19 de Dezembro de 2016
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No cargo há seis meses, Pedro Parente diz que se a redução de preços dos combustíveis nas refinarias não chega ao consumidor, não é um problema da Petrobras, mas de outros órgãos, que devem fiscalizar. E garante que controlar a inflação não é missão da companhia. Parente também se diz a favor de mudança na regra de conteúdo local para equipamentos do setor petrolífero, de modo que a indústria ganhe competitividade ao longo do tempo, sem reserva de mercado, e resume: “Por que a Petrobras tem de pagar pela ineficiência?”.
Com a nova política de preços de combustíveis, a Petrobras vai reajustar seus preços sempre que o valor do petróleo subir no exterior?
O que a sociedade precisa entender é que nós reagimos a um fato externo. Nós não criamos esse fato. Quando você vê que outras commodities sobem de preço, como soja e trigo, produtos como macarrão e pão sobem. Não temos alternativa, não é uma questão de escolha da empresa. O produto com o qual ela trabalha subiu de preço, ela tem de reconhecer a subida de preço. O produto com o qual trabalha cai de preço, ela tem de reconhecer essa queda. Se o preço do petróleo subir, a gente tem de reagir a esse evento, que é o aumento do preço da commodity, sim. Se sobe, sobe; se desce, desce.
Mas é possível manter essa variação mensal? O Brasil é diferente dos EUA, pois lá o preço cai na bomba e aqui não ocorre isso…
A gente fixa preço na refinaria. A gente não fixa preço para o consumidor. É uma política que já provou que quando cai, cai. Já fizemos isso.
Como isso vai ser percebido pelo consumidor, se a queda não chega até ele?
Aí tem de se buscar os instrumentos previstos legalmente para lidar com eventuais situações em que não existe uma concorrência perfeita. Não é a Petrobras que pode cuidar disso. O que me preocupa e me causa um pouco de incômodo é achar que a gente teria o poder de resolver essa situação. Não temos esse poder. Ele é atribuído, no marco legal brasileiro, a instituições que têm de olhar essa questão. Não é a Petrobras.
Mas, no mercado, diz-se que a BR não estaria repassando a queda. Procede?
A BR tem suas instâncias de governança, que a gente respeita. A BR Distribuidora também sofre os mesmos impactos de custo que as demais distribuidoras quando o etanol sobe de preço. Ela tem de misturar o etanol. Não estou justificando, nem concordando ou discordando, porque não sei o que ela fez.
O presidente Michel Temer está preocupado com o efeito dessa política na inflação?
Ele nunca me falou nada sobre isso.
O senhor mantém conversas periódicas com o presidente?
Periódica é uma palavra um pouco forte. Uma vez a cada 15 dias, ou a cada três semanas.
A Petrobras se preocupa com a inflação?
Não. Se você olhar as missões e as responsabilidades legais da Petrobras, não está o controle da inflação.
Quais são as variáveis que compõem a política de preços?
A gente tem de olhar o preço do combustível em reais, o preço lá fora, a taxa de câmbio, a margem e os impostos. E essa margem tem de levar em conta que, entre um aumento e outro, há uma volatilidade de preço. E tem o tema do market-share, que é importante.
Qual será o volume de investimento para este ano?
A previsão de investimentos para 2016 era de cerca de US$ 19 bilhões, e devemos executar este ano cerca de US$ 14 bilhões. Vai ficar menor por causa de atrasos de produção. Houve atrasos em plataformas.
Na avaliação da Petrobras, qual seria o percentual de conteúdo local ideal?
Uma boa política de conteúdo local tem de ser uma política que emancipe os fornecedores locais. Ou seja, que dê a eles a condição de competir em igualdade com fornecedores de qualquer parte do mundo. Isso a gente consegue em equipamentos para poços, nos chamados equipamentos submarinos, mas nós não temos condições de fazer para cascos, porque ninguém consegue ganhar dos asiáticos.
Mas que mudanças a Petrobras defende?
Você não pode ter uma política de conteúdo local com percentuais crescentes para uma determinada indústria, porque isso é o contrário de emancipar. Você está criando mecanismos de acomodação para as empresas, quando a gente precisa buscar produtividade. A Petrobras é a favor de uma política de conteúdo local e tem poder de escala muito importante para ajudar nisso. Mas que seja uma política que não tenha os problemas da política atual, que é muito problemática. Hoje, você tem um edital que tem conteúdo local item a item. E isso quase direciona para quem você tem de encomendar.
O ideal seria ter um conteúdo local geral?
Acho que uma coisa no meio-termo pode funcionar, desde que seja um percentual decrescente. Em vez de fazer linha a linha, faz por grupos de equipamentos. Por hipótese, começar com 55%, daqui a três anos cai para 50%, daqui a mais três anos cai a 45%, até acabar . Porque se o percentual for crescente, está se criando reserva de mercado. E quando é que reserva de mercado funcionou no Brasil, ou em qualquer lugar do mundo? Você gera ineficiência. Por que a Petrobras e seus acionistas têm de pagar por ineficiências? Não concordo e não vou concordar.
Como estão as conversas com a Sete Brasil?
Nós tentamos conversar com eles. Quisemos colocar mediador e arbitragem, e eles não aceitaram. Fazer o quê? O caminho de uma conversa para entendimento, eles preferiram não seguir. No presente momento, as coisas estão suspensas.
Mas a Petrobras não vai precisar de algumas dessas sondas, pelo menos as que estão quase prontas?
Temos, na prática, liberado sondas. A Petrobras não se nega a olhar, mas dizer que a gente está precisando de sondas, como se pensou no passado, naquele programa megalomaníaco de sondas (28), não é o caso.
Dentro da política de desinvestimento, como está o processo de venda da Braskem?
Temos um acordo de acionistas que precisa ser bem trabalhado para fazer uma venda que valorize o nosso ativo. Temos direitos, apesar de sermos minoritários, que são importantes. Esse acordo de acionistas não se transfere automaticamente para o comprador, o que diminui o valor. Nós temos que trabalhar. Só vamos vender de maneira a dar o valor correto ao nosso ativo. Nós temos de conversar com os sócios, e vocês sabem que o sócio (a Odebrecht) tem passado por momentos bastante difíceis, não apenas sob o ponto de vista de toda a discussão ligada à Lava-Jato, mas também de natureza financeira.
E como está a busca de sócios para as refinarias?
É de interesse do país que o setor de refino possa ter parcerias, e da Petrobras também. Não é bom que um setor tão relevante da cadeia de óleo e gás esteja quase 100% na mão de uma única companhia. Porque, quando essa companhia vai mal, o setor todo vai mal. A discussão do modelo não está pronta.
O projeto das refinarias Premium pode voltar?
Pode voltar, mas não conosco de sócios.
O valor de mercado da Petrobras se recuperou. Para o investidor, a crise foi superada?
Temos de trabalhar para gerar o maior valor possível para nossos acionistas, sendo que o principal acionista é a sociedade brasileira. Não trabalho mirando o preço da ação. O preço da ação é consequência do trabalho que a gente faz. O trabalho de recuperação de credibilidade leva tempo. É uma sucessão de promessas feitas e cumpridas que garante o retorno da credibilidade. Temos tido uma ação coerente com o discurso.
Mas a economia mundial poderia ajudar?
Temos um plano de ação, e a crise tem de ficar de fora. Temos de trabalhar esse plano de ação. Não posso me abater nem me preocupar com a crise. É preciso ter foco e disciplina de execução. O mais difícil não é botar um plano de pé, e sim executar o plano numa empresa com mais de 70 mil funcionários.
(Fonte: O Globo – 18/12)
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