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Controle da poluição estimulou avanço de carros elétricos

10 de Julho de 2017

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O aperto na legislação dos países ricos contra a emissão de poluentes está por trás do avanço da indústria de carros elétricos e de decisões como a da sueca Volvo, que anunciou que vai parar de fabricar veículos movidos apenas a combustível a partir de 2019.

Na Europa, por exemplo, o limite para monóxido de carbono caiu 82% de 1993 a 2014 e um novo aperto está previsto a partir de 2020.

Essa redução nas emissões inviabilizará ainda mais a circulação de modelos a combustão de gerações passadas.

A França passou neste mês a proibir que veículos produzidos até 1996 – portanto, mais poluentes– circulem em Paris das 8h às 20h. Ônibus e caminhões fabricados antes de 2001 também já haviam sido banidos, atitude que é repetida por outras metrópoles.

Nos EUA, o governo banca US$ 7.500 na compra de carros que não poluem. Estados como a Califórnia ainda oferecem subsídios de US$ 2.500 para carros elétricos e US$ 1.500 para veículos híbridos. Na França, a ajuda pode chegar a cerca de US$ 14 mil.

Essa combinação de leis mais dura contra poluentes e incentivos para carros elétricos explica por que a decisão da Volvo (ainda que surpreendente) não seria descolada da realidade do mercado.

"Nossos clientes querem, cada vez mais, carros elétricos e híbridos –e vamos oferecê-los", disse Hakan Samuelsson, CEO da montadora.

Também nesta semana, o ministro de Meio Ambiente da França, Nicolas Hulot, disse que carros movidos a gasolina ou diesel não serão mais vendidos naquele país a partir de 2040. Na Alemanha, isso vai ocorrer ainda antes, em 2030, segundo lei aprovada no ano passado.

Baterias

Ao mesmo tempo em que as ruas ficaram menos tolerantes com a fumaça, houve forte investimento no desenvolvimento de baterias de íon de lítio para veículos, que ficaram mais baratas e potentes.

O custo delas, que representa até 50% do valor do carro elétrico, caiu a menos da metade em uma década.

"Esperamos que em 2030 o preço do kWh gerado pelas baterias caia para US$ 120, cerca de um terço do que é hoje", diz Colin McKerracher, da consultoria Bloomberg New Energy Finance.

Além disso, com a expectativa de um mercado de milhões de veículos elétricos a caminho, há novas tecnologias de recarga emergindo.

Na França, a Qualcomm testa uma estrada capaz de recarregar veículos em alta velocidade, por indução. "A vantagem desse sistema é permitir que os elétricos tenham baterias menores, sem comprometer a autonomia", diz Bill Von Novak, engenheiro-chefe da Qualcomm.

O avanço dos carros elétricos, que hoje representam cerca de 1% das vendas globais, representa a maior guinada tecnológica no setor desde 1912. Naquele ano foi produzido o primeiro Cadillac Modelo 30, com um sistema de partida elétrica, aposentando as manivelas dos primeiros calhambeques e tornando veículos com motores a combustão protagonistas pelos 105 anos seguintes.

Novidades

Ainda 2017, a Nissan estreará a segunda geração do Leaf, movido a baterias, com cerca de 400 quilômetros de autonomia, contra 160 quilômetros em 2010.

Nas próximas semanas, também chegam ao mercado o Chevrolet Bolt, um hatchback elétrico e uma autonomia similar, e o Modelo 3, da Tesla, que custará US$ 35 mil.

Só para comparar, em 2003, o Tesla Roadster, primeiro modelo elétrico de série da marca, custava cerca de US$ 120 mil.

Brasil

Em alta na Europa, nos EUA, na China e no Japão, por enquanto carros elétricos ainda são raros no Brasil, país sem histórico de incentivo para veículos deste tipo.

"Durante algum tempo, carros elétricos precisarão de subsídios para serem viáveis na comparação com modelos movidos a petróleo", diz Carlos Tavares, presidente mundial da Peugeot-Citroën.

Diferentemente de países como China e Índia, que incentivam a tecnologia mais limpa, por aqui isso nunca foi uma preocupação.

Mesmo com apoio de montadoras como BMW, Nissan e Porsche e de empresas como CPFL e Itaipu Binacional, o primeiro posto de recarga público só foi instalado no fim de 2015, na rodovia Anhanguera, em Jundiaí (São Paulo).

Na França –que possui território comparável ao de Minas Gerais–, há 32,5 mil pontos instalados, segundo o site chargemap.com.

Um atalho que pode colocar o Brasil em linha com outros países é o programa Rota 2030, novo regime automotivo que fixará metas para o setor e passa a valer a partir do ano que vem.

O Rota 2030 dará mais benefícios para quem tiver mais eficiência energética.

"Isso certamente favorecerá o desenvolvimento de elétricos e híbridos no país", disse Luiz Rezende, presidente da Volvo Cars Brasil e vice-presidente da Abeifa (associação de importadoras de veículos).

Apesar dos incentivos, a transição para o fim do carro a combustão promete ser longa. A previsão é que em 2050 quase 4 de cada 10 carros no país ainda sejam movidos a gasolina, etanol ou diesel

(Fonte: Folha de S.Paulo - 08/07/17)

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