06 de Junho de 2017
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Hoje o mercado total de querosene de aviação no Brasil é em torno de 6,7 milhões de metros cúbicos e as tecnologias existentes permitem a mistura com renovável em até 50%, com uma alta concentração de consumo em menos de 30 postos de abastecimento (aeroportos).
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), atualmente 65 companhias aéreas operam no Brasil. Já de acordo com dados disponibilizados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), até fevereiro de 2017 foram vendidos pelas distribuidoras 1.105.154 metros cúbicos de querosene de aviação (derivada de petróleo). A venda total do ano de 2016 foi de 6.764.746 metros cúbicos.
Adicionalmente, a Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO), na sua 39ª Assembleia Geral, alinhada com as resoluções da COP-21, aprovou em outubro de 2016 o CORSIA (Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation), que entrará em vigor em 2020, obrigando a indústria de aviação civil internacional dos países signatários a neutralizar ou compensar suas emissões de CO2 acima da linha de crescimento neutro de carbono, tendo como referência o mesmo ano da efetividade.
Pedro Scorza, diretor de Biocombustíveis para Aviação da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), explica que o bioquerosene no Brasil é tecnicamente uma realidade. "Já existe uma planta certificada para produção de bioquerosene em Brotas (SP), que exporta para Europa, e outras plantas industriais (biodiesel, etanol ou químicas) que podem, com menores adaptações, se tornar produtoras de bioquerosene." Entretanto, ainda não há viabilidade econômica.
"De um lado, não existem incentivos à produção, pois a carga tributária no bioquerosene é maior que a do querosene de origem fóssil, além da não valoração das positivas externalidades econômicas e sociais. De outro lado, a paridade do custo final do bioquerosene com o combustível de origem fóssil é condição para viabilizar sua utilização pelas companhias aéreas nacionais e internacionais, devido ao seu grande impacto nas linhas de custo e competitividade do negócio."
Estritamente do ponto de vista técnico, a produção de bioquerosene já ocorre e está inclusive certificada. "O Brasil é um país promissor neste sentido e internacionalmente conhecido pela sua grande experiência no uso de biomassa, como o etanol de cana-de-açúcar, o óleo de soja para o biodiesel e o eucalipto para a polpa de papel”, ", explica o engenheiro de Desenvolvimento de Produtos da Embraer, Marcelo Gonçalves.
Por causa destes fatores, ele acredita que o país pode liderar o processo de substituição dos combustíveis fósseis na aviação por biocombustíveis. Todavia, ainda não há produção em escala suficiente para tornar o produto economicamente atrativo. Com relação à matéria-prima necessária, o Brasil tem o suficiente para atender a demanda dos próximos anos.
Pedro Scorza comenta que o País tem posição privilegiada em relação aos demais para se tornar líder na produção de bioquerosene. "Há condições de disponibilidade de terra agriculturável, clima e água, tradição na produção agrícola e duas indústrias de biocombustíveis bastante consolidadas (biodiesel e etanol).
O mercado de bioquerosene brasileiro, se comparado aos volumes que já processamos hoje de biodiesel e etanol, não apresenta desafio, sendo uma fração do que já se produz e, proporcionalmente, na necessidade de matérias-primas.
Além disto, as diversas tecnologias (paths) que hoje levam ao bioquerosene permitem o uso de matérias-primas não tradicionais, como os resíduos municipais sólidos (lixo urbano) e alternativas como culturas perenes para energia (floresta), elencando um extenso leque de potenciais que podem ser desenvolvidas a médio e longo prazo."
Pedro Scorza aponta que, além proporcionar o cumprimento das obrigações existentes com o CORSIA e a contribuição ao NDC nacional, outras vantagens são o não o uso do bioquerosene e, consequentemente, não dependência de uma única commodity (como o petróleo), as garantias de segurança energética e as diferentes formas de precificação do custo com combustíveis.
"A médio e longo prazo, com a possível ascensão do valor do barril de petróleo e os constantes ganhos de eficiência na produção de matéria-prima, chegaremos a um ponto de inflexão, onde o combustível renovável retirará a pressão de custos das empresas aéreas”, afirma Sorza."
(Fonte: Canal Jornal da Bioenergia – 05/06/17)
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