A Secretaria de Saúde do município, porém, confirma 42 casos, sendo três mortes, conforme a última publicação oficial. Questionado, o órgão não se pronunciou sobre o assunto até a publicação desta matéria.

Outra cidade que grita por socorro no enfrentamento da Covid-19 é Juiz de Fora, na Zona da Mata. Com 84% leitos de UTI ocupados, o prefeito Antônio Almas já avisou que não vai afrouxar nenhum decreto de reabertura econômica. “Nós temos um número muito pequeno de reserva hoje frente a essa sinalização que foi dada pela curva de casos suspeitos”, alertou o chefe do Executivo municipal, pelas redes sociais, neste fim de semana.

 De acordo o secretário adjunto de saúde de Juiz de Fora, Clorivaldo Rocha Correa, na última semana, houve um aumento no número de casos em Juiz de Fora,  que pode ser justificado, em parte, pela saída maior de pessoas às ruas para saque do auxílio emergencial do governo federal. Ele alerta que o pico da pandemia na cidade acontecerá neste mês de maio.

“Todos os pacientes que precisaram de internação na cidade foram atendidos, e essa situação só foi possível graças ao isolamento social. Precisamos que os municípios menores também se sensibilizem para diminuir a circulação do vírus. Ninguém está proibido de sair de casa, mas é para sair o mínimo possível”, disse Clorivaldo Rocha Correa.

Para auxiliar as pessoas que não têm como mais garantir o sustento em tempos de pandemia, a prefeitura realiza até um drive-thru solidário, em que passa arrecadando as doações de porta em porta.

Conforme o secretário de Saúde de Minas, Carlos Eduardo, o aumento de casos no interior e em regiões fronteiriças com outros Estados, como o Sul de Minas, que faz divisa com São Paulo, não cresceu. “Relatamos, inclusive, uma redução no atendimento de pacientes nessas cidades de Minas vindos de outros Estados”, disse.

 

Fonte: O Tempo – 5/05

 

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